A Queiroz Galvão vai negociar nos próximos dias uma forma de garantir maior participação na construção da hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu (PA). A empresa cogitou deixar o consórcio vencedor do leilão, e o governo entendeu que a ameaça seria uma forma de pressão para ter uma fatia maior da obra.
O Palácio do Planalto foi avisado sobre a ameaça da Queiroz Galvão logo após o encerramento do leilão. Coube ao ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmerman, discutir o assunto com a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, que participou ativamente das negociações que garantiram a formação do consórcio que arrematou a usina, apesar do favoritismo do grupo liderado por Andrade Gutierrez.
Um funcionário do governo próximo às negociações diz que a construtora está ?querendo mais participação na área de construção?, mas que haverá diálogo entre os sócios para delinear melhor o projeto.
Oficialmente, a Queiroz Galvão não fez comentários sobre a possibilidade de desistência, que foi divulgada pelo presidente do consórcio, José Ailton de Lima, que também é diretor de engenharia e construção da Chesf, subsidiária da Eletrobrás que liderou o grupo vencedor.
A possibilidade de a Queiroz abocanhar uma parcela significativa da construção é remota. Segundo fonte do setor, desde o início da formação do consórcio Norte Energia, já estava certo que a construção da usina seria repartida entre grandes construtoras para diminuir o custo da obra.
- A ideia de deixar para a Queiroz uma parcela gigantesca do projeto é um sonho de uma noite de verão.
Concorrentes
A preocupação da Queiroz Galvão é ficar apenas com o risco do projeto - porque detém 10,02% do grupo que irá administrar a usina - e perder para as concorrentes Camargo Corrêa e Odebrecht parcela significativa do contrato de construção efetiva da hidrelétrica, que será a terceira maior do mundo.
As construtoras Odebrecht, Camargo Correa e Andrade Gutierrez podem ser chamadas a integrar o projeto da obra, como contratadas do consórcio vencedor do leilão realizado nesta terça-feira (20).
Fontes do governo próximas ao negócio dizem que não veem condições de concluir a obra sem a participação das maiores empresas do setor. As três acompanharam de perto todo o desenvolvimento da usina, desde a década de 1970.
Um funcionário da Eletrobras diz que as três empresas participam do projeto desde o início e ?não tem dúvida de que serão chamadas?.
Odebrecht e Camargo Correa desistiram do leilão há uma semana, alegando que não viam atratividade no projeto, diante das condições estabelecidas pelo governo. Já a Andrade Gutierrez integrava o consórcio que perdeu a disputa de ontem.
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou que o consórcio Norte Energia, liderado por Chesf e Queiroz Galvão, venceu o leilão para a construção da usina. Ganharia quem oferecesse o menor lance para o megawatt-hora, cujo teto foi definido em R$ 83. O grupo deu R$ 78 - 6,02 % a menos que o máximo.
Agora o consórcio vencedor tem 30 dias para apresentar um ou mais sócios estratégicos para a realização do empreendimento.