Era uma vez uma cidade onde os ricos entravam nos edifícios pela porta principal, e os pobres... pelos fundos. Em pleno século XXI, a história de segregação é verdadeira. E causa controvérsia na mais cosmopolita das cidades americanas — Nova York. O caso ganhou a alcunha de “porta dos pobres” (poor door, em inglês) e despertou a fúria de muitos nova-yorkinos.
Trata-se de uma decisão dos administradores do edifício de luxo 40 Riversidena Riverside Drive, em Manhattan. O prédio ultramoderno de 33 andares tem 219 unidades de luxo, onde o apartamento mais barato é de três quartos, vendido a módicos US$ 3,6 milhões. Mas o complexo tem, ainda, 55 apartamentos disponíveis para a locação de “inquilinos de baixa renda”, dispostos a pagar mensalmente US$ 833 por um conjugado — contanto que sua renda familiar não ultrapasse os US$ 50.304 por ano numa família de quatro pessoas.
Instalou-se, então, o problema. Esses inquilinos pouco abastados não poderão acessar o complexo pela mesma entrada usada pelos ricaços. A eles será destinada uma entrada separada, numa rua lateral, já apelidada de “porta dos pobres”. A rede CNN observou que esse não é o único edifício da cidade a adotar a prática, mas a novidade renovou o debate acerca da segregação quando essas unidades “populares” foram anunciadas para aluguel esta semana. A administração não revelou quantos interessados se registraram.
Para os ricos, há vistas grandiosas, acesso a piscinas, boliche, um simulador de campo de golfe e cinema particular. Aos pobres, restam apartamentos com vista para a rua, uma sala comunitária e um bicicletário. Aqueles com uma pequena conta bancária também não terão em seus apartamentos equipamentos como lava-louças ou máquinas de lavar e seca. Mas poderão usar uma lavanderia comunitária na garagem. Vagas? Podem ser alugadas à parte.
A polêmica se justifica. Afinal, a segregação é o oposto do que se imaginava. O complexo foi construído com o aval das autoridades municipais sob o chamado “Programa de Moradia Inclusiva”, montado para oferecer opções acessíveis em condomínios de luxo e reduzir a desigualdade nas áreas mais afluentes da cidade. O programa foi iniciado em 2009, sob a gestão do ex-prefeito Michael Bloomberg, e dá incentivos fiscais às construtoras que oferecerem apartamentos acessíveis.
O tiro, aparentemente, saiu pela culatra.
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