Pelo menos na estratégia da Volkswagen para driblar o cenário tempestuoso do setor automotivo no Brasil : investir em modelos menores e mais baratos, com tecnologia de ponta e lançamentos mundiais.
"Atualmente 40% dos consumidores brasileiros ainda não têm condições de comprar um carro. É um potencial enorme e será explorado [pela indústria]", diz o presidente da marca no Brasil , Thomas Schmall.
Na estimativa de Schmall, a fatia dos modelos compactos deve quase dobrar em cinco anos, de 8% para 15% do total.
Neste mês, a VW lança o modelo Up! (1.0) para ser o veículo de entrada da marca. Na Europa ( Motor 1.0) modelo custa a partir de R$ 32.029 mil( 8.255 Pound britanica na razão 3.88 com Real ) no Brasil custará a partir de R$ 27.000, R$ 4.000 menos que o Gol.
Para o executivo, a alta do dólar deve prejudicar mais as marcas que entraram recentemente no país, com o aumento de preços alem de manutenção mais cara e baixo valor de revenda.
"O que nos preocupa, porém, é a desvalorização rápida do real frente ao dólar", diz.
"Isso favorece a exportação, mas faltam produtos para exportar."
No ano passado, diversas montadoras anunciaram investimentos para a expansão e a nacionalização de carros, principalmente os de luxo, no país.
Mas 2013 fechou com a primeira retração nas vendas nos últimos dez anos, jogando um balde de água fria sobre o ânimo de várias empresas.
Para 2014, Schmall trabalha com dois cenários. No mais pessimista, a indústria empata com 2013. No otimista, cresce 2%.
Após dez anos de crescimento consecutivo, a venda de automóveis encolheu 1,6% em 2013. Qual é a previsão da Volkswagen para o setor em 2014, ano de aumento do IPI e Copa do Mundo?
Thomas Schmall - A empresa trabalha basicamente com dois cenários, um conservador e outro mais otimista. No primeiro, prevemos um resultado próximo ao do apresentado no ano passado [3,57 milhões de veículos emplacados]. No outro, um crescimento de 2%. Porém o mais importante é a previsão da VW para o médio e longo prazo. Aí nossa expectativa é a de crescer bastante aqui no Brasil , por isso mantivemos nossos investimentos [R$ 9,2 bilhões até 2016]. Para dar uma ideia desse potencial de mercado, atualmente 40% dos brasileiros ainda não têm condições de comprar um carro.
A cotação do dólar está subindo. O que isso pode impactar no segmento de automóveis nacionais e importados?
Como o nível de nacionalização [dos veículos locais] é bastante alto, acho que o impacto é menor do que em marcas recém-chegadas, que dependem mais de peças importadas. O que nos preocupa, porém, é a desvalorização rápida do real frente ao dólar. Isso favorece a exportação, mas faltam produtos para exportar. Sobre a política de preço dos carros importados, as montadoras trabalham com corredor, se esse limiar é extrapolado, reajustes serão inevitáveis.
A Volkswagen está lançando seu primeiro subcompacto 1.0, o Up!. Qual é a importância desse produto para a marca?
Ele será posicionado abaixo do Gol, mas irá elevar o patamar dos carros populares, pois nasce já com nota máxima em segurança para passageiros, motor 1.0 de três cilindros e baixo custo de manutenção.
Com maior poder aquisitivo, o brasileiro está migrando para carros maiores e mais potentes. Então por que investir em um subcompacto?
Porque esse segmento vai duplicar nos próximos cinco anos para cerca de 15% do total. Atualmente 40% dos consumidores brasileiros ainda não têm condições de comprar um carro. Isso é um potencial enorme e será explorado [pela indústria]. Para a VW crescer ou manter sua participação de mercado, tem de competir nesse segmento tão promissor.
Qual é será a capacidade produtiva desse novo carro e qual é a expectativa de vendas dele para este ano?
Não vou revelar os números. Primeiro vamos ver como o mercado receberá o carro, que, posso adiantar, terá uma grande capacidade [produtiva] em Taubaté.
Então esse é o produto que pode ajudar a recolocar a VW no posto de líder de mercado, após uma década, perdida para a Fiat?
Mais do que a liderança, estamos preocupados em gerar receita para investir em novos produtos, pois nosso plano é ampliar o portfólio da Volkswagen no Brasil . A estratégia inicial é atacar o mercado de entrada com o Up! e o de topo [entre os nacionais] com o Golf.
Como a empresa planeja diferenciar o Up! de outros modelos hatch populares comercializados pela marca?
São produtos com características diferentes, posicionamento diferentes e feitos para consumidores com necessidades diferentes. Nós estamos tomando todo cuidado para que essa canibalização não aconteça, mas certamente haverá algumas sobreposições entre algumas versões. Mas o mais importante é somar volume para a marca.
Mas há risco de o Up! atrapalhar as vendas do Gol e deixar um carro de outra marca assumir a liderança das vendas?
O Gol é o único carro no mercado brasileiro com mais de 7% de participação de mercado, dois pontos percentuais a mais que o segundo colocado [Fiat Uno]. Mas já estamos preparando uma atualização do modelo, que continuará enquadrado no maior segmento do país.
O Up! tem também versão aventureira na Europa e, no Salão de São Paulo de 2012, a Volkswagen apresentou um utilitário esportivo subcompacto derivado deste projeto. O consumidor brasileiro pode esperar mais novidades?
Sim, pois não iriamos lançar uma nova plataforma mundial como a do Up! para fazer apenas um modelo. Terão as versões duas e quatro portas, cross, SUV e outras derivações virão por aí. Será uma família.
Não podemos encerrar sem perguntar sobre a Kombi, que deixou de ser produzida no fim de 2013. O carro era líder do segmento, com média de 25 mil emplacamentos por ano. Por que a VW ainda não anunciou uma sucessora?
Não existe uma substituta para a Kombi. A perua era o único carro no mundo com aquelas características, mas não se encaixava mais na atual legislação de segurança do mercado brasileiro. Vamos lançar dois modelos a partir deste ano que oferecerão, ao menos em parte, os atributos utilitários da Kombi.