Apesar do reajuste dos combustíveis, a Petrobras viu seu lucro cair 17% no primeiro trimestre deste ano na comparação com igual período de 2012, na esteira da produção menor de petróleo e da despesa crescente com a importação de derivados.
De janeiro a março de 2013, a estatal lucrou R$ 7,693 bilhões, abaixo dos R$ 9,214 bilhões registrados no mesmo período de 2012.
Em relação ao quatro trimestre, houve uma ligeira queda de 1% nos ganhos, de acordo com balanço divulgado nesta sexta-feira (26).
Segundo a Petrobras, os reajustes nos preços de 5,4% para o diesel e de 6,6% para a gasolina, no dia 30 de janeiro, e o novo aumento de 5% para o diesel, em 6 de março, "contribuíram para a redução da defasagem dos derivados vendidos no Brasil em relação à paridade internacional".
Tal diferença, porém, ainda persiste e resultou num prejuízo de R$ 4,2 bilhões na área de refino, diante das despesas maiores com importações de combustíveis para atender ao mercado interno. A importação de petróleo subiu 35%, enquanto a de derivados caiu 7% de janeiro a março.
Por outro lado, a Petrobras conseguiu avanços, tais como o aumento do uso da capacidade de suas refinarias (com alta de 6% do processamento de petróleo) e a redução de custos e despesas operacionais.
Sob impacto desses fatores, o Ebitda (lucro antes de impostos, pagamento de juros e parcelas de financiamentos) aumentou 36% diante do quatro trimestre, atingindo R$ 16,2 bilhões.
CÂMBIO
Outro fator que impulsionou o resultado foi a variação cambial, que gerou menor pressão sobre o endividamento e resultou num impacto positivo de R$ 925 milhões na comparação com o primeiro trimestre de 2012.
A queda de 8% na produção de óleo bruto, porém, anulou esses efeitos e foi o principal fator para conter o lucro da estatal no primeiro trimestre. A menor extração de petróleo, diz a companhia, já era prevista.
"Conforme planejado, a produção de óleo diminuiu devido ao maior número de paradas e ao declínio natural da produção dos campos, parcialmente compensada pelo crescimento de produção proporcionado pelos novos sistemas", informou.
Apesar do recuo, a estatal aposta no pré-sal para turbinar sua produção no futuro e ressalta que a nova província petrolífera já produz 300 mil barris/dia de petróleo, tendo atingido recorde de 311 mil barris diários em 17 de abril.
RESULTADO FINANCEIRO
O resultado financeiro da companhia ficou positivo em R$ 1,4 bilhão, superior em R$ 925 milhões em relação ao primeiro trimestre de 2012, beneficado pelo efeito da apreciação cambial sobre o endividamento líquido.
As receitas de venda da empresa subiram 10%, para R$ 72,5 bilhões, por conta do ajuste dos combustíveis.
O lucro da área de Exploração e Produção, por outro lado, caiu 20%, para R$ 15 bilhões, devido à queda de 8% produção de petróleo da companhia no período.
Graça reafirmou que a Petrobras está comprometida com "a busca da convergência com os preços internacionais" dos combustíveis, mas disse que a melhoria do fluxo de caixa da Petrobras não deve ocorrer apenas pelo aumento de preços.
E destacou a melhoria da eficiência: "De janeiro a março de 2013 prevíamos uma meta de redução de custos operacionais de R$ 646 milhões. A economia observada até o momento foi de R$ 1,3 bilhão, 1/3 do total previsto para o ano de 2013, cuja meta é de R$ 3,8 bilhões".
2012
Em 2012, o lucro da estatal caiu 36,3% na comparação com o de 2011, para R$ 21,182 bilhões, resultado foi pior que o esperado por analistas à época, que estimavam queda de cerca de 30%.
A receita líquida da empresa foi de R$ 281,3 bilhões no ano passado, 15% maior que a verificada em 2011, de R$ 244,1 bilhões.
Considerando só o quarto trimestre do ano passado, a empresa teve lucro líquido de R$ 7,7 bilhões, valor 54% maior que os R$ 5 bilhões dos três últimos meses de 2011.
A receita líquida foi de R$ 73,4 bilhões, alta de 12,5% em relação à registrada em igual período de 2011, de R$ 65,2 bilhões.
PERSPECTIVAS
Oswaldo Telles, analista do BES Banco Espírito Santo, acredita que as ações da companhia sejam beneficiadas a partir do segundo trimestre. "Prevemos uma recuperação total nas margens devido aos recentes aumentos nos preços de diesel e gasolina bem como um crescimento adicional da produção de petróleo."
Para Luiz Caetano, analista da Planner Corretora, a empresa deve continuar reduzindo os custos com poços no Brasil. "Por outro lado, o aumento de importação de petróleo e derivados deve ter impacto negativo nos custos", diz.
"É importante ressaltar ainda que a Petrobras teve um elevado ganho tributário (R$ 2,1 bilhões) no último trimestre de 2012, gerado pela concessão de juros sobre o capital próprio, fato que não se repete nos três primeiros meses deste ano", acrescenta.
Em carta aos acionistas no fim do ano passado, a presidente da empresa, Graça Foster, discorreu sobre os motivos para a queda de lucro de 2012, que já era esperado pelo mercado.
"Este resultado, 36% inferior ao de 2011, é explicado pelo aumento da importação de derivados a preços mais elevados, pela desvalorização cambial, que impacta tanto nosso resultado financeiro como nossos custos operacionais, pelo aumento de despesas extraordinárias como a baixa de poços secos e pela produção de petróleo", afirmou.
O Ebitda, indicador que mede a geração de caixa das empresas, ficou em R$ 53,4 bilhões em 2012. O valor representa queda de 14% na comparação anual.
Ao mesmo tempo, o endividamento líquido deu um salto de 43%, para R$ 147,8 bilhões. O nível de endividamento da Petrobras atingiu 30%, contra 24% há um ano, se aproximando cada vez mais do limite de 35% estipulado pela própria companhia para manter o grau de investimento junto a agências de rating.
BOLSA
Com investidores da Bolsa à espera do balanço da estatal, os papéis mais negociados da Petrobras terminaram o dia em alta 0,47%, para R$ 19,29. O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, caiu 1,29%, aos 54.252 pontos.