Analistas de bancos que acompanham a Petrobras acreditam na possibilidade de um reajuste de pelo menos 10% nos preços da gasolina e do diesel nos próximos meses. O ambiente é favorável para reajuste neste segundo trimestre porque a inflação já dá sinais de arrefecimento e há uma sazonalidade de queda nos preços dos alimentos de maio a julho, argumentam os especialistas.
E depois disso a proximidade do calendário eleitoral, com eleições em outubro, poderá complicar politicamente o aumento dos combustíveis, na visão do mercado. Além disso, a Petrobras vem sentindo no caixa o impacto do alto volume de importações de combustíveis. No primeiro trimestre do ano, a estatal deverá mostrar um Ebitda (geração de caixa medida pelo lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) negativo em R$ 7,8 bilhões na área de Refino, segundo projeção do Deutsche Bank.
A Petrobras divulga o balanço dos primeiros três meses na próxima sexta-feira. Segundo o Deutsch Bank, há a possibilidade de um aumento de 10% nos preços dos combustíveis até o terceiro trimestre de 2012.
"Acreditamos que o ambiente atual de subsídios à importação não é sustentável para a Petrobras e, portanto, estamos incluindo um aumento de 10% no terceiro trimestre. As perdas de refino são crescentes, o que consideramos não ser apenas um problema de governança corporativa, mas um problema financeiro", afirmou o Deutsche em relatório.
Defasagem
Segundo o Banco Votorantim, a defasagem dos preços praticados no mercado interno da gasolina e do diesel em relação aos preços internacionais se encontra em 40% e 50%, respectivamente. Em relatório, o Votorantim afirma que se a Petrobras alinhasse por completo a defasagem e reajustasse em 40% os preços da gasolina, isso provocaria um impacto de 0,83 ponto percentual no IPCA, índice oficial da inflação brasileira.
Mas, segundo o banco, esse cenário é muito pouco provável. A hipótese mais provável para o Votorantim seria de um "reajuste da ordem de 20%, que é o valor da defasagem média, com alguma redução da Cide (tributo que incide sobre combustível), para que o impacto não fique somente nas mãos do consumidor final".
Uma correção de 20% nos combustíveis elevaria a projeção do IPCA deste ano, que atualmente está em 5,10%, para 5,50%. "Na ponta inversa, caso a Petrobras conceda o menor reajuste considerado em nosso estudo, de 10%, e reduza a Cide o máximo possível, ou seja, faça uma renúncia fiscal da ordem de 0,1% do PIB, o impacto seria praticamente nulo na inflação", diz o estudo do banco.
Inflação
Entre os meses de abril e junho, o Votorantim estima uma inflação média de 0,40%, abaixo da média observada no mesmo período do ano passado (0,46%). Além disso, o banco diz que no período há uma "sazonalidade favorável dos preços dos alimentos, o que provoca um comportamento ainda benigno da inflação no segundo trimestre deste ano, abrindo caminho para um aumento dos combustíveis até julho".
O comportamento da inflação no início deste ano foi mais favorável do que o observado no mesmo período do ano passado na opinião do banco. Na primeira pesquisa Focus do ano (06/1/12), o mercado projetava uma inflação acumulada para o primeiro trimestre de 2012 de 1,7%, mas o resultado efetivo foi de 1,4%.
"Além de ter surpreendido positivamente os analistas, o IPCA ficou 1 ponto percentual abaixo do valor registrado no primeiro trimestre de 2011 (2,4 por cento)", escreveu o Votorantim. A inflação é o fator que pesa na decisão do governo de segurar o reajuste dos combustíveis.
Eleições
Para o Eurasia Group, a atual janela para a eventual correção dos combustíveis é neste segundo trimestre. "A inflação já converge para o centro da meta, e após o mês de julho o calendário eleitoral passa a ser um complicador".
O analista da Ativa Corretora, Ricardo Corrêa, também vê que o aumento deverá ocorrer até julho em função do calendário eleitoral. Mas, segundo ele, a expectativa de que o petróleo tenha que subir ainda mais para que isso seja feito pode ser um complicador.
No dia 3 de maio, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, disse que o governo elevará o preço da gasolina e do diesel quando o barril do Brent atingir US$ 130. "Não acreditamos que o petróleo volte ao patamar de US$ 130 agora, com o atual cenário internacional", afirma Corrêa.
O petróleo Brent fechou nesta terça-feira a US$ 112,73 o barril. No início do ano, a commodity chegou próxima de US$ 130, mas recuou desde então em meio a preocupações com a economia global, com temores sobre a demanda e com importantes produtores globais bombeando volumes historicamente altos.