Em entrevista a um programa na TV francesa France 24, o embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra, afirmou que no mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva houve incêndios muito mais graves na Amazônia, mas ninguém divulgou isso, porque Lula é queridinho da imprensa.
"Preciso dizer uma coisa muito importante: em 2005, aconteceu a mesma coisa, aliás, pior. Você pode ir aos arquivos para ver, mas o presidente era Lula, queridinho da imprensa, então ninguém saiu espalhando o que estava ocorrendo na floresta. Ninguém disse que era culpa do Lula", afirmou.
Segundo ele, as pessoas tampouco responsabilizaram o ex-presidente norte-americano Barack Obama pelos incêndios na Califórnia. Indagado pela jornalista se então isso seria só uma coisa da imprensa, Serra afirmou: "Claro, (Bolsonaro) derrotou a esquerda com 58 milhões de eleitores que eram contra Lula e seu partido. Mas a esquerda não admite perder eleições no Brasil."
Serra também afirmou que a imprensa estrangeira está tentando acabar com a reputação do Brasil e do presidente Jair Bolsonaro no exterior porque o país é muito competitivo em agricultura. O Itamaraty avalia chamar o embaixador brasileiro para consultas em Brasília, gesto que demonstraria a insatisfação do governo Bolsonaro com as declarações do presidente francês, Emmanuel Macron, consideradas ofensivas.
Na entrevista em inglês, o embaixador afirmou também não acreditar que o acordo UE Mercosul será desfeito, porque a Europa está dividida: "Temos de um lado França e Irlanda, e, de outro, a Alemanha, que quer ratificar o acordo". Números: marcada por décadas de destruição, Amazônia sofre com queimadas criminosas
De 2002 a 2018, o desmatamento consumiu 200 mil quilômetros quadrados de floresta na Amazônia, o que equivale a duas vezes o território de Santa Catarina e a bem mais área do que a de países como o Uruguai ou a Inglaterra. O número assusta, mas é apenas uma fração da cobertura florestal perdida no país. Os cinco séculos de história do Brasil têm sido, em grande medida, a crônica da destruição das nossas matas, a começar pela Mata Atlântica, que começou a ser explorada para a extração de pau-brasil e hoje conta com apenas 7% da dimensão original.
Crise diplomática
Nesta quinta-feira (22), Macron convocou, por meio das redes sociais, os países membros do G7 a discutirem a série de queimadas na floresta amazônica e classificou os incêndios criminosos de uma crise internacional.
"Nossa casa queima. Literalmente. A Amazônia, o pulmão do nosso planeta, que produz 20% do nosso oxigênio, está em chamas", disse o presidente francês na publicação.
Ele reproduziu junto ao texto uma foto da mata em chamas que tem pelo menos 15 anos, o que levou o presidente brasileiro a acusá-lo de ser "sensacionalista". "A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21", reagiu Bolsonaro no Twitter.
"Lamento que o presidente Macron busque instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais." Os desentendimentos entre os dois líderes se acirraram desde que o brasileiro ameaçou deixar o Acordo de Paris sobre o Clima e o francês reagiu prometendo barrar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul.