Tecnologia nacional, abundância de matéria-prima e demanda crescente. O etanol tem tudo para dominar a matriz de combustíveis brasileira, mas a sua participação cai nos últimos anos.
Até outubro, o etanol representava 35% do consumo de combustíveis, segundo estimativa da Datagro, consultoria especializada no setor. Em 2009, esse percentual chegou a 45% -o maior da era de veículos flex.
É impossível não associar o problema à imprevisibilidade da política de preços dos combustíveis no país. Como o etanol rende 30% menos do que a gasolina, o seu preço deve ser pelo menos 30% inferior ao do combustível fóssil para atrair o consumidor.
"Preço é fator determinante na escolha do motorista para abastecer o carro. Se o valor da gasolina é controlado pelo governo, esse controle, por consequência, se estende ao etanol", diz Elizabeth Farina, presidente da Unica (União da Indústria da Cana).
Mais do que impor um limite ao preço do etanol, a política adotada no reajuste dos combustíveis eleva os riscos dos investimentos.
"O empresário não pode assumir o imponderável dessa ação errática do governo", diz Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro.
Nas últimas semanas, o setor recebeu um balde de água fria após a Petrobras ter comunicado que não divulgaria a metodologia que passou a adotar para o reajuste dos combustíveis -medida que poderia dar um pouco de previsibilidade ao setor.
PLANEJAMENTO
Os gastos com a construção de unidades estão paralisados nos últimos anos. Mesmo após a recuperação de aproximadamente 15% na produção em 2013, a oferta de etanol está no mesmo nível verificado em 2008.
O problema não é falta de demanda. "A potencialidade de aumento do consumo é muito grande. A frota flex cresce a taxas elevadas e há um limite para a produção de gasolina. Então ou importamos mais gasolina ou elevamos a produção de etanol", diz Farina.
Para acompanhar o ritmo da demanda, seria necessário um crescimento de cerca de 10% ao ano na produção de etanol, segundo Julio Maria Borges, da JOB Economia e Planejamento. "Mas não vejo essa possibilidade."
A saída para a retomada do setor está no planejamento. "O governo precisa deixar claro para o empresário qual deve ser o papel do etanol", afirma a presidente da Unica.
O setor defende políticas públicas que valorizem o fato de o etanol ser um combustível 100% renovável, como redução de tributos e metas de longo prazo para seu uso.
HISTÓRICO
A crise no setor de açúcar e etanol começou em 2008, com a crise internacional. O momento era de euforia no setor, que, motivado pelo aumento da frota flex, investiu pesado na produção.
Altamente endividadas em dólares, muitas usinas registraram elevados prejuízos com a valorização cambial. Algumas não resistiram e, entre as sobreviventes, o fôlego para novos projetos diminuiu significativamente.
Com o passar do tempo, diminuíram os efeitos da crise global, mas a perda de competitividade com a gasolina impediu nova onda de investimentos na produção.