A produção de milho na safra 2011/12 vai superar 72 milhões de toneladas, número maior que os 66,37 milhões de toneladas de soja colhidas no período. O volume de milho - safra de verão mais segunda safra - vai representar 43,8% da safra total de grãos no Brasil projetada para 2011/12.
Depois de três meses de retração, o Produto Interno Bruto (PIB) do setor agropecuário voltou a crescer no 2º trimestre deste ano, com uma taxa de 4,9%. A expansão foi a maior entre os setores da economia brasileira, que cresceu 0,4% no período, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (31) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Uma combinação de investimentos, bom clima e quebra de safra no exterior é responsável pelo recorde na produção brasileira de milho. Segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra total de grãos no país será de quase 166 milhões de toneladas. A produção de soja em 2011/12 apresenta queda de 11,8% em relação ao período anterior.
Só a antiga safrinha ? hoje com status de "safrão" ? atingiu um recorde de 38,6 milhões de toneladas, alta também recorde de 71,7% quando comparada ao volume alcançado em 2011.
Desse total, 63,4% dos grãos devem ser colhidos, conforme a Conab, no Centro-Oeste brasileiro. Na região estão localizados três dos quatro maiores produtores nacionais: Mato Grosso, o primeiro, com 14,7 milhões de toneladas; Mato Grosso do Sul, o terceiro, com 5,6 milhões de toneladas; e Goiás, o quarto, com 4 milhões de toneladas. Em Mato Grosso, o resultado representa um crescimento de mais de 100% comparado ao ano anterior.
O crescimento exponencial da safra de milho indica que a cultura pode desbancar o reinado da soja em Mato Grosso, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Carlos Fávaro. Mato Grosso é o maior produtor brasileiro de soja do Brasil, com mais de 21,3 milhões de toneladas, conforme o Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária (Imea).
Cidades do milho
Nas cidades de Sorriso, Lucas do Rio Verde, Vera e Cláudia, o crescimento expressivo fez a produção do milho superar a da soja ? feito inédito na história de Mato Grosso.
Em Sorriso, a safra de milho tornou-se 28% maior que a da oleaginosa: 2,5 milhões de toneladas de cereal para 1,9 milhão de toneladas da soja. Já em Lucas do Rio Verde, a mesma relação chega a 914,7 mil toneladas do milho segunda safra para 701,4 mil toneladas de soja. Em Vera e Cláudia, as safras de milho tornaram-se 4,6% e 26% maiores que as de soja, respectivamente.
Segundo Cleber Noronha, engenheiro agrônomo e analista do mercado de grãos do Imea, com mais tecnologia aplicada na safra de milho, a produtividade média ultrapassou a da soja em até 54 sacas por hectare.
Às margens da BR-163, na região médio norte de Mato Grosso, onde se situa o maior celeiro de grãos do Brasil, o verde das lavouras de milho deu espaço a imensas áreas abertas. No campo, as "marcas" evidenciam o recente término de mais uma colheita em 1,3 milhão de hectares.
"Produtores plantaram tudo o que foi possível [em área de milho] e o percentual de uso das áreas de soja passou de 35% para 75% nessas regiões que produziram mais milho", aponta o analista. "O produtor esperava uma safra boa e para isso investiu bastante", cita Daniel Latorraca, gestor também do Imea.
Para o produtor rural Domingos Munaretto, de Lucas do Rio Verde, o resultado da boa safra de milho vai servir para recuperar o fôlego dos anos anteriores. "Com um mercado promissor, todas as decisões foram tomadas em cima de [uma realidade do] mercado", disse.
Segundo Munaretto ? cuja família planta na região 28 mil hectares de soja e 12 mil hectares de milho, os ganhos de uma supersafra vão ajudar o produtor a "colocar a casa em ordem", após as perdas dos trimestres anteriores.
Renda e emprego
Com mais produção, vem mais renda: só em Mato Grosso, a renda exclusivamente agrícola deve crescer 23,5%, batendo na casa dos R$ 25,6 bilhões, segundo a analista de conjuntura econômica do Imea, Gemelli Lyra. Somente a renda com o milho deve crescer 101% este ano e passar de R$ 2,5 bilhões para R$ 4,5 bilhões. Contribui para essa alta a valorização do grão: de janeiro a agosto, o preço da saca de 60 quilos subiu 30,3%, passando de R$ 17,30 para R$ 22,50.
E se as projeções dos especialistas se confirmarem, a boa fase no campo será responsável também por estimular a criação de 33 mil novos postos de trabalho até 2013, entre diretos (no campo), indiretos (apoio à produção como transportes, serviços e outros) e induzidos (consumo das famílias).