O dólar encerrou a sexta-feira a R$ 1,975, menor patamar em quase oito meses, com a pressão de investidores interessados em lucrar com contratos derivativos que vencem na virada do mês e um movimento global de desvalorização da moeda americana. O dólar caiu 1,69% no dia. Em maio, a queda foi de 9,5% - a mais acentuada desde abril de 2003.
"De repente, a percepção de que a gente já atingiu o fundo do poço (na economia global) começou a se espalhar. E o Brasil está se beneficiando desse momento", disse Fernanda Feil, economista da consultoria Rosenberg & Associados, em São Paulo.
"Não acredito que seja algo que vai se manter no longo prazo... porque, de efetivo, nada foi resolvido na economia mundial. Mas, no curtíssimo prazo, digo um ou dois meses, a tendência é de os ingressos continuarem chegando ao país."
Em maio, até o dia 22, o fluxo cambial no País estava positivo em US$ 3,086 bilhões. É a maior entrada líquida de dólares em um mês desde abril do ano passado e foi ajudada também pelas operações no segmento financeiro.
Desde a piora da crise global, com o colapso do Lehman Brothers em setembro, era apenas a conta comercial que mostrava alguma resistência.
João Medeiros, diretor de câmbio da Pioneer Corretora, acredita que em junho a tendência de apreciação do real deve continuar.
Segundo ele, a entrada de dólares no país no próximo mês será ampliada pelo "pico da safra de exportação". Nesse contexto, acrescido de uma diminuição das importações, as entradas de dólares no mercado doméstico devem se acentuar.
Refletindo essa perspectiva de ingresso de recursos no País, as posições compradas dos investidores estrangeiros caíram para os menores níveis desde o início de setembro.
De acordo com os últimos dados da BM&F, as posições futuras compradas desse grupo de investidores estão em cerca de US$ 580 milhões. Em março, mês em que as apostas na alta do dólar atingiram o pico, essas posições chegaram a US$ 14,3 bilhões.
Dados de maio deixam claro que a maior parte dos recursos externos chegou ao Brasil por meio de investimentos estrangeiros diretos e para a Bovespa .
Até por isso, a eventual taxação das aplicações externas em renda fixa seria ineficiente para brecar a apreciação do real.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negaram a volta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nessas aplicações - o que, segundo os principais jornais brasileiros, estaria sendo estudado pelo governo.
Somente nesta semana, o dólar caiu 2,5%. Operadores citaram que o movimento foi exacerbado por investidores interessados em defender sua posição para o vencimento de contratos futuros e derivativos na virada do mês.
Na segunda-feira vencem US$ 3,4 bilhões em contratos de swap cambial e, para o mercado ter lucro, é interessado que a moeda americana recue. "Acho que a tendência ainda é favorável para o real. Os investidores estão voltando de forma sincronizada aos ativos de risco, principalmente à bolsa (de valores)", considerou Antonio Madeira, economista da MCM Consultores Associados.