Seduzidos pelas possibilidades de crédito fácil e rápido, muitos jovens e adolescentes já começam sua carreira universitária com dívidas. O resultado disto é que, pela falta de cautela na hora de comprar ou de uma educação financeira adquirida desde cedo, esses consumistas iniciantes acabam chegando ao mercado de trabalho inseridos nos programas de proteção ao crédito.
Uma pesquisa realizada pela Visa, com jovens estudantes na faixa etária de 13 a 18 anos divulgou como e onde estes costumam gastar seu dinheiro. No Brasil, esse estudo apontou que 83% dos jovens gastam tudo que têm no curto prazo e 76% gastam com as compras por impulso.
O estudo também mostrou que grande parte desta parcela se endivida bem cedo, ou seja, 20% dos entrevistados usam parte de seu dinheiro para pagar o que devem.
Entre jovens universitários teresinenses esta realidade não é diferente. As dívidas muitas vezes andam lado a lado com os pequenos consumistas, que se empolgam desde cedo com a ?liberdade financeira?.
Foi assim com a estudante de jornalismo, Míriam Sousa Silva que viu- se endividada logo no começo do estágio. ?Tudo aconteceu quando comecei a trabalhar, pois tudo que via queria comprar, na certeza de que ia pagar quando recebesse o primeiro salário.
Porém, este atrasou e não consegui quitar tudo que comprei. Depois disso não consegui mais ficar em dia com minhas contas?, ressalta a universitária.
Além de ter que quitar os gastos com livros, materiais para as aulas práticas, xerox, alimentação e transporte, Míriam Sousa também teve de pagar todas as contas acumuladas com roupas e assessórios para festas. ?A negociação foi a melhor forma que encontrei para sanar todas as minhas dívidas, que eram bem maiores no quesito roupas?, esclarece.
?Outro fator que também fez com que eu entrasse numa onda de dívidas foi o fato de emprestar meus créditos para conhecidos. As pessoas me pediam para comprar algo para si de mais urgente, porém sempre acabavam atrasando o pagamento e até esquecendo de quitar alguma coisa que já havia comprado?, acrescenta a estudante de Jornalismo.
Para Marília Rodrigues, estudante de Pedagogia, os maiores gastos sempre foram com as famosas xerox de começo de período. ?Sempre há aquele acúmulo de contas no final do mês e para mim as que mais pesam são as da universidade. Para se ter um ideia chego a gastar R$ 10,00 com xerox em um dia. Essa realidade é bem difícil para quem não trabalha?, conta.
Educação Financeira é sempre essencial
A educação financeira é um mecanismo que forma consumidores mais conscientes. Com o consumo consciente todos ganham, consumidores e capitalismo.
Portanto, quanto mais cedo o aprendizado, melhor. Evitar gastar mais do que se pode pagar numa sociedade apelativa ao consumo e que disponibiliza crédito com ações, quase irresponsáveis, exige controle e prudência.
Segundo Solimar Oliveira Lima, Professor do Departamento de Ciências Econômicas, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), tomar atitudes radicais é o melhor caminho para evitar o endividamento. "Na nossa sociedade comportamento que se guia em controle e prudência é eminentemente ação politica.
Radicalizar, seria o caminho mais seguro para o jovem evitar o endividamento é não aceitar a oferta de crédito", conclui.
Os famosos cartões universitários também devem ser utilizados da maneira mais correta. "Como é quase impossível não ter cartão, o recomendável é que se tenha apenas um, com rígido controle do limite e evitando-se parcelamento de dívidas", finaliza o economista.
Neste sentido, os pais e as escolas já podem contribuir com este aspecto. " Pais e escolas ajudam educando. Contudo, sobretudo a escola deve ter um papel mais crítico frente à realidade.
A escola deve procurar desmistificar o mercado, pois, a consciência construída nas ações é a de reproduzir o padrão desejado pelo mercado e o padrão da vez é o de consumidor consciente", esclarece Solimar Oliveira.
As escolas, especialmente as boas escolas particulares de Teresina, já são espaços de vanguarda no mercado da educação. "Certamente este tema é experiência vivida no contexto escolar ainda no ensino infantil e fundamental. É provável que tenha também chegado nas escolas públicas", conta o economista.
Dívidas de cartão continuam a liderar
De acordo com dados divulgados pelo Procon, o cartão de crédito registrou 169 reclamações de janeiro até o mês atual. Conforme Campelo Júnior, conciliador do Procon, grande parte dessas reclamações são cobranças indevidas e meios para negociação. "70% dessas pessoas querem negociar suas dívidas da melhor forma possível", confirma.
Para Míriam Sousa, livrar-se das dívidas do cartão foi bem difícil. "Tinha cerca de 5 cartões de crédito, depois que vi que estava "nadando em dívidas", tive que cancelá-los e agora uso somente um cartão regional. Essa foi uma das estratégias utilizadas para me equilibrar novamente", declara.
Assim como a estudante, muitos acumulam dívidas enormes com o cartão, pois pagam só o mínimo ou esquecem de pagar as faturas. "É necessário que não se quite só o mínimo, pois este seria um financiamento de juros sobre juros.
A dívida que também dobra em seis meses não pode ser esquecida, mas quitada o mais rápido possível", afirma a financista Augusta Ferraz.
Os juros abusivos, que também contribuem para o endividamento, podem ser detectados na fatura dos cartões. Neste caso, as pessoas podem entrar com uma ação judicial e pedir a revisão do contrato onde devem ser estabelecidas as taxas.
"O usuário tem como reverter esta situação, pedindo que as taxas sejam novamente revisadas", complementa a financista.