Desde de que a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers -ICANN, autoridade internacional sobre nomes de domínio internet, divulgou a lista de candidatos a novos domínios genéricos de primeiro nível ? os chamados gTLDs ou generic top-level domain ? os brasileiros ficaram sabendo do interesse de empresas e entidades aqui do país em terem seus próprios sufixos nos endereços usados na grande rede.
Segundo um documento divulgado pela ICANN, na época, o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (o NIC.br) entrou com um pedido para ser dono dos endereços que terminam em .BOM e .FINAL. Já os bancos Bradesco e Itaú, os postos Ipiranga, a empresa de cosméticos Natura e o portal UOL fizeram os pedidos de domínios que terminam nos nomes de suas marcas (.BRADESCO e .NATURA, por exemplo). A Telefònica registrou .VIVO. E as Organizações Globo também pediu o domínio .GLOBO.
No fim de janeiro, com a divulgação de que 100 dos novos domínios finalmente já haviam sido incorporados à raiz da Internet, estando portanto liberados para serem usados por seus proprietários, comecei a pesquisar o status dos pedidos brasileiros.
Em conversa com o NIC.br, descobri que, ao contrário do imaginado, o domínio .RIO não seria o primeiro a ser concedido pela ICANN. Um outro, de uma grande empresa de mídia, estava mais adiantado. Por mais que insistisse, mantiveram o seu nome em sigilo. Mas não foi muito difícil descobrir, pesquisando hoje, com calma, no site da ICANN.
O processo de delegação do domínio .GLOBO, pertencente à Globo Comunicação e Participações S.A., é o que está mais adiantado. O contrato com a ICANN está devidamente assinado desde meados de dezembro.
No documento encaminhado à ICANN, a Globo informa que o domínio .GLOBO ?será específico, criado para concentrar todos os conteúdos gerados pelas Organizações Globo?. No primeiro momento, o foco será usá-lo na TV Globo e na Globo.com, mas a intenção é, no médio prazo, ter todos os conteúdos da marca Globo sob o domínio .GLOBO?.
?Vamos criar uma nova casa para a Globo na internet! Como hoje, vamos produzir conteúdos específicos para o canal digital e adaptar a ampla gama de conteúdo para a internet. Desta forma, a Globo irá atestar a origem do conteúdo sob o .GLOBO, evitando cybersquat/cybersquatting e fraudes. Queremos também ter uma vantagem competitiva frente a nossos concorrentes com o objetivo final de ser o primeiro nome de domínio para notícias e entretenimento na internet no Brasil. O gerenciamento de domínio .GLOBO estará a cargo das Organizações Globo e particulares não terão a possibilidade de se registrar?, diz o documento. O que significa que terceiros (nós internautas, por exemplo) não terão a possibilidade de solicitar ou registrar endereços com o sufixo .GLOBO.
Ao que tudo indica, o objetivo declarado de ineditismo será atingido. Infelizmente, não a tempo de já ter sido anunciado como ?concedido? em janeiro, quando a TV Globo anunciou o planejamento e a programação 2014, segundo o Blue Bus, apostando mais no digital.
Aliás, peço licença ao Julio Hungria para reproduzir aqui o trecho que considerado mais indicativo dos novos tempos nas OGs no discurso de Natal do Roberto Irineu Marinho que o Blue Bus publicou.
(?) passou o tempo em que se acreditava que o futuro era ter, na internet, extensões dos nossos conteúdos já existentes. O futuro é ter a consciência de que, se tudo já é digital, não faz mais sentido pensar num conteúdo como se ainda existissem duas formas de consumo, a digital e a analógica. Devemos pensar os produtos já com a visão de que podem e têm de ser atraentes não importa como serão consumidos?.
Ora, se a produção é digital e o consumo também, limitações serão superadas, recursos serão mais bem usados, potencialidades serão descobertas, complementaridades na forma de consumo reforçadas, e um conteúdo mais completo, mais atraente, mais abrangente e mais criativo será oferecido?.
Essa visão tem de estar presente em todas as etapas: na concepção da ideia, na sua realização e na distribuição. E a chave continuará a sempre ser a qualidade dos nossos conteúdos e do relacionamento com nossos clientes. Isso certamente resultará em erros e acertos, mas é esse o caminho que nos levará ao bom futuro. É desse movimento que pode surgir o inesperado, algo que ainda não sabemos o que é, algo que o público ainda não sabe que lhe é necessário e prazeroso e que, quem sabe, se torne um fenômeno.
É isso? Um domínio.GLOBO, neste cenário, é primordial.
Desde 29 de janeiro, quando anunciou que os 100 novos domínios estavam incorporados à raiz, a ICANN já fez duas novas liberações. Em nenhuma delas constava o domínio .GLOBO. Mas as liberações começarão a ser cada vez mais frequentes, a partir de agora.
Em relação aos demais domínios, segundo Demi Getschko, presidente do NIC.br, encontram-se todos no que a ICANN chama de fase de negociação de contratos.
Dos domínios que serão operados pelo NIC.br, .RIO é o mais adiantado. Tudo indicada que estará liberado ainda neste primeiro trimestre de 2014. Já a expectativa para os domínios .BOM e .FINAL, que ainda não contam com um plano de aplicação, é a de que só sejam liberados no quarto trimestre deste ano, segundo Frederico Neves, diretor de Serviços e Tecnologia do NIC.br.
O plano de expansão da extensões de domínios foi anunciado pela primeira vez há três anos em 26 de junho de 2008, no 32º encontro da ICANN em Paris. A aprovação aconteceu na 41º reunião internacional em Cingapura, os membros da diretoria da ICANN votaram 13 a favor, 1 contra e 2 abster-se.
?A ICANN abriu o sistema de endereços da Internet para as ilimitadas possibilidades da imaginação humana. Ninguém poderá prever aonde esta decisão histórica irá nos levar?, disse Rod Beckstrom, presidente e CEO da ICANN, na ocasião.