A defasagem nos preços do diesel abriu enorme janela de oportunidades para importações do produto por empresas privadas no Brasil. Há notícias de pelo menos duas empresas que tenham trazido cargas do exterior nos últimos meses, a preços menores do que os cobrados pela Petrobrás no Brasil. O setor de transporte de cargas reclama dos altos preços cobrados pelo combustível no País.
Segundo informações de mercado, as distribuidoras Cosan e Terrana estão entre as que importaram diesel nos últimos meses. A lista de autorizações para importações emitidas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) engloba ainda uma série de outras empresas, como Sul Plata Trading e Intertek.
A Terrana, novata no mercado brasileiro, afirma ao Estado que trouxe três cargas, com média de 3 milhões de litros cada, para seus clientes. Controlada pela americana World Fuel Services, a empresa abastece postos de combustíveis de bandeira branca e grandes clientes no País.
O diretor-geral da Terrana, Abel Leitão diz que as cargas são trazidas normalmente do Golfo do México. O combustível é desembarcado no terminal da Oil Tanking, no Espírito Santo, de onde segue para os mercados consumidores. A janela de importação de diesel tem contribuído para o crescimento de suas atividades, hoje restritas a Rio e Espírito Santo, mas com planos de expansão para Minas, São Paulo e Nordeste.
O Brasil é tradicionalmente importador de diesel, pois as refinarias locais não têm capacidade para suprir o mercado interno. As compras externas, no entanto, costumavam ser restritas à Petrobrás, que tem a infraestrutura logística necessária para receber o combustível do exterior. A atuação de companhias estrangeiras, dizem especialistas, só é possível diante da grande diferença de preços.
Mais caro. Segundo projeções da consultoria Tendências, o diesel brasileiro continuará mais caro que o internacional até o fim de 2011, caso não haja alterações significativas no mercado de petróleo. Análise feita pelos consultores Walter de Vitto e Camila Saito aponta uma defasagem média de 7% no período. Na quinta-feira, a diferença era de 10%, considerando os custos de frete e tancagem na importação do produto - sem considerar esses fatores, a defasagem é de 24%.
O consultor Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), diz que é "um fator a mais no custo Brasil". O presidente da Associação Brasileira de Logística e Transporte de Carga, Newton Gibson, concorda e lembra que o combustível representa cerca de 30% dos custos das empresas de transporte.
- Esse custo tão alto reduz a competitividade do Brasil com o resto do mundo.
O crescimento do mercado consumidor inflou as importações de diesel este ano, que no primeiro semestre cresceram 224% com relação ao mesmo período do ano anterior - um ano de baixo consumo - para 3,8 bilhões de litros, segundo dados compilados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). O valor é 31% superior ao registrado no ano de 2008.
Já no caso da gasolina, apesar da defasagem, são raros os casos de importação por empresas privadas. Isso porque o Brasil produz excedentes do combustível, que são exportados pela Petrobrás. No primeiro semestre, o cenário foi diferente por causa do alto preço do etanol, que levou à migração de proprietários de veículos bicombustíveis para o derivado do petróleo. Mas o quadro já foi revertido a partir do início da safra de cana-de-açúcar e a tendência é que as exportações voltem a ocorrer.