Os dólares continuaram fluindo para a economia brasileira na semana passada, quando, segundo números divulgados nesta quarta-feira (19) pelo Banco Central, houve o ingresso de US$ 1,1 bilhão no país. Com a entrada da última semana, a parcial do mês, até a sexta-feira (14), contabiliza o ingresso de US$ 5,1 bilhões no Brasil, dos quais US$ 4 bilhões aconteceram na primeira semana deste mês.
Dados do Banco Central mostram que a entrada de dólares na parcial do mês de janeiro representa o maior aporte de recursos no país desde outubro do ano passado, quando US$ 6,91 bilhões entraram na economia brasileira. Aquele mês, porém, ainda estava "contaminado" pelo ingresso de recursos da capitalização da Petrobras. A maior parte dos dólares para a operação ingressaram em setembro (+US$ 13,72 bilhões), mas ainda houve um resquício de divisas que entrou somente em outubro.
Contas financeira e comercial
Os números da autoridade monetária mostram que os dólares ingressaram no Brasil, na parcial de janeiro, tanto pela conta comercial (fechamento de contratos de câmbio para exportações e importações) quanto pela conta financeira - que contabiliza as remessas ao exterior, as aplicações financeiras e os investimentos estrangeiros no país, entre outros.
Neste mês, ainda segundo o BC, US$ 3,96 bilhões entraram no Brasil pela conta financeira, uma média, ainda alta, de US$ 396 milhões por dia útil. No caso da conta comercial, pela qual são fechados os contratos de câmbio somente para exportações e importações, o ingresso foi de US$ 1,21 bilhão na parcial deste mês.
Guerra cambial
O ingresso de recursos no Brasil acontece em meio à chamada "guerra cambial", que é o esforço de alguns países para desvalorizar suas moedas e gerar melhores condições de competitividade para suas empresas. A entrada de dólares no Brasil, porém, gera efeito contrário, valorizando o real e tornando as exportações mais caras.
Ao mesmo tempo em que a China mantém a sua moeda (yuan) artificialmente desvalorizada, o Banco Central dos Estados Unidos (Federal Reserve) anunciou, no início de novembro, a intenção de adquirir mais US$ 600 bilhões em títulos públicos até a metade deste ano, no chamado "quantitative easing", o equivalente a US$ 75 bilhões por mês até março de 2011.
Isso significa que estes valores estão retornando para o mercado financeiro. Há o temor de que os detentores destes recursos possam buscar remunerações mais atrativas para seu investimento, e o Brasil, que passa por um momento de forte expansão econômica combinada com juros reais em torno de 5% ao ano - os mais elevados do planeta - poderia ser um dos principais destinos destes valores.
Para tentar evitar uma entrada maior de recursos no Brasil, o governo anunciou, em outubro do ano passado, o aumento do IOF para aplicações de estrangeiros em renda fixa de 2% para 6%, além da elevação do tributo sobre a margem de operações no mercado futuro. Mais recentemente, o BC tomou medidas para baixar a posição vendida dos bancos e voltou a ofertar, depois de um ano e meio, contratos de "swap cambial reverso" - que funcionam como uma compra de dólares no mercado futuro.