"Marcado pela própria natureza, o Nordeste do meu Brasil. Oh, solitário sertão de sofrimento e solidão; a terra é seca, mal se pode cultivar, morrem as plantas e foge o ar, a vida é triste nesse lugar (...)". Os versos do samba-enredo da Em Cima da Hora, de 1976, retratam uma região que já não existe mais. Hoje, em vez da tristeza, da aridez e da pobreza, o Nordeste olha para o futuro, redefinindo-se e posicionando-se como uma terra promissora.
Outrora considerado o "patinho feio" da nação, o Piauí busca ressignificar sua posição no cenário nacional. Aos poucos, o Estado luta para abandonar o passado como o mais pobre e menos desenvolvido da Federação. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam um crescimento de 6,2% no Produto Interno Bruto (PIB) em 2022, comparado ao ano anterior. O resultado foi superior à média nacional de 4,8%, sendo o melhor do Nordeste e o terceiro do país.
Além da questão econômica e todas as nuances que a envolvem, para um ente federativo que ainda enfrenta desafios financeiros significativos, é necessário pensar "fora da caixinha" e promover uma revolução que se inicie pela tecnologia.
Diante desse cenário, na última quarta-feira, 18 de dezembro, o governador Rafael Fonteles anunciou um projeto ousado e pioneiro não apenas no Brasil, mas em todos os países de língua portuguesa: uma Inteligência Artificial com banco de dados 100% em português. A SoberanIA terá funções similares ao popular ChatGPT e poderá ser utilizada por cidadãos de qualquer lugar do mundo.
O nome é sugestivo e carrega o significado de soberania, reafirmando que o Piauí não quer mais ser conhecido pelas mazelas, mas sim pela inovação. O projeto busca empoderar o povo piauiense, oferecendo protagonismo à sua gente e rompendo com as barreiras sociais que historicamente afetam o Estado.
A plataforma, que está sendo desenvolvida no Estado nordestino, terá controle local total, garantindo mais privacidade e segurança nos procedimentos, especialmente nas ações das Secretarias.
A SoberanIA será baseada em um modelo conversacional, permitindo que os usuários tirem dúvidas e contribuam com novas informações, otimizando a ferramenta continuamente.
Com uma pasta específica dedicada à Inteligência Artificial, o Piauí não quer mais depender de tecnologias externas, buscando autonomia tecnológica e inovação local.
PRIMEIRO TERRITÓRIO DAS AMÉRICAS COM ENSINO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
No Piauí, cerca de 140 mil alunos da rede pública de ensino já estão aprendendo as nuances da Inteligência Artificial. O Estado foi reconhecido pela Unesco como o primeiro território das Américas a implementar essa disciplina, consolidando-se como o terceiro do mundo.
A disciplina é obrigatória e integra o currículo a partir do nono ano do ensino fundamental, estendendo-se ao ensino médio.
Para reforçar a importância de aprender sobre IA, centenas de professores participaram, na última quarta-feira, 18 de dezembro, de um seminário de preparação. Além do Piauí, apenas a China e a Coreia do Sul possuem a Inteligência Artificial em suas grades curriculares.
Durante o evento, a professora Rosa Vicari, especialista em Tecnologias da Informação e Comunicação e integrante da Cátedra Unesco, destacou o ineditismo da iniciativa, que eleva o Piauí a um novo patamar.
NO INTERIOR DO PIAUÍ, A IA FLORESCE A ESPERANÇA
Localizada a 363 km da capital Teresina, a pequena Itainópolis almeja um futuro melhor para seus habitantes. Com inovação e tecnologia, as fronteiras se rompem, e os sonhos estão literalmente na palma da mão.
Danilo Carvalho, um dos 800 professores capacitados no seminário, dá aulas no Centro Estadual de Tempo Integral Álvaro Rodrigues de Araújo e vê no ensino da Inteligência Artificial uma nova oportunidade para os piauienses.
“Os encontros formativos e os materiais de apoio oferecidos ao longo do ano foram fundamentais para apresentarmos a disciplina de forma clara e eficaz aos alunos”, afirmou.
Esse sentimento é compartilhado pelos estudantes, como Luís Felipe Dias, que vê na Inteligência Artificial e na tecnologia um campo sem limites.
"A disciplina nos trouxe novas perspectivas. É um avanço que vai nos preparar para as exigências do mundo do trabalho, que só tendem a crescer", declarou.
MeioNews, Washington Bandeira, secretário de Educação do Piauí, ressalta o papel da pasta na inserção da Inteligência Artificial nas escolas, especialmente na formação dos docentes, e agora, na implementação da SoberanIA.
AoCONSULTAS NA 'PALMA DA MÃO'; A INOVAÇÃO NA SAÚDE NUM DOS MENORES MUNICÍPIOS DO BRASIL
O Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou uma pesquisa neste ano apontando que a Inteligência Artificial impactará 60% dos trabalhos nas economias avançadas e 40% em todo o planeta no próximo biênio.
Atualmente, a tecnologia é peça-chave em diversos âmbitos, incluindo áreas essenciais, como a saúde.
No Piauí, uma série de procedimentos já é realizada por meio de um sistema digital, permitindo que moradores de cidades distantes não precisem se deslocar centenas de quilômetros. Esse é o caso do ajudante de pedreiro Antônio Pereira, que precisou abandonar o trabalho após desenvolver uma alergia ao cimento. Morador do pequeno município de Miguel Leão, ele é atendido por uma dermatologista através do Saúde Digital, na Unidade Básica de Saúde da cidade.
Com um processo automatizado, os pacientes são atendidos à distância.
"Vi a oportunidade de estar aqui quando meus amigos falaram que existia uma sala digital em Miguel Leão. Quando cheguei, fui medicado e tive êxito. Tenho percebido que os ferimentos estão diminuindo aos poucos", relatou Antônio.
Miguel Leão é o município menos populoso do Piauí e um dos menos populosos do Brasil. A tecnologia tem transformado a realidade dos moradores, permitindo que recebam atendimento médico sem precisar sair de sua terra natal.
Além disso, com o uso da IA, qualquer cidadão piauiense pode acessar consultas pelo aplicativo Saúde Digital. A mensuração de índices como pressão arterial, nível de estresse e batimentos cardíacos também pode ser realizada pelo aplicativo.
"É mais perto para nos dirigirmos; não precisamos nos deslocar para Teresina. É bem melhor", destacou a dona de casa Cláudia Barroso à TV Meio.
Os exemplos mostram que a IA é uma porta para o desenvolvimento de práticas que podem superar as barreiras sociais, e eliminar desigualdades.