Enquanto o comércio recua no mundo todo, as importações de alguns produtos, como tabaco, produtos têxteis, sapatos e medicamentos, entre outros, ignoram a crise e seguem em alta no Brasil, segundo números do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. No primeiro semestre deste ano, segundo dados que foram detalhados somente agora em agosto pelo governo, os bens de consumo não-duráveis foram a única categoria de produtos que registrou aumento de importações (+2,3%). As compras do exterior de produtos têxteis subiram 19,4% nos seis primeiros meses de 2009, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, sendo 21% somente de vestuário.
Ao mesmo tempo, as aquisições de sapatos do exterior cresceram 10,9% no período. Já as compras de artigos para viagens (bolsas e assessórios) de fora do país subiram 21% nos seis primeiros meses deste ano. Neste período, as importações de tabaco subiram fortemente: 69% no primeiro semestre. Já as compras de medicamentos subiram 7,11% no período, enquanto as importações de produtos de toucador e higiene pessoal tiveram elevação de 2,78%. As compras do exterior de produtos lácteos e ovos cresceram 14,4% nos seis primeiros meses deste ano, enquanto as aquisições de café, chá ou cacau (chocolate), tiveram elevação de 9,66%, ainda de acordo com dados oficiais.
Razões do crescimento
Segundo Fernando Ribeiro, economista da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), a demanda por estes produtos se sustenta no Brasil porque eles não dependem do crédito, que se retraiu no início deste ano por conta dos impactos da crise financeira. "Além disso, há uma sustentação da renda do trabalho no Brasil durante a crise, pois o aumento do desemprego não foi tão grande", avaliou.
De acordo com o economista, esses importados deverão continuar tendo "desempenho razoável" no resto do ano, por conta da queda do dólar. "Talvez mais para o fim do ano, tenham uma aceleração maior", disse ele. O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, observou que, mesmo com o crescimento, os bens de consumo não-duráveis ainda representam uma fatia pequena das compras brasileiras do exterior. No primeiro semestre de 2008, representavam 5,59% das importações, saltando para 8,11% em igual período deste ano.
De acordo com ele, os medicamentos foram um dos principais itens importados neste ano. Barral concordou que a queda do dólar pode favorecer a compra do exterior de bens de consumo no restante do ano. "O câmbio pode gerar um efeito de incentivo ao consumo", afirmou o secretário.
Outros setores
O crescimento dos bens de consumo não-duráveis contrasta com as quedas registradas em outros setores. As compras do exterior de máquinas e equipamentos recuaram 14,4% no primeiro semestre, enquanto as importações de bens de consumo duráveis (carros, autopeças, móveis e produtos da linha branca, entre outros) caíram 15,6%. As compras de matérias-primas recuaram 32% no mesmo período e as compras de combustíveis e lubrificantes despencaram mais de 50%.
Até mesmo os produtos mais populares sentiram os efeitos da crise financeira. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Importadores de Produtos Populares (Abipp), Gustavo Dedivitis, as vendas do fim do ano passado foram boas, mas a inadimplência subiu no início deste ano. "O primeiro semestre foi muito ruim. A grande data de recuperação pode ser o Natal", afirmou. A Abipp reúne 25 importadoras de São Paulo e compra uma variedade de 4 mil itens do exterior, principalmente de utilidade doméstica.
Problemas
O aumento de importações de bens não-duráveis, entretanto, traz problemas para alguns setores. No caso da indústria de vestuário nacional, por exemplo, a produção nacional recuou 6% nos seis primeiros meses deste ano, gerando 5,6 mil demissões no setor, por conta crise e da concorrência com os importados, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de de Confecção (Abit).
Com a queda do dólar, que barateira os importados, a Abit avalia que a situação deve piorar. De acordo com a Associação, há um "excedente de produção" no mundo por conta da queda dos embarques dos países asiáticos destinados aos EUA e União Européia. "Temos sido informados por nossos associados que diariamente recebem ofertas de produtos a preços extremamente baixos, que refletem exatamente a tentativa de desova dos produtos que estão parados nos estoque destes países", informou a Abit ao G1.