Um grupo de enfermeiros fez um protesto, nesta sexta-feira, na Praça dos Três Poderes, em Brasília. Além de defender o isolamento social como forma de combater o avanço do novo coronavírus, eles carregaram cruzes em homenagem a colegas que morreram em meio ao trabalho de enfrentamento à pandemia da Covid-19. O protesto silencioso terminou depois que apoiadores do presidente Jair Bolsonaro agrediram verbalmente os profissionais.
Mantendo distância entre um e outro e usando máscaras, cada enfermeiro segurava uma cruz em homenagem aos colegas mortos. Uma faixa pedia para que as pessoas fiquem em casa.
Minutos depois do início da manifestação, um grupo pequeno, que se apresentou como apoiador de Bolsonaro, chegou ao local e começou a gritar com os profissionais.
Enrolada em uma bandeira do Brasil, uma senhora gritou com uma das manifestantes que estava "lutando pelo país" e que, se os empresários param de trabalhar, as pessoas ficam "sem o seu salariozinho".
A senhora insinuou que uma das enfermeiras da manifestação não teria tomado banho:
— Vocês querem passagem para Venezuela e para Cuba? (...) Quando a gente sente o cheiro da pessoa, não passa um perfume, a gente entendo o que você é.
Um senhor gritou que os enfermeiros eram "esquerdopatas", que "sindicatos são gafanhotos" e que a campanha deles é "ridícula".
— Monte de analfabeto funcional. Vocês vão se envergonhar pelo que estão fazendo com as pessoas. Bando de genocida. Arrogantes — disse.
Em nota, o Sindicato dos Enfermeiros do Distrito Federal repudiou as agressões.
"O ato tinha como objetivo chamar a atenção para a enfermagem nacional. O protesto tinha três objetivos centrais: defender o isolamento social com base científica, homenagear os trabalhadores da enfermagem de todo o Brasil que morreram lutando contra a Covid-19 e mostrar a importância da categoria", disse o sindicato, acrescentando que o ato foi uma iniciativa da categoria.
O sindicato acrescentou que esses profissionais estão na "linha de frente contra o novo coronavírus". Segundo a organização, há mais de 2,3 milhões de enfermeiros trabalhando no enfrentamento à doença. "As atitudes tomadas pelos apoiadores do governo vão ao encontro de ideologias fascistas e antidemocráticas. Infelizmente, são embasadas pelas atitudes do Presidente da República que diversas vezes debocha das consequências da pandemia, desconsidera todas as recomendações e diretrizes sobre a importância do isolamento social ao combate do novo coronavírus", afirmou.