Um universitário homossexual decidiu fazer um "protesto pacífico" e se formar do alto de um salto de 14 centímetros. A cerimônia, realizada em 10 de fevereiro, marcou a conclusão do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal do Pampa (Unipampa) em Santana do Livramento, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
Gustavo Rodrigues Costa, 21 anos, explica que a intenção era questionar padrões de gênero, sobre o que é ser homem ou mulher. "Meu intuito era fazer um protesto pacífico, tentar abordar pessoas que não têm acesso ao debate. Não achei que iria ganhar visibilidade, como ganhou."
A ideia também era mostrar que homossexuais vêm ganhando cada vez mais espaço na sociedade. "Foi um momento de manifestação e dar voz para quem não tem voz. Dar voz para pessoas que estão na invisibilidade. No nosso campus não tem nenhum transgênero."
O graduado, que é homossexual, percebeu olhares de desaprovação logo após chegar à colação de grau, o que continuou durante a cerimônia. "Foram só olhares, nenhuma agressão verbal", conta.
Apesar do nervosismo ao subir no palco, ele nega ter ficado preocupado com reação do público ou uma possível agressão. "Achei que, como era uma colação de grau, não era o momento para reações homofóbicas. Na verdade, eles teriam que engolir a seco. Não seria o espaço propício para eles."
Jovem já foi agredido em festa
Mesmo com o protesto na formatura, o jovem revela ter medo de andar de salto alto na rua tanto no Rio Grande do Sul quanto em São Paulo, de onde é natural. Em abril de 2015, Gustavo foi agredido a socos em uma festa em uma casa noturna de Santana do Livramento. "Apanhei por beijar um amigo em uma festa. Quatro meninos vieram e me bateram, quebraram meus óculos, deram voadora no meu peito."
O caso foi registrado na polícia e os agressores foram identificados, mas, segundo Gustavo, não houve avanços. Por outro lado, o jovem percebeu uma mudança em seu comportamento. "Passei a ter mais empatia pela causa gay. Vi mais de perto como as coisas acontecem. Se estivesse com menos pessoas, poderia ter morrido."
Antes da formatura, Gustavo decidiu contar à família que iria de salto alto na cerimônia. A mãe dele ajudou inclusive a escolher o calçado. "No começo ela ficou relutante, depois entendeu o propósito. Falei para ela que era algo além de mim, era uma oportunidade única."
Já o pai de Gustavo se negou a ir a ir para o Rio Grande do Sul. "Não falamos ainda sobre isso. Mas acho que foi um pouco por vergonha. Para ele eu posso ser homossexual, mas desde que dentro dos padrões. Para ele, colação de grau não é espaço para isso. Hoje, acho que ele se arrepende. Foi um momento único para fazer protesto e ele não participou."
Além da mãe dele, foram até a formatura dois tios de Gustavo. "Eu não convidei muitas pessoas, para evitar comentários."
O recém-formado conta que se sentiu incentivado com o que a história de outro universitário que se formou de vestido e salto alto no final do ano passado em São Paulo. O caso ocorreu na colação de grau do curso de engenharia do Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA) em São José dos Campos (SP), uma das instituições mais renomadas do país. "Acho que isso me deu um empurrãozinho."
Cidade já teve polêmica
O protesto de Gustavo ocorreu na mesma cidade onde há mais de dois anos um incêndio consumiu um Centro de Tradições Gaúchas (CTG), onde iria ocorrer um casamento comunitário no qual um dos casais inscritos é homoafetivo. Ninguém ficou ferido, mas o incêndio atingiu a parte interna da estrutura, justamente o palco, onde seria realizado o evento. A suspeita é de que tenha sido um ato criminoso.
Ninguém ficou ferido, mas o incêndio atingiu a parte interna da estrutura, justamente o palco, onde acontecerá o evento. A suspeita é de que tenha sido um ato criminoso. A celebração não foi cancelada, tendo sido realizada dias depois.