A bacharel em direito Elize Matsunaga, de 30 anos, assassina confessa do marido, o diretor-executivo da Yoki, Marcos Kitano Matsunaga, pagou cerca de R$ 7 mil ao detetive particular que contratou para investigar o empresário. A informação foi confirmada nesta quarta-feira (20) ao G1 pelo promotor José Carlos Cosenzo, que denunciou Elize à Justiça pelo crime ocorrido em 19 de maio em São Paulo.
Na terça-feira (19), o juiz Adilson Paukoski Simoni aceitou a denúncia do Ministério Público (MP) e também converteu a prisão temporária da ré em preventiva, para que ela fique presa até um eventual julgamento.
De acordo com a Promotoria, Elize premeditou a morte de Marcos por ciúmes, para se vingar da traição dele e ainda ficar com R$ 600 mil em dinheiro de um seguro de vida da vítima do qual ela era beneficiária. ?Elize pagou R$ 7 mil para o detetive filmar a traição do marido?, disse o promotor Cosenzo na manhã desta quarta. O detetive, que não teve o seu nome divulgado, entregou filmagens que mostram Marcos trocando carícias e beijando uma mulher.
Habeas corpus
Procurada pela equipe de reportagem para comentar o assunto, a defesa de Elize afirmou que estuda entrar com um pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) contra a decretação da prisão preventiva.
Segundo a advogada Flávia Leardini, ela e o advogado Luciano Santoro analisam a possibilidade de impetrar o recurso para que a bacharel responda ao crime em liberdade. Quem julgará o pedido serão desembargadores. Até o meio-dia, nenhum habeas corpus havia dado entrada no TJ.
?Não há motivos para que Elize continue presa. Ela colaborou com a Polícia Civil e nunca atrapalhou a investigação?, alegou a advogada Flávia. Questionada sobre o que pretende fazer em relação à decisão do juiz em aceitar a denúncia do MP, a defensora da ré afirmou que iria se pronunciar sobre isso durante esta tarde. ?Antes é preciso saber o que o promotor colocou na denúncia?.
Transferência
Elize está presa desde 5 de junho na Cadeia Pública de Itapevi, na Grande São Paulo. A prisão temporária dela foi decretada no dia 4 e o prazo expira nesta quinta-feira (21). Agora, com a preventiva, a bacharel será transferida para uma unidade prisional. A data e o local da transferência ainda não foram definidos porque dependem do surgimento de uma vaga para a ré.
Elize confessou ter atirado e esquartejado Marcos no apartamento do casal, na Zona Oeste da capital paulista, onde ela morava com a filha deles. Em seguida, colocou partes do corpo em sacos plásticos e os jogou em Cotia, na Grande São Paulo.
Segundo os advogados dela, o crime foi passional, movido por paixão sob forte emoção num ato impensado da cliente deles. Ela alega que discutiu com o executivo por causa das filmagens que comprovaram a traição dele e que só atirou na cabeça do executivo porque ele a agrediu com um tapa no rosto, a xingou de prostituta - função que ela exerceu quando conheceu o empresário - e que iria tirar a guarda da filha dela.
A bacharel responde presa aos crimes de homicídio triplamente qualificado por motivo torpe, recurso que impossibilitou a defesa da vítima, meio cruel e ocultação de cadáver. Dinheiro do seguro de vida do executivo e medo da perda do casamento com ele foram os motivos que fizeram a bacharel matar o marido, segundo o promotor Cosenzo.
"Nojenta e repugante"
No seu pedido de prisão preventiva, o promotor escreveu que Elize agiu de forma vil, ignóbil, nojenta e repugnante. ?Pessoa dissimulada?, afirmou Cosenzo no documento encaminhado à Justiça.
Ele ainda comparou a bacharel a um açougueiro. ?Retalhou o corpo como se estivesse na faina diária de açougueiro, e ainda fez as pessoas saírem à procura da vítima, cujas partes jogou a animais e urubus?.
De acordo com o promotor, Elize deve continuar presa porque intimidou quatro testemunhas. "Há provas no processo que ela intimidou a amante, um vizinho, um pastor da igreja que o casal frequentava e a empregada dela", contou Cosenzo.
Pivô da traição
Na terça, os advogados da mulher que foi filmada com Marcos deram uma entrevista coletiva para dizerem que N. (como pediram para chamar a cliente) é modelo e não garota de programa, como ela mesma declarou em depoimento ao Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
?Aquele depoimento foi sem a presença dos advogados dela. Nesta quarta ela assinou uma nova declaração. Vamos entregar o aditamento às declarações anteriores à polícia para a Justiça. Nele, nossa cliente diz que era namorada de Marcos e não amante como divulgaram por aí?, disse o advogado Roberto Parentoni.
"Minha cliente amava Marcos. Quando ela o conheceu, não era mais garota de programa, mas sim modelo e promotora de eventos. Os dois viviam um romance. Elize já não tinha mais relacionamento íntimo com Marcos. Minha cliente e o empresário estavam dispostos a morar juntos", disse Parentoni.
Segundo o advogado de N., sua cliente só irá prestar um novo depoimento de a Justiça o pedir. "Aí é critério do juiz. Se ele quiser, ela pode ser ouvida novamente pelo DHPP. Se ele quiser, ela também poderá ser ouvida somente em juízo, durante a audiência de instrução", afirmou Parentoni.
A Justiça ainda não marcou a data para a audiência de instrução de Elize, que será interrogada pelo juiz. Essa etapa do processo servirá para ele decidir se a ré deverá ser submetida a júri popular pelo crime.
Elize Matsunaga (Foto: Carlos Pessuto/Futura Press/AE)