Alta do custo de vida tem feito casais decidirem não ter filhos. Em cinco décadas, a configuração das famílias mudou no País, com a taxa de fecundidade brasileira despencando de seis para menos de dois filhos.
Grandes metrópoles apresentam maior gasto familiar para a manutenção de crianças e adolescentes, com custo mensal aproximado de R$ 3 mil na classe média.
Em 2030, cada mulher deverá ter apenas 1,5 filho no Brasil, segundo projeção do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No começo do século 21, a taxa de fecundidade era de 2,38, enquanto na década de 1960 era superior a 6.
Qual é a fórmula para garantir o futuro dos filhos?
A tendência de casais sem filhos cresce, assim como o número de pessoas vivendo sozinhas. De acordo com o último levantamento do IBGE sobre famílias, cerca de 20% dos casais optam por não gerar descendentes. A queda é atribuída pelo órgão à modernização das relações sociais, ao aumento da escolaridade e à inserção das mulheres no mercado de trabalho.
Outro fator a ser considerado nessa decisão é a elevação do custo de vida, em especial nas grandes cidades. Segundo levantamento do Instituto Ipsos, 73% dos brasileiros indicam que seus gastos aumentaram no segundo semestre de 2021.
Quais são as cidades mais caras para criar um filho no Brasil?
As grandes metrópoles são os locais mais caros para se criar um filho no Brasil, segundo Ricardo Hiraki, sócio-diretor da Plano, fintech de educação financeira.
Brasília (DF) lidera o ranking de cidades com alto custo de vida para se criar uma criança, conforme dados internos da empresa de consultoria financeira.
A capital federal é seguida por São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ). No caso de paulistanos e cariocas, existe uma diferença muito grande no custo de acordo com a região da cidade.
Isso acontece em boa parte porque o valor pago a escolas particulares, principal gasto com a criação de filhos no Brasil, segundo o levantamento da Plano, é consideravelmente mais alto em bairros específicos.
Cabe destacar que a minoria das crianças brasileiras estuda em escolas privadas, o que é também uma variável importante nessa conta.
Segundo o último censo escolar, divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) em janeiro deste ano, apenas 18% dos alunos estudam em colégios particulares.
Cidades menores podem apresentar custos até 25% mais baixos na criação dos filhos, de acordo com Hiraki.
Fora dos grandes centros, os pais encontram alternativas tanto de escolas quanto de atividades extracurriculares que conseguem aliviar bastante os gastos com os filhos.
Quanto custa ter um filho no Brasil?
O custo para a criação de um filho no Brasil depende da renda da família. Em residências com menor poder aquisitivo, as crianças costumam frequentar escola pública devido ao orçamento familiar mais restrito.
Uma família com renda acima de R$ 15 mil nas cidades mais caras, por exemplo, destina de 20% a 30% do dinheiro para a criação dos filhos, calcula Hiraki.
“É comum as crianças frequentarem escolas de alto padrão e aulas extracurriculares, além de terem convênio médico e gastos com serviços”, afirma.
Nesse caso, o custo mensal pode ultrapassar R$ 3 mil e o investimento no filho desde o nascimento até os 18 anos de idade é maior que R$ 650 mil.
Nas classes mais altas, o percentual com relação à renda familiar total é menor, mas os valores gastos são consideravelmente maiores, enquanto nas famílias com menor remuneração o custo absoluto é menor, mas o peso no orçamento é proporcionalmente mais alto.
Para reduzir os custos com a criação dos filhos, os pais geralmente abrem mão de serviços, como pessoas que auxiliam no cuidado com as crianças, e reduzem ou substituem atividades extracurriculares, segundo o especialista.