Juro bancário de pessoa física cai e tem menor valor em 18 anos

Em outubro, juro dos bancos para pessoas físicas somou 35,4% ao ano. Incluindo empresas, taxa média de juros ficou em 29,3% no mês passado

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Após aumento em setembro, a taxa média de juros bancários cobrados pelas instituições financeiras em suas operações com pessoas físicas ficou em 35,4% ao ano em outubro, o que representa o menor valor de toda a série histórica do Banco Central, que tem início em julho de 1994. Em setembro, a taxa estava em 35,8% ao ano.

Segundo o BC, a taxa média de juros bancários de todas as operações com recursos livres (que não têm destinação específica, como crédito rural ou imobiliário), que inclui pessoas físicas e empresas, também registrou o menor valor de toda a série do BC, que, nesse caso, começa em junho de 2000. Em outubro, os juros médios de todas operações de crédito somaram 29,3% ao ano, contra 29,9% ao ano em setembro.

No caso da taxa média que os bancos cobram em suas operações com empresas, ainda segundo números do BC, o valor registrado em outubro, de 22,1% ao ano, também é o menor valor já registrado em toda a série histórica da autoridade monetária, que começa em junho de 2000 para este indicador.

Mudança de comportamento

"Ao longo do ano, modalidades com juros mais altos, como cartão de crédito e cheque especial, o volume do crédito concedido têm crescido menos do que modalidades mais baratas, como crédito pessoal e consignado [desconto em folha de pagamentos]. Isso tem contribuído para reduzir os juros médios", avaliou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel. Segundo ele, isso evidencia uma "mudança de comportamento" por parte dos tomadores do crédito.

Os números do BC mostram que o crescimento do volume de crédito rotativo do cartão de crédito, e as compras parceladas com cobrança de juros, cresceram 22% em 2011, valor que recuou para uma alta de 2,4% em doze meses até outubro. No caso do cheque especial, cujo volume de crédito avançou 16% no ano passado, houve recuo de 1,6% em doze meses até outubro, informou o BC.

Corte dos juros básicos e liberação de recursos

As reduções das taxas de juros praticadas pelos bancos começou a acontecer após o início do processo de corte dos juros básicos da economia, conduzido pelo Banco Central desde agosto do ano passado. Desde então, em dez reuniões seguidas do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC reduziu os juros de 12,5% para 7,25% ao ano. Um corte de 5,25 pontos percentuais. Na reunião desta semana do Copom, porém, o ciclo de cortes foi interrompido.

As instituições financeiras, por sua vez, reduziram os juros bancários de pessoas físicas em 10,8 pontos percentuais desde agosto do ano passado, e a taxa média geral (de todas as operações) recuou 10,4 pontos percentuais neste período. Em ambos os casos, os juros bancários caíram mais do que a taxa básica da economia.

O corte nos juros bancários está relacionado, também, com o fato de o governo estar liberando recursos que estavam retidos no BC (chamados de compulsório) para as instituições financeiras. Desde o início deste ano, cerca de R$ 100 bilhões já foram liberados para os bancos. Outro fator que favoreceu a redução dos juros bancários foi a redução do IOF para pessoas físicas de 3% para 1,5% ao ano.

Além disso, o governo tem pressionado os bancos privados a reduzirem os juros por meio de reduções efetuadas pelos bancos públicos (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal). O primeiro anúncio aconteceu em 4 de abril, por parte do Banco do Brasil, e foi seguido pela Caixa Econômica Federal e por bancos privados, como Itaú Unibanco, Bradesco e Santander, entre outros. Desde então, houve uma série de anúncios de redução dos juros.

"Spread bancário"

O corte dos juros bancários com intensidade maior do que o recuo da taxa básica, definida pelo Banco Central, tem gerado redução do chamado "spread bancário". Em agosto do ano passado, estava em 34,4 pontos percentuais nas operações para pessoas físicas. No mesmo mês deste ano, somou 27,8 pontos percentuais. Uma redução de 6,6 pontos.

O alto nível do "spread bancário" no Brasil foi duramente criticado pela presidente da República, Dilma Rousseff, e por integrantes da equipe econômica, como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, no início deste ano. Na ocasião, Mantega avaliou, após encontro com representantes das instituições financeiras, que os bancos privados teriam "margem" para reduzir seu "spread bancário" e, consequentemente, os juros cobrados de seus clientes.

Além do lucro dos bancos, o spread também é composto pela taxa de inadimplência, por custos administrativos, pelos depósitos compulsórios e pelos tributos cobrados pelo governo federal, entre outros. Estudo do Ministério da Fazenda mostram que o "spread bancário" brasileiro é um dos maiores do mundo.

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