Às vésperas da renovação de um acordo trabalhista que fechou a maioria das concessionárias de veículos em dois domingos por mês, há cerca de 50 ações na Justiça pedindo a anulação desse calendário especial.
A maior parte dos pedidos vem dos três grupos que já conseguiram na Justiça autorização para funcionar todos os finais de semana.
Eles representam cerca de 60 (ou menos de 10%) das quase 700 lojas da capital paulista e região do ABC. Os outros 90% são obrigados a fechar dois domingos por acordo firmado com o Sindicato dos Comerciários de São Paulo, que representa os vendedores.
O grupo que conseguiu autorização para abrir nas quatro cidades foi a Volkswagen com bandeira como Nissan.
O fechamento aos domingos é uma reivindicação antiga do sindicato dos comerciários para todos os segmentos do comércio, e não apenas para as lojas de veículos.
No ano passado, os trabalhadores conseguiram um acordo parcial -para fechar dois domingos- com o sindicato que representa as concessionárias em São Paulo.
Rio de Janeiro e Porto Alegre adotaram medida semelhante neste ano.
A Folha apurou que as concessionárias de menor porte apoiam o fechamento parcial proposto pelos trabalhadores porque o impacto de manter as revendedoras abertas -e pagar hora extra aos domingos- é maior em suas folhas de pagamento.
Com isso, elas lucrariam proporcionalmente menos que os grandes grupos.
CONCORRÊNCIA
Já estes, por sua vez, defendem a abertura porque temem a concorrência com o mercado de veículos usados e o impacto do fechamento no resultado financeiro.
O Sinal, por exemplo, se queixa da concorrência desleal com as lojas de carros usados, que podem abrir todos os domingos.
"Temos várias lojas perto de shoppings de usados. Se fecho domingo e ele abre, o shopping leva o meu cliente. Se todo mundo fechar, você recupera isso durante a semana ", diz Marco Penna, diretor do grupo Sinal.
Cerca de 40% da receita da rede é composta por usados. Penna defende a abertura total ou o fechamento por completo, por acreditar que a alternância de domingos confunde os consumidores.
As lojas que defendem a abertura irrestrita querem aproveitar o aquecimento de vendas provocado pela redução no IPI dos veículos.
Dados da Fenabrave (federação das concessionárias) mostraram que em agosto as vendas de veículos comerciais leves cresceram 31,5% em relação ao mesmo mês do ano passado, atingindo 405 mil unidades vendidas.
Algumas concessionárias que passaram a fechar nos domingos designados afirmam, entretanto, não ter sofrido impacto no volume de vendas.
Com 15 lojas, o grupo Amazonas teve aumento de 20% nas vendas nos sábados e nas segundas, o que compensou a perda no domingo fechado. O volume mensal subiu 4% mesmo antes do corte do IPI.
"O cliente não deixa de comprar porque não abre no domingo. É um benefício, porque reduz custos sem afetar as vendas", diz Fernando Franco, gerente da Viamar, uma das maiores revendedoras da GM no país.
Segundo os empresários, o novo calendário reduziu o movimento também nos domingos abertos.