Apesar dos esforços do governo para viabilizar os investimentos em infraestrutura no Brasil, o setor deverá receber este ano aportes de apenas 1,96% do Produto Interno Bruto (PIB) - ou R$ 86,8 bilhões em números absolutos. Será o pior desempenho desde o início do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a primeira vez, desde 2007, que o País romperá o piso de 2%. A projeção consta de estudo do economista Claudio Frischtak, da Inter.B Consultoria.
O levantamento destacou que as limitações se concentram na esfera pública, que não consegue sustentar o arranque da infraestrutura. De 2010, auge dos investimentos nas obras do PAC, a 2012, houve um recuo de 0,5% do PIB na fatia de investimento público destinada a setores como energia elétrica, telecomunicações, rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, metrô, hidrovias e saneamento.
"Os números mostram que o setor público não consegue liderar investimentos em infraestrutura, apesar de esforços como o PAC", diz Frischtak. A constatação do fracasso do modelo ancorado no setor público foi decisivo, acredita, para a decisão do governo em promover o novo pacote de concessões privadas.
Após crescer entre 2007 e 2010, o total aportado pelo governo federal em infraestrutura entrou em queda no ano passado. A previsão é que ele recue novamente este ano, com sua participação saindo de 16,2% para 11% do investimento total no setor. Em valor, o montante será de R$ 9,6 bilhões em 2012, ante R$ 13,8 bilhões em 2011.
Somando os dados do governo federal aos de empresas públicas, chega-se a menos da metade (47,5%) dos recursos destinados à área no País este ano, revertendo a situação registrada em 2011 e 2010. Por sua vez, a contribuição privada para projetos de infraestrutura se expandiu de 39% para 52% nos últimos dois anos. Os grupos privados vão desembolsar R$ 44,8 bilhões dos R$ 86,8 bilhões que o setor de infraestrutura receberá em 2012.
A questão que se coloca a partir dos dados é se 2012 será o fundo do poço, isto é, se o pacote de concessões do governo surtirá efeito e ajudará o País a eliminar gargalos como a falta de estradas pavimentadas. A resposta depende de variáveis como o anúncio de novas concessões pelo governo, o reforço na qualidade das agências reguladoras e um ambiente em que os investidores enxerguem um horizonte de previsibilidade para os contratos.
"Se o governo tocar o pacote para frente nessas condições, você terá uma reação danada em 2013", diz Frischtak, para quem há condições de dobrar para 2% a fatia do setor privado nos investimentos de infraestrutura até 2015.
O economista citou o financiamento como um quarto fator-chave para uma revolução logística e energética no Brasil. Hoje, o BNDES concentra o papel de financiador de projetos de infraestrutura, mas a crise internacional pode ser uma oportunidade. A falta de alternativas de investimento com boa rentabilidade tornará as concessões nacionais mais atraentes.
"No próximo ano e meio, pode haver uma explosão de financiamento privado para projetos de infraestrutura, desde que os juros internacionais continuem muito baixos", diz Frischtak.
Divisão. O estudo da Inter.B separa os recursos por segmento desde 2008. Desde lá, os líderes em investimentos são os setores de energia, telecomunicações e rodoviário. Já os aeroportos mantiveram uma participação de menos de 2% do total investido em infraestrutura a cada ano, enquanto os portos tiveram desempenho só um pouco superior. A perspectiva não é de grande alteração no curto prazo, embora os aeroportos possam ser beneficiados pela aproximação da Copa do Mundo.
Frischtak calcula que o Brasil teria de investir R$ 2,5 trilhões adicionais nos próximos 25 anos para dobrar o nível de investimentos dos cerca de 2% atuais para 4% do PIB, porcentual considerado por ele o mínimo para modernizar a infraestrutura brasileira. Na ponta do lápis, seriam mais R$ 100 bilhões anualmente - tendo como base o total de R$ 85 bilhões investidos no ano passado.