Fred Turner, ex-executivo que morreu na última semana, foi um exemplo de grande ascensão profissional: passou de preparador de hambúrgueres do McDonald"s a presidente da empresa, em 1974, ajudando-a a se tornar uma marca global.
Mas e hoje, ainda é realista pensar que é possível subir da base à chefia de uma empresa?
Quando o britânico Jarrod Best tinha 16 anos, seu pai lhe disse que ele não era "inteligente o bastante" para passar na universidade.
Ainda que depreciativo, o comentário serviu para que Jarrod se esforçasse para se provar para sua família. Ele começou a trabalhar como ajudante de uma empreiteira e, passados 20 anos, tornou-se diretor-gerente e sócio da empresa, comandando 80 funcionários e milhões de dólares em receita.
? Queria olhar meu pai de igual para igual, em vez de pedir dinheiro emprestado para ele.
A história de Best, assim como a de Turner, é cada vez mais incomum. No mundo corporativo, a habilidade de convencer investidores e elaborar estratégias globais é mais valorizada do que virtudes tradicionais como trabalho duro e bom senso.
"Mitologia"
Para Matthew Gwyther, editor do periódico especializado Management Today, diz que trabalhar para chegar da base ao topo, a exemplo de Turner no McDonald"s, atualmente é mais "mitologia" corporativa do que realidade.
? É algo meio folclórico e antiquado.
Muitas empresas grandes esperam que seus executivos passem uma semana "nos andares de baixo" para aprender como o negócio funciona - e isso, argumenta Gwyther, é mais do que suficiente.
? Não é preciso trabalhar anos como limpador de chaminé para saber a respeito de chaminés.
Há muitos exemplos de executivos de origem humilde, principalmente em áreas como varejo e serviços. Mas são raros os que foram de um cargo muito baixo a um muito alto.
São poucos os que são carismáticos, empenhados e ainda se mantêm na mesma empresa ao longo de anos. Estes costumam falar de suas empresas como uma "família" e creem que qualquer um pode chegar à diretoria se for suficientemente esperto e esforçado.
Michel Taride, presidente do braço internacional da empresa de aluguel de carros Hertz, diz que "os olhos das pessoas saltam" quando ele conta que está na mesma companhia há quase 40 anos.
Taride passou sua adolescência sonhando ser músico e só concorreu ao emprego de diretor de uma agência da Hertz para satisfazer sua mãe. Para sua própria surpresa, pegou gosto pelo trabalho e começou sua subida na escada corporativa.
Individualismo e mobilidade social
Mas ele admite que o mundo mudou desde então.
? As pessoas são menos leais, mais individualistas. Há menos sentimento de compromisso com uma empresa.
Stuart Rose, ex-presidente da gigante varejista britânica Marks & Spencer, diz que começou vendendo pijamas na empresa.
? As pessoas tentam, erroneamente, planejar suas carreiras até o nono grau. Vivemos numa sociedade do imediatismo. Todos querem chegar ao topo. Só um consegue ser executivo-chefe. Trabalhei numa empresa que empregava 100 mil pessoas, o que significa que 99.999 delas não terão esse cargo.
Ao mesmo tempo, ele se preocupa com o aparente colapso da mobilidade social em seu país - reclamação constantemente ouvida também nos EUA e em outras partes da Europa.
Para Rose, os jovens atuais têm "menos disposição a fazer sacrifícios".
? "Muitos estão fechando seus próprios horizontes.
Já Ian Payne, presidente da rede de pubs britânicos Stonegate, se queixa do que considera "falta de ambição" entre alguns jovens. E admite que tende a preferir empregados que começaram lá embaixo e cresceram, como ele.
Payne fala com orgulho de um jovem empregado de 27 anos que começou como funcionário de meio período de um dos pubs e hoje é um dos gerentes da empresa.
Em contrapartida, "temos um cara que trabalha para nós há seis anos, na mesma função. Disse a ele que ele precisa de um belo chute no traseiro".