Sobretaxa contra calçado chinês deve encarecer tênis

Com isso, dizem os fabricantes de tênis, o preço dos produtos mais sofisticados chegará a R$ 750

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Os tênis de alta performance, que hoje chegam ao consumidor por R$ 500 em média, correm o risco de ficar ainda mais caros. Na próxima semana, o Decom (Departamento de Defesa Comercial), do Ministério do Desenvolvimento, deve decidir se o Brasil aplicará ou não sobretaxa de US$ 25,99 por par sobre todos calçados provenientes da China.

Com isso, dizem os fabricantes de tênis, o preço dos produtos mais sofisticados chegará a R$ 750. "Voltaremos à década de 90", afirma Marcelo Ferreira, presidente da Adidas do Brasil. "O consumidor vai ter o acesso aos produtos cerceado, os mais favorecidos irão a Miami, e o contrabando voltará a explodir." Já os calçadistas brasileiros, representados pela Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), que pediu a medida antidumping, têm outra visão.

Para eles, além de a competição com a China ser injusta, os fabricantes de tênis são capazes de produzir no Brasil todos os modelos, inclusive os de alto desempenho. "Antes da crise, o governo chinês dava 9% de subsídio às exportações da indústria leve, como os fabricantes de calçados", diz Milton Cardoso, presidente da Abicalçados. "Em dezembro, o percentual foi a 12%, e, em junho, a 15%. Não temos medo da concorrência, mas desde que ela venha de países com economia de mercado e sem dumping." Nem todos os fabricantes têm a mesma posição de Cardoso, que também é presidente da Vulcabras/Azaleia, dona das marcas Reebok e Olympikus. A Alpargatas, das marcas Mizuno, Topper e Rainha, e outras indústrias já vieram a público discordar do pedido de sobretaxação. Especificamente, eles querem que os tênis que custem acima de US$ 10 sejam excluídos da medida.

Na mesma linha estão os filiados à Abramesp (Associação Brasileira do Mercado Esportivo), que reúne Nike, Adidas, Asics e Puma. Para eles, que dizem fabricar até 60% dos tênis vendidos no Brasil, o modelo de negócio de suas empresas concentra a produção de determinadas linhas em alguns países. "Além de não termos tecnologia no Brasil, falta escala", diz Ferreira, que preside a Abramesp. "Como vou produzir aqui mil pares de alguns modelos, que é quanto o mercado nacional consome?" Cardoso diz que os fabricantes já tiveram essa tecnologia, deixada de lado com a decisão de concentrar a produção na China.

Afirma também que o consumidor não vai sofrer com o aumento de preços, porque as grandes marcas não vão querer perder o mercado brasileiro, o quinto maior consumidor mundial, e passarão a produzir aqui, com preços menores. "Essas marcas, que dominam 60% ou 70% do mercado mundial, dizem que não vão produzir aqui e todos aceitam. Eles querem ficar num país que não tem salário de mercado e subsidia exportações para que aufiram margem de lucro absurda", diz Cardoso. "Isso destrói os empregos brasileiros e entope nosso mercado com produtos que não são vendidos em outros países por conta da crise."

Se Cardoso diz defender os empregos na indústria, os varejistas afirmam temer pelas vagas em sua área. Segundo Adriano Obeid, sócio da Authentic Feet, que tem 90 lojas, os tênis de alto desempenho representam entre 30% e 40% das vendas. São eles, porém, que atraem consumidores que sonham com a chuteira de Kaká ou Ronaldinho. "O marketing das marcas é mundial e feito em cima desses produtos", diz Obeid. "Imagina ter uma Copa sem que ninguém consiga comprar os tênis top de linha?" Sebastião Bonfim, dono do grupo SBF (lojas Centauro, ByTennis e Nike Sportswear), diz estar revendo planos de investimento para abrir 40 lojas em 2010. "Tenho linha de crédito de R$ 280 milhões aprovada pelo BNDES e poderia gerar 1.400 empregos", diz. "Só que, se houver essa sobretaxa, vamos criar vagas em Miami."

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