A região dos Campos Gerais, no Paraná, apresenta uma nova raça de gado para a pecuária de corte brasileira: o purunã, que leva sangue caracu, aberdeen angun, charolês e canchim.
Em 1980, quando o Instituo Agronômico do Paraná (Iapar) começou os trabalhos de cruzamento das raças já tradicionais na pecuária do sul do estado, não passava pela cabeça dos pesquisadores a criação de uma nova raça.
Nos anos 90, porém, o rumo dos trabalhos ganhou outras proporções. ?Começava a entrar no Brasil a difusão e a utilização de raças compostas para a pecuária de corte?, explica o zootecnista da Iapar, José Luís Moletta. Ele e o agrônomo Daniel Perotto são os responsáveis pela criação do purunã.
O purunã combina as características desejáveis das raças formadoras. ?Ele tem o desenvolvimento muscular do charolê, ou seja, boa produção de carne; a resistência ao carrapato e a boa produção de leite do caracu, o tornando uma excelente raça materna; a rusticidade e a tolerância ao calor do canchim; e a qualidade da carne e a precocidade de abate do aberdeen angus?, explica Daniel.
Partindo das raças formadoras, os pesquisadores estruturaram os cruzamentos até chegar ao purunã, a terceira geração dos animais mestiços, já com sangue das quatro raças originais. Na sua composição predominam as características do charolês, com 40%. O purunã foi batizado assim em homenagem a uma serra do Paraná, que tem o mesmo nome.
O técnico agrícola João Motta acompanha de perto os nascimentos dos purunãs na estação do Iapar: ?A raça ainda não tem uma cor definida, já que ela é um composto vindo de quatro raças de cores diferentes. Eles nascem branco, vermelho, preto. Alguns são mais peludinhos. Por isso, um caminho que possivelmente nós vamos trabalhar no purunã é uma seleção, uma direção para pelagem mais definida. A tendência é chegar em um baio para branco?.
Como o objetivo é a produção de carne, os pesquisadores mantêm em um barracão de confinamento, animais com idade entre dez e 15 meses, alimentados com silagem de milho, farelo de soja e sal mineralizado. ?Hoje, eles ganham em torno de um quilo e meio por dia, um ótimo ganho de peso para animais dessa categoria?, afirma José Luís.
Na condição a pasto, os tourinhos purunãs selecionados como reprodutores representam, aos 22 meses de idade, o que há de mais evoluído na genética da raça. ?Esses animais têm apresentado média de 900 gramas por dia de ganho de peso, exclusivamente a pasto. Hoje, o rebanho de purunã no Brasil deve estar em torno de 1300 animais fora do Iapar?, afirma José Luís.
Para que a raça seja reconhecida no Ministério da Agricultura, o purunã precisa marcar uma presença maior na pecuária de gado de corte nacional, seja aumentando o número de animais ou expandindo o plantel para outros estados.
Uma das últimas vendas de purunã feitas pelo Iapar foi entregue na propriedade do criador Paulo Camargo, no município de Candói. Ele comprou três touros da raça para cobrir seu rebanho de 140 matrizes de sangue azebuado.
Com a intenção de acelerar a produção de purunã na propriedade, Paulo também resolveu comprar 15 matrizes já prenhas e os primeiros resultados já começaram a nascer: dois machos e uma fêmea.
?Investimos mais ou menos R$ 32 mil. Teremos o retorno do investimento nos touros já na próxima produção e das vacas daqui dois anos, quando estaremos vendendo pronto o touro purunã?, afirma o produtor.
A maior parte dos criadores de purunã está na região oeste do Paraná. Por se tratar de uma raça nova, com poucos animais disponíveis, alguns pecuaristas estão manejando os cruzamentos na própria fazenda.
O veterinário Piotre Laginski vem trabalhando com a nova raça desde 2009. Sua família é dona de três fazendas na região e todas são voltadas para o desenvolvimento do purunã. Na sede de Catanduvas é feito o trabalho de inseminação artificial com sêmem de purunã. ?Nós pegamos um plantel de novilhas puras canchim e introduzimos o purunã. Posteriormente, fazemos o repasse com touros purunãs. Nós temos nessa propriedade meio sangue, já promovendo com a inseminação para três quartos para chegarmos futuramente ao puro?, explica.
Em Cascavel, na segunda propriedade de Piotre, é feito exclusivamente o trabalho de confinamento. São levados para lá os mestiços purunãs, que não servem para reprodução, e também alguns animais canchins, raça criada na fazenda há pelo menos 30 anos.
A 30 quilômetros do confinamento, fica a terceira propriedade do veterinário, onde ocorrem os nascimentos dos mestiços que vão dar origem aos animais puros. ?No ano passado, nasceram 86 bezerros com sangue purunã. Este ano serão 116 e a partir do ano que vem 180. Em quatro ou cinco anos, teremos o primeiro purunã puro produzido aqui pelas nossas propriedades?, prevê Piotre.
Nesta semana, durante a Exposição Agropecuária de Ponta Grossa será anunciada a liberação do Ministério da Agricultura para o certificado de identificação de produção do purunã, passo importante para o reconhecimento da raça.