As reservas brasileiras internacionais cresceram ao longo de 2024, aumento observado desde o início do terceiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo dados do Banco Central, a cifra está em US$ 362,225 bilhões, volume 2% maior que a observada em dezembro do ano passado, quando as reservas do país estavam em US$ 355 bilhões.
As reservas internacionais são os ativos do país em moeda estrangeira e funcionam como uma espécie de colchão de segurança contra choques externos, como crises cambiais ou fugas de capital, em momentos de turbulência no mercado global. Na reta final do ano, contudo, a tendência é de redução no volume total das reservas. Em dezembro, tradicionalmente, há um aumento no fluxo de saída de dólares do país, o que exige maior atuação do Banco Central (BC) para dar liquidez a esse movimento sazonal.
MERCADO DE CÂMBIO
A última atualização do BC foi feita na última sexta-feira (13) e não levou em consideração a sequência de leilões realizada nos últimos dias em meio à disparada do dólar. Desde a última quinta-feira (12), a autoridade monetária injetou US$ 12,760 bilhões no mercado de câmbio por meio de leilões à vista ou com compromisso de recompra -chamado de leilão de linha. Na terça-feira (17), o Banco Central vendeu US$ 3,287 bilhões em dois leilões extraordinários de dólares à vista, o maior valor negociado nesse tipo de operação desde março de 2020.
As reservas brasileiras cresceram significativamente nas últimas duas décadas, de US$ 53 bilhões em 2004 para US$ 363 bilhões em 2024, com um pico de US$ 388 bilhões em 2019. As reservas são compostas principalmente por títulos governamentais e outros ativos, como ouro e depósitos em moedas.
Em setembro, as reservas internacionais do país atingiram US$ 372 bilhões, mas caíram para US$ 363 bilhões em novembro. No relatório de gestão das reservas internacionais, o BC mostrou que o retorno dos investimentos das reservas internacionais no ano passado decorreu de alguns fatores, como níveis de juros e paridades das moedas de investimento contra o dólar.
VOLUME ADEQUADO
Silvio Campos Neto, economista-sênior da Tendências Consultoria, explica que o crescimento das reservas em 2024 reflete o aumento do valor dos títulos que compõem boa parte do colchão de segurança do país.
"Como as taxas de juros caíram no exterior ao longo do ano, principalmente nos Estados Unidos, o preço dos títulos subiu. Com títulos mais valorizados, as reservas subiram", disse, em reportagem da Folha.
Na visão dele, o Brasil possui reservas "volumosas e adequadas" para dar conta dos compromissos do país. "Elas superam com margem a dívida externa do governo em dólares e são similares ao montante da dívida externa total", acrescenta.
Em outubro, o valor da dívida externa era de R$ 1,17 trilhão (equivalente a US$ 202,4 bilhões, na cotação daquele mês), incluindo compromissos do governo federal, suas empresas e de estados e municípios.
O nível adequado das reservas internacionais é motivo de discussão entre economistas e até mesmo entre órgãos públicos. Para Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital e ex-diretor do BC, o Brasil encontra-se em um patamar adequado. "Após a crise asiática de 1997, os emergentes montaram posição de reservas internacionais significativa", diz.
O crescimento das reservas em moeda estrangeira dos bancos centrais de todo o mundo foi puxado por países emergentes, que viram necessidade de ter um "seguro próprio". Le Grazie ressalta que o nível "ótimo" de reservas de um país depende, entre outros fatores, do grau de abertura econômica, da balança comercial e dos riscos domésticos. Lembra também que existem países que deixam a moeda flutuar e ajustam eventuais desequilíbrios pelo âmbito fiscal. "Nesse caso, a disciplina fiscal é a chave", acrescenta.
Com informações da Folhapress