As novas regras para a caderneta de poupança, que representam perda de rendimento quando os juros básicos da economia atingem 8,5% ao ano, o que já aconteceu, não afastaram aplicadores da mais tradicional modalidade de investimentos do país, segundo números divulgados nesta quarta-feira (6) pelo Banco Central.
Dados da autoridade monetária mostram justamente o contrário. Em maio, os depósitos superaram as retiradas em R$ 6,26 bilhões, valor que representa o novo recorde para meses de maio. A maior captação anterior, já registrada no quinto mês de um ano, foi em 2010 (+2,12 bilhões).
Trata-se, também, da maior captação líquida (depósitos menos retiradas), para todos os meses, desde dezembro de 2010 (R$ 6,35 bilhões). Meses de dezembro tradicionalmente registram maior ingresso de recursos na poupança por conta do depósito do décimo terceiro salário dos trabalhadores.
"Nova" poupança
Segundo informações do Banco Central, a "nova" poupança, que registra as aplicações feitas de 4 de maio em diante, desde quando as novas regras têm validade, captou R$ 4,45 bilhão (depósitos menos retiradas). Este valor ingressou na mais tradicional modalidade de investimentos do país entre 4 e 31 de maio, uma média de R$ 222,8 milhões por dia útil.
Os dados mostram que houve um crescimento de 230% em relação aos valores captados pela caderneta de poupança de janeiro a abril deste ano, e nos dias 2 e 3 de maio, quando ainda valia a regra antiga de remuneração (rendimento de 6,17% ao ano mais TR). Neste período, os depósitos superaram as retiradas na poupança em R$ 5,71 bilhões - uma média de R$ 67,2 milhões por dia.
Os números do BC também mostram que a captação da poupança de 4 de maio em diante, representa, em 20 dias úteis, 77,9% dos ingressos totais registrados nos quatro primeiros meses de 2011, e nos dois primeiros dias úteis de maio (2 e 3), ou seja, em 85 dias úteis.
Alterações na poupança
Pelas novas regras definidas pelo governo federal, a poupança passou a ser atrelada aos juros básicos da economia, rendendo 70% da aplicação, mais a Taxa Referencial. Esse novo formato de rendimento da poupança foi aplicado, porém, somente quando a taxa básica de juros, definida pelo Banco Central, atingiu 8,5% ao ano - acionando o chamado "gatilho" para a mudança. Pela regra anterior, que vigorava desde 1991, a poupança não podia render menos de 6,17% ao ano, mais TR. A nova regra vale somente para depósitos feitos de 4 de maio em diante. A modalidade continua isenta do Imposto de Renda e sem a cobrança de taxa de administração.
Poupança ainda é vantajosa
Estudo da Associação Nacional de Executivo de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) informa que, mesmo com a alteração das normas, que baixou o rendimento da poupança quando a taxa Selic recuou para 8,5% ao ano ou menos, a modalidade continua se destacando frente aos fundos de renda fixa por não ser taxada com Imposto de Renda e não ter taxa de administração.
"Quanto à rentabilidade das novas poupanças, mesmo com as alterações feitas, que vão provocar uma redução em sua rentabilidade se comparadas às contas antigas, mesmo assim elas vão continuar se destacando frente aos fundos de renda fixa, pelo fato de que não pagam Imposto de Renda nem taxas de administração. Este fato deverá provocar reduções nos custos das taxas de administração dos bancos para não perderem clientes", avaliou a associação.
Estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Fractal mostra que a "falta de conhecimento financeiro" do brasileiro gera "insegurança ao fazer aplicações". Dessa forma, acrescenta o estudo, a tradicional caderneta de poupança lidera a escolha no momento de investir. Aplicações em fundos de renda fixa e ações na bolsa de valores, de acordo com o documento, não são "tão atraentes" para quase metade dos investidores.
?Para ter uma ideia, somente 0,3% dos entrevistados afirmam que investem em fundo de ações, por exemplo?, avaliou Celso Grisi, diretor-presidente do Instituto de Pesquisas Fractal.