O medo existente entre torcedores de que os preços das passagens aéreas para as cidades-sede no período da Copa do Mundo fosse abusivo não se confirmou -- pelo menos até agora, a 72 dias do início do Mundial. Ainda é possível encontrar voos a preços competitivos e próximos do que é praticado normalmente para quase todos os destinos nas datas próximas aos respectivos jogos, incluindo para abertura no Itaquerão, em São Paulo, e para a final no Maracanã, no Rio de janeiro.
A Copa acontece do dia 12 de junho ao dia 13 de julho em doze capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Cuiabá, Brasília, Salvador, Natal, Recife, Fortaleza e Manaus. De acordo com a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), os voos para estes destinos no período da competição estão, em média, 25% mais baratos do que estavam antes do redesenho e lançamento da malha aérea especial da Copa, apresentada em janeiro. Em outubro do ano passado, uma ponte aérea de São Paulo ao Rio de Janeiro em data próxima a da final, que acontece no dia 13 de julho, custava cerca de R$ 1.500, mais do que a ida e volta da capital paulista até Nova Iorque, nos Estados Unidos, para uma compra com a mesma antecedência.
Em uma pesquisa realizada na última sexta-feira (28) nos sites das quatro grandes companhias aéreas de abrangência nacional que atuam no Brasil -- Tam, Gol, Avianca e Azul -- o preço de um lugar em voo de ida e volta de São Paulo para a capital fluminense indo no dia 12 de julho (um dia antes da final) e voltando no dia 14 de julho (um dia depois) ficava entre cerca de R$ 260 e R$ 600, dependendo do aeroporto utilizado, empresa e horário do voo. No dia que antecede uma partida e no dia seguinte a ela é esperado o maior fluxo de passageiros nos aeroportos das sedes. Os três aeroportos que servem a capital paulista (Congonhas, Cumbica, em Garulhos, e Viracopos, em Campinas) serão os maiores pontos de conexão entre as cidades-sede e o exterior durante o Mundial.
Na rota inversa, do Rio de Janeiro para São Paulo, a situação é parecida. Com a ida marcada o dia 11 de junho, um dia antes da abertura do Mundial com o jogo Brasil e Croácia, e o retorno para o dia 13 do mesmo mês, um dia depois, um lugar podia ser encontrado por preços de R$ 370 a R$ 500, em média.
Segundo a agência reguladora da aviação civil, apenas 10% das passagens paras as cidades-sede no período do mundial estavam vendidas até o dia 21 de março, o que seria normal e dentro das expectativas. As cidades que estão com o menor número de lugares nos voos disponíveis são Fortaleza e Natal, com 40% dos lugares já ocupados no período do mundial da Fifa. Curiosamente o destino com maior taxa de ocupação até agora para o período da Copa é Campina Grande, município da Paraíba que não tem nada a ver coma Copa, mas que organiza uma das mais tradicionais festas juninas do país.
A malha aérea especial da Copa do Mundo, que será implantada no Brasil do dia 6 de junho ao dia 20 de julho, já tinha 16 mil novos voos até o início de março - entre reforços nas rotas mais movimentadas e criação de rotas que não existem regularmente. O incremento representa um aumento de cerca de 30% em relação aos cerca de 51 mil voos regulares e e para as cidades que recebem a competição, de acordo com a Abear (Associação Brasileira das Empresas Aéreas).
Surpresa
A boa situação da oferta de opções e preços surpreendeu o designer gráfico Rafael Mantarro de 33 anos. "Tentei ingressos para quatro partidas no Rio de Janeiro e em São Paulo", conta. "Mas acabei conseguindo dois apenas para uma das quartas de final no Maracanã, no dia 4 de julho. Nem tinha cogitado ir de avião, ia de carro ou de ônibus mesmo, com medo do preço das passagens", diz ele.
"Minha namorada foi pesquisar, e encontrou uma passagem de ida e volta saindo do dia 2 e voltando no dia 6 por R$ 217, com as taxas", comemora o torcedor. "Não tivemos dúvidas e compramos na hora, foi uma grande e boa surpresa", afirma.
O advogado Antonio Saraiva, de 39 anos, que mora em São Paulo e conseguiu ingresso para dois jogos da Copa, também está satisfeito com os preços. "Comprei uma passagem de ida para Brasília no dia 21 de junho [dois dias antes do jogo da seleção brasileira contra a seleção de Camarões no estádio Mané Garrincha] e volta no dia 22 por R$ 360", afirma ele. "É mais ou menos a mesma coisa que pago sempre que tenho de ir para a cidade", diz. "Sinceramente, esperava pagar pelo menos o dobro".
Oferta x Procura
Alguns jogos em certas cidades-sede são e exceção e já apresentam escassez na oferta de voos em datas próximas. Em Cuiabá, por exemplo, quem quisersair de São Paulo e acompanhar a partida entre Chile e Austrália na Arena Pantanal, no dia 13 de junho, já quase não encontra opções disponíveis em datas próximas. Na Gol e Tam, a passagem de ida no dia 12 ficava entre cerca de R$ 200 e R$ 850 na sexta-feira passada. Retorno no dia 14 não havia mais lugar. Na Avianca e Azul, com as viagens marcadas nas mesmas datas, o preço ficava entre R$ 900 e R$ 1500, ou seja, de um terço mais caro ao dobro da média do preço normal.
A ida e volta de avião da capital paulista para Fortaleza no dia 28 de junho e 30 de junho, respectivamente, também já apresenta elevação de preço. No dia 28, o Castelão recebe umas das quartas de final da Copa. O custo ficava entre R$ 1.000 e R$ 2.000
Para a Abear, a oferta de voos é plenamente adequada à demanda prevista para a Copa. Sobre o comportamento dos preços, a entidade representativa do setor aéreo diz que será semelhante ao Ano Novo ou Carnaval brasileiros, feriados de intenso movimento nos aeroportos.
"Os consumidores que se planejam e compram com antecedência conseguem os melhores preços. Com a redução da quantidade de assentos disponíveis nesses voos, a tendência é que o preço se eleve conforme se aproxime a data de embarque. A alternativa para compras com menor antecedência é então usar de flexibilidade para as viagens, buscando datas menos ", diz a entidade, por meio de sua assessoria de imprensa.
A TAM, também por meio de sua assessoria de imprensa, não comenta quantas passagens já vendeu, mas diz que de todos os bilhetes já emitidos para as cidades-sede do Mundial, 80% foram vendidos por menos de R$ 500, e metade dos ainda disponíveis hoje estão acima disso. Gol, Azul e Avianca não retornaram o contato da reportagem até a publicação deste reportagem.