Quem acumulou dívidas deve dar preferência à quitação ou à amortização dos débitos, em vez de aplicar a renda extra do 13º salário.
Segundo especialistas, dificilmente o ganho de um investimento vai superar as perdas com juros das dívidas --em média 10,69% ao mês no cartão de crédito e 8,05% no cheque especial, de acordo com a Anefac (associação dos executivos de finanças).
"Resultados superiores a esses só poderiam ser obtidos, eventualmente, na Bolsa ou outras aplicações. O risco, no entanto, é grande. Uma pessoa endividada deve buscar segurança financeira", afirma Fernando Cosenza, diretor da Boa Vista Serviços.
O consumidor parece ter entendido o recado. Uma pesquisa da Anefac aponta que, entre 2010 e este ano, cresceu de 57% para 61% o percentual de pessoas que usará o 13º para o pagamento de dívidas.
RENEGOCIAÇÃO
Mesmo quem não está com dívidas pendentes, mas quer antecipar prestações de financiamentos e empréstimos pode se beneficiar usando o 13º salário. Além de se livrar dos juros das mensalidades adiantadas, a antecipação aumenta o poder de negociação do consumidor que pode conseguir taxas mais baixas.
"O atual cenário de queda de juros é muito favorável a isso. Para quem tem financiamento, existe a opção de portabilidade do contrato", diz.
Dessa forma, o comprador pode levar seu financiamento a outras instituições e transferir o débito para quem ofereça taxas melhores.
"Os bancos serão mais simpáticos a quem já tem algum dinheiro no bolso que possa garantir o pagamento antecipado de algumas parcelas."
FUGA DA DÍVIDA
A aposentada Araci Prado Guimarães, 67, recebe dois salários mínimos por mês. Para quitar suas contas, adiantou o 13º salário pelo banco, mas as prestações de um antigo empréstimo estão muito pesadas. "Não há como eu pagar uma conta de mais de R$ 300 por mês", diz.
Na última quinta, ela foi ao balcão da Boa Vista Serviços em busca de orientação sobre como renegociar sua dívida. "Não tenho esperança de que consiga liquidar essas parcelas. Preciso de ajuda para resolver esse problema."
Quem já está respirando aliviada é a atendente Daniela Glória, 28, após saldar duas dívidas: uma no cartão de crédito e outra no cheque especial. Todo o dinheiro de seu 13º salário foi usado na quitação e seu nome não consta mais nos serviços de proteção ao crédito.
Não restou dinheiro para a compra de presentes e para as festas de fim de ano. "Aprendi a lição. Vou ser mais cuidadosa com o cartão de crédito no próximo ano."
A auxiliar administrativa Cristiane Soares, 34, também pretende começar o próximo ano sem dívidas. Há um ano, ela terminou a faculdade de enfermagem e tomou um empréstimo bancário para quitar suas mensalidades.
A dívida veio crescendo ao longo do ano e chegou a R$ 1.500. Com a impossibilidade de pagar as prestações, Cristiane já planejava usar o 13º salário para quitar a pendência. "É um dinheiro que ajuda muito no fim de ano."
Geralmente, a auxiliar administrativa usa os recursos para a compra de presentes de fim de ano.
"Neste ano, o Natal vai ficar mais apertado lá em casa, mas o importante é começar o ano com o nome limpo."
O motorista Alex Sandro Silva Jorge, 39, e sua esposa, Soliene Silva Santos, 24, vão usar o 13º salário para quitar dívidas pela primeira vez.
As despesas para montar a casa depois do casamento e os gastos médicos por causa da gravidez de Soliene fizeram com que o casal acumulasse uma dívida de R$ 2.500 no cartão de crédito.
A primeira parcela do 13º salário do motorista vai inteiramente para a quitação do débito. A segunda parcela completará o pagamento.
"O que sobrar vamos usar para comprar o enxoval do bebê, que deverá nascer no dia 7 de janeiro", afirma ela. "No próximo ano, o cartão deverá ficar sem uso."