Caio Silva de Souza, de 22 anos, admitiu nesta quarta (12), em entrevista à repórter Bette Lucchese, da TV Globo, ter acendido um rojão durante a manifestação contra o aumento do preço do ônibus, na quinta (6), no Centro do Rio. Em sua fala, obtida com exclusividade, ele disse que não sabia que o objeto era um rojão, e sim um "cabeção de nego", artefato que só provoca fumaça e barulho, mas sem efeito pirotécnico.
Repórter: Você acendeu o rojão?
Caio: Se eu acendi? Acendi sim.
Repórter: Junto com o Fábio?
Caio: (balança a cabeça positivamente)
Repórter: Você tinha um alvo específico?
Caio: Não. Nem sabia que aquilo era um rojão.
Repórter: Pensou que fosse o que?
Caio: Um cabeção de nego.
Para os policiais que fizeram a sua prisão, no entanto, Caio não admitiu nem negou. Segundo o delegado Maurício Luciano de Almeida e Silva, o suspeito deixou claro na Bahia, ao ser preso, que não falaria sobre o fato. "Não admitiu nem negou nada que lhe é atribuído. [...] Ele não está antecipando nenhuma informação. Imagino que está esperando uma estratégia do advogado e falará no momento oportuno", afirmou.
O jovem, que é auxiliar de serviços gerais de um hospital no Rio e suspeito de lançar o rojão que matou um cinegrafista da TV Bandeirantes, não esboçou reação ao ser preso em uma pensão de Feira de Santana (BA), na madrugada desta quarta. Ele já foi trazido para o Rio. O outro suspeito pelo crime é Fábio Raposo Barbosa, também de 22 anos, que confessou ter participado da ação e está preso desde domingo (9). A polícia esclareceu detalhes da prisão em entrevista coletiva.
Na entrevista à repórter da TV Globo, Caio disse ainda que, depois da veiculação das imagens onde apareceria recebendo o rojão, teve medo de ser morto por "pessoas envolvidas nas manifestações".
Repórter: Quando você viu a imagem,, você sabia que era você?
Caio: Não. Não me mostraram.
Repórter: Mas depois quando começaram a mostrar?
Caio: Eu fiquei com medo de me matarem. A verdade é essa.
Repórter: Quem poderia te matar?
Caio: Pessoas envolvidas nas manifestações.
O suspeito preso pediu ainda desculpas pela "morte de um trabalhador, como ele próprio, sua mãe e seu pai". Na conversa, que foi ao ar no RJTV, Caio disse que há jovens que são atraídos por terceiros a participarem do protesto: "Alguns vão aliciados sim, outros não". Questionado sobre quem seriam os aliciadores, ele não deu detalhes. "Isso eu não sei dizer à senhora. A polícia tem que investigar". Ele afirmou que políticos poderiam estar envolvidos.
Preso na Bahia
O suspeito chegou ao Rio às 8h42 desta quarta em voo comercial ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Zona Norte do Rio. Caio vestia uma camisa preta e desembarcou algemado.
O suspeito foi encaminhado para a Cidade da Polícia, conjunto de unidades policiais no Jacarezinho, Subúrbio do Rio. Ele deve ser encaminhado ao IML para exame de corpo de delito ainda nesta quarta.
Namorada
Caio contou após a prisão que pretendia fugir para a casa de um avô no Ceará, quando foi convencido por telefone pela namorada a se entregar à polícia na Bahia.
Três agentes da 17ª DP (São Cristóvão) acompanharam o delegado Maurício Luciano de Almeida e Silva e o advogado Jonas Tadeu. Homens da polícia baiana deram apoio à operação. Caio se entregou em uma pensão próxima à rodoviária de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador.