Pouco tempo atrás seria inviável pensar que estrelas da grandeza de Ronaldo, Robinho, Adriano e Fred poderiam atuar novamente no futebol brasileiro. Isso não só se tornou possível como outros galácticos também estão cotados para voltarem ao país. As bolas da vez são Ronaldinho Gaúcho, o próprio Adriano e até Luis Fabiano, que pegam carona no bom momento da economia tupiniquim.
Na visão dos especialistas, o futebol reflete o crescimento econômico do país. Os clubes se organizaram e se fortaleceram com o aumento do dinheiro em circulação e de fontes de renda que se tornaram ainda mais lucrativas como bilheterias e direitos de transmissão. Mais que isso, viraram principal alvo de patrocinadores e investidores que viram o potencial do esporte como produto.
Diretor de um dos principais grupos de investimentos do país, o Sonda, Thiago Ferro considera o repatriamento uma consequência deste cenário. ?Entendo que faz parte do processo de crescimento do país e enriquecimento dos clubes. Hoje eles (clubes) têm condições de manter um nível que não tinham cinco ou seis anos trás. Se organizaram melhor e vários setores cresceram, principalmente bilheteria e a TV. As empresas estão dispostas a investir e todos os jogadores chegam atrelados a um contrato de publicidade grande?, disse.
De fato, o marketing tem um papel fundamental. São os patrocinadores e investidores os principais responsáveis por desembolsar as cifras que os altos craques exigem para atuarem nos palcos brasileiros. A prova é que todos os jogadores de primeiro escalão que voltaram ao país desde 2008 tiveram salários bancados com a ajuda de grandes empresas.
Uma das primeiras estrelas a ser repatriada foi Fred, do Fluminense. Seu salário inicial de cerca de 100 mil euros (na época cerca de R$ 352 mil) foi praticamente todo custeado pela seguradora de saúde Unimed, patrocinadora master do clube atual campeão brasileiro. O retorno de Adriano ao Flamengo em 2009 também chama a atenção. A fornecedora de material esportivo Olympikus pagou mais de 50% dos salários que giravam em torno de R$ 450 mil.
No Estado de São Paulo não foi diferente. Robinho voltou ao Santos neste ano para ser campeão Paulista e da Copa do Brasil graças a um pool de patrocinadores que bancou o seu salário. Ronaldo vai além. Além de receber um alto salário do Corinthians, detém 80% do valor referente aos patrocínios na manga da camisa e nos calções do uniforme do clube.
É também nesses moldes que os clubes sonham com a volta de Luís Fabiano, Adriano e Ronaldinho Gaúcho. Enquanto o atleta do Sevilla é cogitado no Internacional e no Corinthians, o Imperador estava na mira de Corinthians, Palmeiras e Flamengo. Em entrevista coletiva na quarta-feira, o atacante disse que vai permanecer na Roma, mas que sua prioridade é voltar para o time carioca quando seu contrato terminar.
Já o jogador do Milan é a ?menina dos olhos? deste fim de temporada. É cobiçado por Atlético-MG, Palmeiras, Grêmio, que buscam investidores para custear sua vinda, e Flamengo, que confia na Traffic para pagar 75% do salário.
O diretor de futebol do rubro-negro Luiz Augusto Veloso vê as parcerias como uma prova de que o futebol é rentável. ?Só investem porque os clubes são os canais de investimento. Isso não é fraqueza, é uma demonstração de que os clubes aprenderam a atrair dinheiro novo através de suas marcas. Virou um bom negócio que permite várias utilizações em termos de marketing?, disse.
Mas a economia não é a única responsável por esta imigração. Grande parte dos ídolos brasileiros nessa situação passa por uma fase ruim na Europa. A maioria sai sem multa rescisória e, muitas vezes, tem os salários custeados pelo próprio clube europeu. A isso, atrela-se o desejo do jogador de voltar ao país de origem, para ficar perto da família e novamente provar as regalias de ser um ídolo.
Um exemplo disso foi a passagem de Adriano pelo São Paulo em 2008. O clube do Morumbi arcava com R$ 160 mil por mês e a Inter de Milão bancava o restante. No ano seguinte, infeliz na Itália, chegou a alegar uma depressão e ensaiou até uma aposentadoria antes de "reencontrar a felicidade" no Flamengo.
Ainda outro motivo para a volta é a consolidação do Campeonato Brasileiro e da fórmula dos pontos corridos. O torneio ganhou credibilidade, enquanto a Europa passa por um fenômeno diferente: o enfraquecimento do mercado, que perde atletas também para pólos menos nobres como russo e árabe.
É o que pensa o empresário de atletas como o palmeirense Kleber Giuseppe Dioguardi. ?Tem jogador que está sem mercado, mas que aqui é visto como salvador da pátria. A crise na Europa também ajuda. A Europa acaba perdendo os jogadores de um nível um pouco inferior para mercados árabe e russo?