Dilma Rousseff e o presidente Vladimir Putin, da Rússia, anunciaram ontem acordos de cooperação em várias áreas ? da defesa à organização de mega eventos esportivos. Mas fracassaram em fechar o único acordo importante para o principal setor de exportação para a Rússia: carne. Três grandes estados produtores de carne ? Rio Grande do Sul, Paraná e Mato Grosso ? estão com suas vendas embargadas para o país desde junho do ano passado, por motivos sanitários. E todas as tentativas do governo de restabelecer o comércio falharam.
Dilma Rousseff não apenas confirmou a falta de acordo, como desautorizou o ministério da Agricultura. Quando jornalistas perguntaram por que o ministério anunciou o fim do embargo no dia 28 de novembro, depois de uma reunião em Moscou da qual participou o secretário de defesa agropecuária, Ênio Marques, Dilma respondeu.
? O ministério da Agricultura estava equivocado .
Mas a própria presidente errou ao garantir ? e frisar -- que o embargo aos três estados só se refere à carne suína. Na realidade, é um embargo geral: carne de boi, de porco e frango.
? O embargo dos três estados é de suino. Aqui não tem embargo de carne bovina. Por favor, não criem problema onde não tem. O embargo nos três estados é exclusivamente de carne suina e está no fim ? disse a presidente.
A expectativa era de que os russos oficializassem o fim do embargo durante a primeira visita oficial da presidente. Mas Putin nem tocou no assunto no único evento oficial diante da imprensa. Dilma, sentada ao lado de Putin, limitou-se a dizer:
? Expressei a expectativa pelo pronto restabelecimento do comércio de carne suína do nosso país e o fim do embargo aos três estados brasileiros
Anteontem à noite, o secretário de relações internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, já admitia a dificuldade em convencer os russos:
_ Nós fizemos tudo o que podíamos do lado técnico. Dependemos agora de negociações de alto nível ? disse.
Um dia antes de se encontrar com Putin, Dilma esteve com o primeiro-ministro Dimitri Medvedev e saiu animada, dizendo que ele disse que o assunto teria uma ?solução positiva?.
? Ele não me comunicou qual será a decisão final, mas considerou que os produtores brasileiros tomaram todas as medidas ? afirmou Dilma.
E ontem, pouco antes de Dilma se encontrar com Putin, o presidente-executivo da Associação Brasileira de Produtores e Exportadores de Carne Suína (Abipecs), Pedro de Camargo Neto , disse que ficaria ?surpreso? se o embargo não fosse suspenso.
Há dois problemas com os russos. Um é o embargo aos três estados. Outro é a nova exigência de um certificado de que a carne suína brasileira não tem ractamina ? um aditivo aceito nos Estados Unidos, mas proibido na Rússia e na União Européia (UE).
eeeeeeeeeeeeeDilma sobre vaca louca: ?Não há epidemia?
Dilma também reagiu a um problema potencialmente maior: o anúncio da China, Japão e da África do Sul de suspensão das importações de carne bovina do Brasil, depois da revelação recente de que um animal teve a doença da vaca louca em 2010.
? Vamos batalhar para esclarecer, porque é um caso muito localizado, sem característica de doença de infecção. Vamos esclarecer e torcer para que o resultado seja o melhor para o produtor brasileiro. A Rússia não tocou nesse assunto (vaca louca) ? garantiu.
Questionada sobre porque o governo levou tanto tempo para relatar o caso de uma vaca com a doença em 2010, ela disse:
_ Estamos olhando porque que houve tamanha demora. Ainda não tenho como dizer (se houve erro). A primeira informação que temos é a de que foram feitos vários exames, porque não havia uma caracterização precisa de que havia [a doença]. Está claro que é incipiente.
A presidente disse que não teme um ?efeito dominó?, ou seja, que outros países também decidam suspender, por precaução.
_ Não temo (efeito dominó). Vamos ter que ser muito transparentes e vamos fazer todo o esforço nesse sentido. Aí não é só uma questão do governo, parte da iniciativa dos produtores em cumprir os requisitos internacionais.
E frisou:
_ Não há epidemia. A informação técnica é que está absolutamente restrito a um episódio. É um episódio. É bom que a gente trate disso com muita seriedade porque senão criamos uma situação que não existe. No caso do Brasil é um episódio.
Para Pedro Camargo Neto, da Abiceps, a credibilidade do Brasil foi afetada com a demora em comunicar o caso, e o efeito dominó « já existe.
? Alguém tem que explicar direitinho o que aconteceu ? disse.
Mas ele disse que os 3 países que suspenderam as importações por conta da vaca louca são ?insignificantes.
? Nós exportamos meia dúzia de latas de carne para o o Japão ? ironizou lembrando que o Brasil passou 5 anos negociando a entrada de carne no mercado japonês.
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