Governo faz mudanças em programa que dá R$ 200 mil a empresa iniciante

A burocracia é a principal reclamação dos participantes do projeto, que prevê investimento de até R$ 200 mil a fundo perdido, em cada organização

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O Start-up Brasil, programa do governo federal para acelerar o crescimento de empresas iniciantes de tecnologia, deve lançar até o fim deste mês seu segundo edital de seleção. Vai haver mudanças nas regras. Na primeira edição, em 2013, foram escolhidas 118 companhias, mas 26% delas desistiram.

A burocracia é a principal reclamação dos participantes do projeto, que prevê investimento estatal de até R$ 200 mil a fundo perdido, em cada organização.

Para receber o dinheiro, elas precisam se associar a uma das aceleradoras privadas parceiras do governo -essas organizações são formadas por grupos de investidores interessados em apoiar uma companhia iniciante, adaptar seu serviço e seu modelo de negócios e depois lucrar com ela.

As companhias também devem passar pela seleção do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) para começar a receber as bolsas.

Mayura Okura, 28, sócia-fundadora da B2Blue, uma plataforma virtual para venda de resíduos, teve sua empresa selecionada, mas acabou desistindo de seguir no programa.

O motivo, segundo ela, foram os "contratos agressivos" das aceleradoras. "Nós estávamos em um estágio mais avançado e os contratos exigiam participações altas diante do investimento que elas fariam", explica.

O Start-up Brasil prevê que esses grupos façam aportes adicionais nas empresas em troca de uma participação acionária que hoje varia de 5% a 25%.

Mayura Okura é fundadora da B2Blue e desistiu do programa por achar os contratos de aceleradoras muito agressivos

SOCIEDADE

Uma das polêmicas do projeto é a chamada "reaceleração de empresas": companhias que haviam passado por esse tipo de processo foram selecionadas e, em alguns casos, começaram um segundo ciclo com as mesmas organizações.

Isso liberava as aceleradoras de fazer novos aportes nas empresas e gerou questionamentos sobre favorecimento.

A Brasil by Bus, que vende passagens de ônibus pela internet e foi selecionada no Start-up Brasil, está passando pelo segundo processo de aceleração na Aceleratech.

"Para nós não fazia sentido trabalhar com outra aceleradora. Eles [a Aceleratech] já são nossos sócios. Não valeria a pena dar mais uma fatia da empresa para outro investidor", explica Breno Moraes, 28, sócio-fundador da Brasil By Bus.

Breno Moraes é sócio-fundador da start-up Brasil by Bus, selecionada pelo Start-Up Brasil

No novo edital, serão vetados os negócios que já são sócios das aceleradoras parceiras do governo.

"Esse foi um ponto bastante criticado, então achamos melhor colocar essa restrição para focar em empresas nascentes", afirma Felipe Matos, diretor de operação do projeto, que é gerido pelo Ministério de Ciência e Tecnologia.

O governo também decidiu aumentar o número de aceleradoras, de 9 para 12. O novo edital vai exigir que elas invistam em ao menos seis empresas cada uma. Da primeira edição, três desses grupos de investidores também saíram do projeto. A Acelera Partners (gerida pela Microsoft e que previa o maior investimento nas empresas, de até R$ 1 milhão) não acelerou nenhuma start-up no primeiro ciclo.

Em nota, a organização afirma que não apostou em nenhuma companhia porque estava em fase de formação e que adotou um modelo que tem como foco start-ups mais maduras, com faturamento anual mínimo de R$ 120 mil.

Para empreendedores ouvidos pela Folha, a maior dificuldade das empresas selecionadas é lidar com as regras do CNPq. Para receber as bolsas de até R$ 200 mil, que são distribuídas ao longo de 12 (prorrogáveis por mais seis) meses, as empresas precisam indicar um empreendedor bolsista. Além do currículo na plataforma Lattes, é preciso comprovar tempo de experiência profissional.

Breno Moraes, da Brasil by Bus, conta que os dois anos que passou trabalhando no Panamá, na área de TI, não foram aceitos pelo órgão. Por isso, a empresa, selecionada no projeto em dezembro, ainda não começou a receber o dinheiro.

Além disso, os R$ 200 mil só podem ser utilizados para o pagamento de salários. Ricardo Moraes, sócio-fundador da Memed, de prescrições eletrônicas de remédios, reclama de não poder usar o dinheiro para pagar seus sócios, que são seus familiares. "Mesmo que eles sejam meus sócios no contrato social, isso pode ser considerado nepotismo", afirma.

Ele também sente falta de poder utilizar o dinheiro para fazer outros tipos de investimento. "Nós somos empreendedores. Precisamos de mais mobilidade para usar o capital", afirma.

Para Frederico Lacerda, sócio-fundador da aceleradora de negócios 21212, existe um lado positivo nisso, porque as empresas iniciantes ainda encontram dificuldades para disputar profissionais com grandes companhias. "Esses R$ 200 mil permitem que as start-ups tenham a chance de montar um time", explica.

Para Ricardo, o dinheiro ajuda bastante. "Você tem uma "folga" para respirar, desenvolver um produto bacana, passar para um outro estágio e bater na ponta de investidores externos com mais segurança", afirma.

Guga Gorenstein, 33, fundador da Poup, outra start-up selecionada pelo programa, vê mais pontos positivos do que negativos na iniciativa.

"Além do incentivo financeiro, tem toda a rede de contatos que você faz com outras empresas. São empreendedores que podem até se tornar seus parceiros", afirma.

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