“Eles vão me matar “ não pousem este avião, disse blogueiro à tripulação

Passageira relata incidente em voo que prendeu jornalista Roman Protasevich

Roman Protasevich em foto de 10 de abril de 2017, quando chegava para prestar depoimento em Minsk — | Foto: Stringer/Reuters
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Um avião da Ryanair que havia partido da Grécia com destino à Lituânia recebeu um aviso de parada no domingo (23). Assim que a aeronave entrou no espaço aéreo de Belarus, caças acompanharam o avião que levava cerca de 170 passageiros. Começava uma operação da ditadura da Belarus, que desviou o avião comercial para a sua capital e prendeu o jornalista Roman Protasevich que é crítico do regime de Alexandr Lukachenko.

O bielorruso de 26 anos que envia textos de oposição ao regime do líder autoritário de Belarus, Alexander Lukashenko, em canais de Telegram. O passageiro, Roman, é também acusado de organizar passeatas contra o presidente.

Quando o piloto avisou que o voo estava sendo desviado para Minsk, um passageiro se levantou imediatamente, abriu o bagageiro, pegou suas coisas e começou a transferir parte delas —um laptop, um celular— para a sua namorada. Editor do canal informativo Belamova, Roman pressentiu que ele era a causa do estranho incidente.

“Não façam isso. Eles vão me matar. Sou refugiado”, apelou ele à tripulação, segundo relato de uma passageira ao jornalista Franak Viacorka, amigo de Protassevich. Um comissário respondeu: “Somos obrigados. Não temos escolha, são acordos internacionais da Ryanair”.

Roman Protasevich em foto de 10 de abril de 2017, quando chegava para prestar depoimento em Minsk — Foto: Stringer/Reuters

O caso tem sido interpretado como um sequestro feito por um Estado. Os países da União Europeia, os Estados Unidos, a agência da ONU responsável por aviação, a Associação Internacional de Transporte Aéreo e as companhias aéreas verbalizaram sua indignação com o caso.

A Rússia defendeu a Belarus. O governo de Belarus disse que os controladores de voo só fizeram uma sugestão aos pilotos.

Quem é Alexander Lukashenko, o líder da Belarus?

O presidente da Belarus, Alexander Lukashenko, apareceu em público armado com um rifle perto do Palácio da Independência em Minsk — Foto: State TV and Radio Company of Belarus via AP

Lukashenko é o líder autoritário de Belarus. Ele começou a carreira como diretor de uma fazenda coletiva. Em 1994, pouco após o fim da União Soviética, ele tomou o poder no país. Ele é chamado de “o último ditador da Europa”.

O país chega a realizar eleições, mas os resultados indicam que há problemas nos pleitos. Em 2015, ele teve 83,5% dos votos. Em 2020, ele teve 80% dos votos.

No ano passado, após a divulgação dos resultados, os bielorussos começaram a protestar. Durante cerca de três meses houve protestos nas cidades do país em que diziam que a eleição havia sido fraudada.

No país há uma agência de segurança interna que ainda tem o nome de KGB, da era soviética. Os espiões são chamados de “curadores”. Eles estão presentes em escolas, empresas e em diferentes órgãos do governo.

Os agentes escutam conversas de dirigentes do governo, juntam material comprometedor de opositores ou de qualquer um suspeito de não ser leal a Lukashenko.

Avião da Ryanair que havia partido da Grécia com destino à Lituânia foi intereceptado por caças para prender jornaista- Foto: AFP

Quem é o opositor que Lukashenko prendeu?

Roman Protasevich é o fundador de um canal em redes sociais chamado Nexta. Ele enviava textos pelo aplicativo Telegram, que virou uma forma que os opositores de Lukashenko encontraram para se organizar e compartilhar informação. Em Belarus, há poucos canais de mídia com independência editorial —alguns foram fechados após a cobertura dos protestos do ano passado.

Já na adolescência, Protasevich se tornou um opositor e passou a ser investigado pela agência de segurança. Ele foi expulso de uma escola em 2011, por participar de uma manifestação. Depois ele foi expulso do curso de jornalismo em Minsk.

Qual é o crime em que ele pode ser enquadrado?

Mesmo fora do país, em novembro do ano passado ele foi acusado de incitar a desordem pública e o ódio social. As penas previstas para esses crimes podem passar de 12 anos de prisão.

A KGB considera que Protasevich é um terrorista. Se ele for acusado e condenado por terrorismo, ele pode até mesmo ser executado pelo Estado.

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