Reduzir o imposto de importação para aumentar a concorrência dos produtos trazidos do exterior com os itens nacionais pode ser uma das maneiras usadas pelo governo federal para controlar a inflação, afirmou nesta sexta-feira o ministro Guido Mantega (Fazenda).
"Se algum setor econômico começar a abusar dos preços, podemos baixar as alíquotas de importação, por exemplo", ameaçou o titular da pasta, quando questionado sobre um iminente aumento da taxa básica de juros (Selic). "O governo pode agir de várias maneiras."
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Em entrevista após a visita à Feicon (Feira Internacional da Indústria da Construção), que acontece na capital paulista até amanhã, o ministro afirmou que acompanha de perto a evolução dos preços dos produtos mais importantes. "O governo está vigilante, mas eu não tenho notado anomalia."
A inflação oficial usada pelo governo, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), teve alta de 0,52% em março e acumula elevação de 5,17% nos últimos 12 meses, o maior percentual registrado desde maio do ano passado (5,20%). Esse foi o quinto mês consecutivo de elevação desse índice, que desde janeiro está acima do centro da meta de 4,5% estipulada pelo governo federal.
Mantega ressaltou que a inflação "tem que ser uma preocupação permanente do governo" e o que está acontecendo é "momentâneo", causado pelo choque de oferta. "As chuvas intensas acabaram elevando os preços dos alimentos. Isso é passageiro, sazonal, já está passando".
O custo dos alimentos disparou no início do ano, com alta de 3,69% no primeiro trimestre -- elevação que já supera toda a variação observada ao longo do ano passado (3,18%).
A variação do IPCA de março, destacou, é menor do que em janeiro e fevereiro. "A trajetória será descendente nos próximos meses. É claro que a economia brasileira está um pouco mais aquecida, ocorre um pouco uma elevação de preços em relação ao ano passado, que teve baixo nível de atividade", disse, lembrando que, por isso, muitos setores deram desconto e podem recuperar parte dessa queda nos preços neste ano. "O fundamental é que a inflação não é de demanda."
China
Sobre a especulação de que a China pode em breve valorizar o yuan, Mantega disse que "se, de fato, o governo flexibilizar o seu câmbio, será muito bom para a economia mundial". "Há uma pressão forte dos Estados Unidos e nossa também para que isso aconteça porque, embora a China seja um bom parceiro comercial, o setor manufatureiro [internacional] fica prejudicado por esse câmbio", completou.
Para ele, há vantagens na mudança também para o país asiático, já que "eles importam produtos brasileiros, que ficarão mais baratos". "E os manufaturados chineses no Brasil ficarão mais caros, de modo que a nossa indústria ficará mais competitiva."