Os confrontos entre traficantes e a polícia do Rio de Janeiro ameaçam mais o turismo estrangeiro do que o brasileiro, diante da repercussão internacional negativa dos atentados na região norte da cidade, na Vila Cruzeiro e no Complexo do Alemão.
As imagens das trocas de tiros e de veículos incendiados, exibidas pela rede de TV americana CNN com base na cobertura da Rede Record, devem afastar mais o turista estrangeiro, segundo Leonel Rossi Júnior, diretor de relações internacionais da Abav (Associação Brasileira de Agências de Viagens).
- O estrangeiro é mais medroso que o brasileiro, que infelizmente já está acostumado com esse tipo de confronto [...]. Além disso, o real valorizado já tem afastado o turista que vê o Brasil como um destino caro, na comparação com outros destinos. No entanto, não acredito que haverá uma queda muito forte no setor.
O desinteresse do estrangeiro no Brasil já é refletido na comparação entre os gastos dos turistas brasileiros e estrangeiros. Entre janeiro e outubro deste ano, os gastos dos brasileiros no exterior aumentaram 51% em relação a igual período do ano passado - somente devido à valorização do real perante o dólar -, enquanto que o dos estrangeiros no Brasil, no mesmo período, aumentou só 10%.
Levantamento feito pelo R7 com os principais hotéis cariocas, entre os quais o grupo Accor (responsável pelas redes Sofitel, Novotel, Mercure, Ibis e Formule 1) e Copacabana Palace, Éden Hotel aponta uma queda de 15% na procura por causa da onda de violência.
O Formule 1, que fica no Centro do Rio, por exemplo, sentiu uma queda de 20% na procura por quartos. De acordo com a atendente de reservas Fernanda Ramos, é comum o hotel estar lotado às sextas-feiras, já que a maioria dos hóspedes vem para a cidade a trabalho, ?mas hoje há um déficit de 20%?.
A unidade do Ibis, que fica ao lado do aeroporto Santos Dumont (zona central da cidade) também registrou diminuição na busca por hospedagem. Segundo a atendente do setor de reservas Bruna Boucinha, na última quinta-feira (25), houve cerca de 15 saídas antecipadas, ou seja, pessoas que passariam o final de semana na cidade, mas resolveram ir embora com medo da violência.
Em nota, o grupo Accor informou que ?houve um pequeno aumento no número de no-shows [pessoas que reservam quarto, mas não se apresentam no hotel]? e que ?a procura para a semana que vem está um pouco menor do que o normal?.
Para Rossi Júnior, a onda de ataques no Rio de Janeiro poderá forçar uma divulgação ainda maior da cidade, por meio de encartes e publicidade na mídia estrangeira, a fim de estimular o turismo carioca. Neste ano, somente a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) destinou cerca de R$ 120 milhões à divulgação do Brasil no exterior.
- Eu apostaria em um aumento de 20% ou 30% nos investimentos em mídia [...]. É uma repercussão ruim, mas prever o que irá acontecer é difícil. A tendência é que com a mobilização policial as coisas devam melhorar nos próximos dias.
Na comparação com a tragédia ocorrida no início do ano, em Angra dos Reis ? onde 52 pessoas morreram vítimas de deslizamentos causados pelas chuvas ? Rossi Júnior diz que os ataques geram uma maior preocupação da população do que os desastres naturais. Para ele, o turismo no litoral da capital carioca também pode ser prejudicado, caso os confrontos permaneçam.
- As pessoas que passam de carro pela avenida Brasil, a caminho do litoral, ficam assustadas. No entanto, eu não acredito que vá ocorrer um cancelamento em massa das reservas de Ano Novo, já que o Rio é o destino preferido dos estrangeiros quando vêm ao país [...]. Até lá as pessoas já esqueceram.