A participação dos países emergentes no PIB mundial passou de 38% em 2000 para 49% neste ano e deverá atingir 57% em 2030, segundo o estudo Perspectivas sobre o Desenvolvimento Mundial 2010 - Deslocamento da Riqueza, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) nesta quarta-feira.
O documento não especifica em que ano a contribuição dos emergentes no PIB deve passar a ser maior do que a dos países ricos. Ele analisa as transformações estruturais na economia mundial nos últimos 20 anos, que transferiram o "centro de gravidade econômico do planeta" em direção ao leste e ao sul do globo - dos países ricos que integram a OCDE para os países emergentes - fenômeno que a organização chama de "deslocamento da riqueza".
"Esse realinhamento da economia mundial não é um fenômeno transitório, mas representa uma mudança estrutural de importância histórica", diz o estudo. O número de países emergentes foi multiplicado por mais de cinco durante a década de 2000, passando de 12 para 65 países.
A OCDE define como países emergentes as economias cujo crescimento econômico médio por habitante equivale a mais do que o dobro do registrado nos países ricos da OCDE, que foi de 3,75% nos anos 90 e 3% nos anos 2000.
O PIB da China e da Índia cresceu na década de 2000 de três a quatro vezes mais do que a média dos 31 países que integram a OCDE. No mesmo período, o número de países pobres foi reduzido em mais da metade, de 55 para 25. O estudo divide o mundo em quatro grupos: países ricos, convergentes (emergentes), em dificuldade e pobres.
Década perdida
O relatório aponta que há dois períodos distintos em termos de crescimento econômico. Para a maioria das economias em desenvolvimento, os anos 90 representaram uma nova "década perdida", dificultada pelas crises financeiras.
Esse período afetou sobretudo a América Latina, onde as reformas adotadas praticamente não permitiram o crescimento econômico, e a África, cuja economia continuou estagnada, diz o documento. Mas nos anos 2000 a maior parte dos países em desenvolvimento registrou a primeira década de forte crescimento.
Segundo o relatório, Isso ocorreu em razão da abertura econômica de países como China, Índia e a Rússia iniciada nos anos 90 e que produziu um "choque" em termos de mão-de-obra no mercado mundial, diz o relatório.
O crescimento nos países emergentes também estimulou a demanda por inúmeros produtos, sobretudo petróleo e metais industriais, transferindo a riqueza para os exportadores de matérias-primas.
Isso permitiu que países emergentes passassem do status de devedores para o de credores, o que manteve as taxas de juros nos Estados Unidos e no mundo a um nível abaixo do que elas deveriam ter atingido, diz o documento.
"A acumulação de desequilíbrios econômicos durante a década passada provocou modificações na composição da riqueza mundial a favor dos países com excedentes comerciais. Os Estados Unidos, assim como outros países da OCDE, têm sido financiados por países como China, Brasil e Rússia e países do Golfo Pérsico, que até recentemente não tinham nenhum papel significativo como investidores internacionais", afirma o estudo.
Os Estados Unidos se tornaram o maior devedor mundial. No final de 2009, mais da metade dos títulos do tesouro americano (57,8%) estava nas mãos de países que não integram a OCDE, como China, Brasil, Rússia e exportadores de petróleo.
A China, incluindo Hong Kong, detém mais de US$ 1 trilhão em títulos da dívida americana (mais de um quarto do total), o que corresponde a 24% do PIB dos Estados Unidos. O Brasil detém US$ 169 bilhões, o que equivale a 4,6% do total.
O comércio e os investimentos diretos estrangeiros (ligados às atividades produtivas) nas novas relações Sul-Sul também ganharam importância e representam uma tendência que irá continuar, afirma a OCDE.
Enquanto o comércio mundial foi multiplicado por quatro entre 1990 e 2008, as trocas comerciais Sul-Sul cresceram mais de dez vezes no período. Os países em desenvolvimento já representam 37% do comércio mundial. Cerca da metade dessas trocas é constituída de fluxos entre países do Sul.
A China é o país em desenvolvimento que mais investe no exterior. Segundo estimativas, o montante desses investimentos ultrapassa US$ 1 trilhão. "Mas esse fenômeno é mais amplo e diz respeito a inúmeras empresas brasileiras, indianas e sul-africanas", diz o documento.
"Em razão da nova configuração do poder econômico e político mundial, os países ricos não podem mais decidir sozinhos. Uma nova arquitetura da governança mundial está emergindo e reflete a evolução das realidades econômicas", diz o estudo da OCDE.