A tangerina e a mandioquinha foram os itens da lista que compõe o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial do país, que mais subiram em 2013, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O preço da fruta acumulou alta de 73,04% no ano passado. Já o da raiz avançou 57,16%.
Segundo o IBGE, a disparada nos preços da tangerina e da mandioquinha foi resultado da safra ruim, prejudicada pelas condições climáticas.
Dos mais de 400 itens que compõem o IPCA, cerca de 250 tiveram variação acima da inflação geral. No top 10 das maiores altas, 9 são produtos alimentares ou bebida. Veja tabela ao lado
O tomate, apontado no início do ano passado como o vilão da inflação, acumulou alta de 14,74% no ano, mas não ficou entre as maiores altas do IPCA.
Em 2013, a inflação de alimentação e bebidas, que tem maior peso no cálculo do IPCA e é mais facilmente percebida pelos consumidores, registrou a maior alta, de 8,48%, e a maior influência entre os nove grupos de despesas pesquisados pelo IBGE.
Segundo o IBGE, somente os alimentos representaram 34% da inflação no ano passado. Dentro do grupo, pesou mais a alimentação fora de casa: alta de 10,07%, enquanto a alimentação em domicílio apresentou uma variação de 7,64% em 2013.
O IPCA fechou 2013 com alta de 5,91%, acima do esperado e da taxa de 5,84% do ano anterior, frustrando o objetivo final do governo. Apesar da aceleração, o índice ainda ficou dentro do teto da meta de inflação do Banco Central, de 6,5%.
Feijão em baixa
Na outra ponta da lista de variações dos itens que compõem o índice IPCA, o feijão-carioca e o óleo de soja foram os que registraram as maiores baixas no ano passado, de 17,32% e 17,09%, respectivamente.
Na sequência, os destaques de deflação foram energia elétrica (-15,66%) e açúcar refinado (-14,47%). Veja tabela ao lado
As maiores quedas de preços em 2013 estão relacionadas em sua maioria às boas safras.
Alimentos com maior peso no IPCA
Segundo o IBGE, os alimentos que tiveram o maior impacto na formação da inflação em 2013 foram as frutas, o leite e o pão francês, todos com peso de 0,16 ponto percentual na composição do IPCA. A carne impactou com 0,11 ponto percentual.
A safra recorde de 2013, anunciada pelo IBGE na quinta-feira (8), de 188,2 toneladas, 16,2% maior que a de 2012, não foi suficiente para conter o preço dos alimentos, segundo o IBGE. Isso porque, a produção nacional é concentrada em soja, milho e arroz. Commodities agrícolas não só são exportadas como têm preços cotados em dólar. E demais alimentos sofreram com problemas de clima.
?Apesar da maior quantidade, os alimentos vêm subindo de forma sistemática, pois vêm sofrendo alterações por conta do clima. No momento, por exemplo, estamos com chuva no Espírito Santo e em outras regiões. Em 2013, a forte seca nos Estados Unidos prejudicou as lavouras, e a seca na Argentina afetou o trigo. O clima tem mudado e isso tem afetado a produção agrícola. E com a globalização, se algum problema acontece em algum país, as commodities seguem o comportamento do preço. Os alimentos aumentaram no Brasil e no mundo todo. E a demanda vem crescendo?, explicou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora da Coordenação de Índices de Preços do IBGE.
O que também puxou a alta dos alimentos, segundo a pesquisadora, foi o preço dos combustíveis, que, depois de cair 0,72% em 2012, subiu 6,12% em 2013 ? mais um custo alto repassado para o preço final, já que o transporte de alimentos é feito basicamente por caminhões.
Altas regionais encarecem orçamento familiar
A elevação de produtos regionais importantes não chegaram a pesar na formação do IPCA, mas se destacaram por encarecer o orçamento familiar. A alta da tangerina, por exemplo, pesou mais no bolso de paulistas e mineiros, seus maiores consumidores, segundo o IBGE.
No caso da banana-da-terra, que subiu 55,4%, os maiores prejudicados foram os nordestinos, os maiores consumidores do produto, principalmente os pernambucanos e os baianos.
Os gaúchos pagaram muito caro pelo tradicional e imprescindível chimarrão: a erva-mate, que acumulou uma alta de 53,33%. Segundo Eulina, com o baixo preço do mercado, em 2013, os produtores de erva-mate diminuíram a área plantada e optaram por milho. Como a demanda não diminui, o preço subiu.
A alta de 47,06% do abacate em 2013 foi puxada por Belém, onde é muito consumido. No caso da goiaba, o maior impacto no orçamento doi no Ceará.
Já cariocas e paulistas, apreciadores do cação, viram o pescado fechar o ano com alta de 26,17%. O resultado da pesca do cação é sazonal, varia de ano para ano, segundo o IBGE.
Os derivados de farinha de trigo, por outro lado, pesaram no bolso de todos os brasileiros. A alta acumulada em 2013 foi de 26,21%, que foi repassada para o preço de pães e massas. O Brasil não produz todo o trigo que consome e tem que importar dos Estados Unidos e Argentina. Mas esses países sofreram com secas que afetaram as safras e o produto chegou ao mercado brasileiro mais carono ano passado.
Inflação por segmentos
Depois dos alimentos, entre as maiores variações por grupos está a dos preços relativos a despesas pessoais, que acumulou alta de 8,39%. Nos gastos com empregados domésticos, por exemplo, o reajuste nas despesas foi de 11,26%.
O grupo de gastos com educação também sofreu uma forte variação, 7,94%, com os maiores destaques partindo dos preços de mensalidades dos cursos regulares (8,22%) e de cursos diversos, como de idioma e informática (9,29%).
Também ficou acima do IPCA acumulado no ano a variação dos preços relativos à saúde, que subiu 6,95%, puxada, principalmente, pelos planos de saúde, cujas mensalidades ficaram 8,73% mais caras.
Inflação mostra resistência, diz BC
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, avaliou que a a inflação medida pelo IPCA mostrou resistência "ligeiramente acima" do esperado, mas ressaltou que o indicador fechou dentro da meta, de 6,5%.
"A inflação ao consumidor medida pelo IPCA encerrou 2013 em 5,9% (5,91%), mostrando resistência ligeiramente acima daquela que se antecipava", afirmou Tombini. "Essa resistência da inflação, em grande medida, se deveu à depreciação cambial ocorrida nos últimos semestres, a custos originados no mercado de trabalho, além de recentes pressões no setor de transportes", acrescentou.