Doutor em Comunicação Digital pela USP, o professor acadêmico Luli Radfahrer afirma que o investimento de tecnologia em um negócio pode cair de R$ 100 mil para R$ 2 mil com a adoção de ferramentas online (a chamada computação em nuvem). Radfahrer, que assina uma coluna semanal no caderno Tec, da Folha, escreveu um livro para ensinar como isso pode ser feito, a ?Enciclopédia da Nuvem? (Ed. Campus).
Na obra, o autor reúne e explica resumidamente 550 ferramentas, de cem áreas diferentes, que podem eliminar custos e favorecer processos burocráticos, administrativos, de criação, de atendimento, de marketing e de recursos humanos, entre outros. E, como as bases de dados não ficam na rede interna da empresa, a segurança seria maior e o suporte técnico, mais simples. Conheça as ideias ? e as dicas ? do especialista.
Pergunta - Como o senhor identificou essa demanda?
Luli Radfahrer - Hoje estamos na quarta era da internet. Nos anos 60, a internet funcionava por códigos, para fins militares. Em 1992, surgiu o modelo ?www? e a internet discada. Depois veio a banda larga, a internet ?sem taxímetro?, e as redes sociais. Hoje, estamos quarta etapa, uma era condomínios fechados.
Pergunta - Quais são esses condomínios?
Radfahrer - Há alguns. Skype, Facebook, LinkedIn... Num mundo de condomínios fechados, fica mais difícil conhecer as novas áreas. O empreendedor muitas vezes sabe do que precisa, mas não sabe como fazer.
Pergunta - Alguns serviços são pagos. Quando vale investir?
Radfahrer - Eu não recomendo o custo zero, mas o custo baixo, que economiza tempo e trabalho. Um exemplo: um template (modelo de página na internet) gratuito pode tomar muito tempo para ser adaptado. Por US$ 20, você obtém uma opção melhor preparada.
Pergunta - Foram 550 ferramentas selecionadas, mas o senhor descartou mais que o dobro disso. Por quê?
Radfahrer - Avaliei mais de 1.700 opções. Algumas eram muito caras ou muito instáveis. A ideia principal do livro é abrir os horizontes do empreendedor. Para muita gente, é mais fácil manusear uma obra física.
Pergunta - As alternativas em nuvem são mesmo seguras?
Radfahrer - É muito mais fácil um PC ou um celular ser hackeado do que o Google. No início do comércio eletrônico, havia muito medo de que os cartões de crédito fossem hackeados. Mas sabemos que o risco é muito maior no restaurante.
Pergunta - Como a computação em nuvem deixa o empreendedorismo mais acessível?
Radfahrer - Hoje, o empreendedor não precisa contratar tanta gente nem comprar tanta máquina. Um investimento de R$ 100 mil pode sair por R$ 2 mil. Serviços de freelances, ferramentas gratuitas de e-commerce, terceirização, tudo isso reduz custos.
Pergunta - Um plano de negócios continua sendo importante?
Radfahrer - É essencial. Hoje, o mercado é tão dinâmico que uma empresa pode quebrar por dar certo. Ou seja, não conseguir atender à demanda que o próprio negócio provocou. Quase quebrar por causa da demanda é mais ou menos o que aconteceu com o YouTube, que precisou ser vendido para o Google.
Pergunta - Qual seria a próxima evolução da nuvem?
Radfahrer - Pensemos no reconhecimento de voz. Fisicamente, possibilitar isso em cada aparelho que temos em casa ou no trabalho tomaria muito processamento. Na nuvem, isso seria feito de um jeito centralizado. É a internet das coisas: carros que andam sozinhos, cafeteira que avisa quando falta café. São tecnologias que já existem e permitem esse exercício de futurologia, porque podem ser potencializadas pela nuvem.