Às vezes, uma má notícia pode se transformar em oportunidade para mudar de vida. Afinal, muitos empreendedores decidiram trocar a vida de empregado pela de empresário depois de receber um aviso da chefia de que seus serviços não eram mais necessários para a empresa à qual dedicaram muitos anos.
Em vez de buscarem um novo emprego, eles preferiram utilizar o dinheiro da rescisão para mudar de perfil - e se deram bem. Chamada pelos especialistas de "empreendedorismo de fundo de garantia", a opção por lançar-se em uma nova atividade nessas circunstâncias requer mais reflexão do que dinheiro em mãos, como explica o professor João Bonomo, do Ibmec-MG.
"Qualquer um pode empreender, mas é preciso ser cuidadoso e fazer essa escolha pautado em objetivos sólidos. Agir por impulso é um traço comum aqueles que fracassaram ao tentar", observa. O acadêmico pondera que muitas pessoas conseguem se realizar pessoal e profissionalmente trabalhando como contratadas.
"Não é demérito ser funcionário", enfatiza Bonomo. Quando a decisão de virar empreendedor evolui da emoção pura e simples para uma convicção baseada na análise objetiva das questões em jogo, é hora de pensar no lado prático. O primeiro passo é decidir o nicho de atuação da empresa própria.
Segundo o professor do Ibmec, as motivações para essa escolha costuma ser as mais variadas possíveis. Há empreendedores que escolhem um segmento porque simpatizam com ele; outros, porque têm habilidades técnicas ligadas a um nicho específico; e também aqueles que decidem baseados em insights.
"Não importa como surge a inspiração e sim se o setor escolhido é, de alguma maneira, próximo do empreendedor. Ter afinidade é essencial", explica Bonomo. O passo seguinte é transformar o desejo em ação.
O professor de empreendedorismo afirma que é preciso comunicar a decisão à família, amigos e círculo de relacionamento profissional, e avaliar o seu impacto. Como consequência natural, deve-se começar imediatamente a criar uma rede de contatos no segmento-alvo de atuação.
"Fale com potenciais concorrentes, fornecedores, consumidores. Veja quais são as reais necessidades do mercado e tente adequar o seu projeto de empresa a isso. Quanto mais informações, melhor. E, claro, esteja aberto para ouvir críticas", diz. Bonono enfatiza ainda que o novo empreendedor não deve "colocar a mão no bolso antes de estar munido de informações suficientes para se sentir seguro".
Habilidades técnicas específicas requeridas pelo nicho em pauta, segundo ele, podem ser conseguidas por meio de cursos ou supridas com apoio de consultorias especializadas.
Desafios da vida de empreendedor
O candidato a empresário certamente ouvirá que "empreendedor não tem horário definido, fim de semana, feriado e férias". Ao menos no começo, costuma ser assim. Ele também deve levar em conta que fatores externos podem indicar que o melhor momento de abrir o próprio negócio ainda não chegou.
"Falta de linhas de financiamento direcionadas para a área de atuação são um indício disso", afirma o professor. Entretanto, o ambiente macroeconômico compromete menos o caminho da nova empresa do que questões internas como a falta de planejamento, incapacidade de contratar de forma adequada e outros problemas de ordem administrativa.
"É a gestão do dia a dia que vai dizer se a empresa nasceu para ficar", afirma João Bonomo.