O ministro da Economia, Paulo Guedes, reafirmou neste domingo (24) a flexibilização do teto de gastos do governo e cobrou do presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco (MG), a aprovação de reformas na casa legislativa, como as mudanças nas regras do Imposto de Renda.
Guedes deu a declaração pela manhã, junto do presidente Jair Bolsonaro, durante visita dos dois a uma feira de criadores de passarinhos no Parque de Exposições da Granja do Torto, em Brasília.
De pé, ao lado de Bolsonaro e cercado de apoiadores do governo, Guedes defendeu a reformulação da regras do teto de gastos como forma de implementar o programa social Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família. Segundo ele, é preciso "flexibilizar um pouco para atender aos brasileiros mais frágeis".
"As pessoas falam: ‘Você não é defensor do teto?' Eu sou defensor do teto. Eu vou continuar defendendo o teto. Eu defendo as privatizações. Agora, o presidente tem que tomar uma decisão política muito difícil: se ele respeita o teto ou deixa 17 milhões de famílias passando fome. Então, ele tem que pedir. Ele tem que pedir uma ação social que proteja a população. E eu tenho que calibrar essa ajuda", disse.
Na última sexta-feira, diante da reação negativa do mercado, dos pedidos de demissão de quatro secretários do ministério em razão da decisão do governo de "furar" o teto de gastos e de rumores de que o próprio Guedes poderia sair, o ministro recebeu a visita do presidente Jair Bolsonaro, que declarou ter "confiança absoluta" no auxiliar. Na ocasião, disse que não pediu demissão, que a crise era "barulho" e "falta de comunicação" e minimizou como "natural" a saída dos secretários.
Neste domingo, Guedes cobrou do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, a tramitação de reformas, entre as quais a do imposto de renda, já aprovada pela Câmara.
Ele disse que Bolsonaro estava pressionado pela "política", precisava de R$ 30 bilhões para implementar o Auxílio Brasil, e o Senado não aprovou a reforma do imposto de renda, que prevê a tributação em 15% de lucros e dividendos distribuídos pelas empresas. Segundo afirmou, essa seria a "fonte" para financiar o programa.
"Se a gente avançar com o imposto de renda, por exemplo, que tira justamente, tributa justamente quem ganha R$ 300 bilhões com juros e dividendos, nós podemos ajudar os mais frágeis. Então, nós conseguimos ajudar os mais frágeis fazendo o que nós sempre fizemos – fazendo as reformas", declarou.
E cobrou de Pacheco a aprovação dessas reformas:
“Ele precisa avançar com a reforma, ele precisa nos ajudar a fazer as reformas. Ele não pode fazer militância também. E eu tenho certeza que não vai fazer. Nós conversamos na semana passada, e ele falou: ‘Olha, nós temos que acelerar os precatórios, a aprovação, nós temos que avançar com as reformas’. Ele sabe que nós estamos no caminho certo. O presidente do Senado sabe que nós estamos no caminho certo”, afirmou o ministro.
Pacheco já afirmou que a proposta que muda o imposto de renda está "amadurecendo" no Senado, mas entende que não é "condição única" para a concessão do Auxílio Brasil.
‘Sairemos juntos’
Durante a entrevista, um apoiador pediu a Guedes que aproveitasse a oportunidade para dizer se continuaria no governo.
Bolsonaro se adiantou e respondeu:
“A gente vai sair junto, fica tranquilo. Está bem? Bem lá na frente, a gente vai sair junto”, afirmou Bolsonaro.
Combustíveis e Petrobras
Bolsonaro afirmou que, prevendo aumento do preço dos combustíveis, o governo dará um auxílio de R$ 400 por mês aos caminhoneiros autônomos, anunciado na semana passada.
"Infelizmente, pelos números do preço do petróleo lá fora e do dólar aqui dentro nos próximos dias, a partir de amanhã, infelizmente teremos reajuste do combustível. Prevendo isso, se antevendo a isso, nós discutimos bastante um auxílio ao caminhoneiro. Sabemos que é pouco, R$ 400 por mês, sabemos que é pouco. Mas estamos fazendo isso tudo no limite da responsabilidade fiscal", disse Bolsonaro.
O presidente afirmou que discute com Paulo Guedes o que o governo federal sugerirá para o "futuro" da Petrobras.
Questionado se há possibilidade de vender a participação na empresa petrolífera, Bolsonaro passou a resposta para Guedes:
"Isso o Paulo Guedes responde para você. Privatizar não é botar na prateleira e tudo bem, tá? É complicada essa ação. Teríamos privatizado muito mais coisas se não tivesse essa burocracia toda", respondeu.
Guedes evitou comentar diretamente a venda de ações da companhia. Disse que a "Petrobras é um veneno que pode virar vacina" caso a empresa consiga ter um regime de governança como o que, segundo ele, está sendo implementado na Eletrobras.
"Só o BNDES tem uma fortuna, são bilhões e bilhões em ações da Petrobras. Se nós formos para o novo mercado, nós criamos entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões de riqueza para os brasileiros. Vamos pegar esse dinheiro e vamos ajudar os mais fracos. Vamos acelerar os programas de transferência de renda, fazer os programas sociais. Então, nós temos ferramentas. O importante é que a gente prossiga com as reformas", disse o ministro.