A última semana foi marcada pela polêmica envolvendo a atriz transexual Viviany Beleboni, de 26 anos, que desfilou crucificada em um dos trios elétricos durante a 19ª Parada do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais) em São Paulo. Ela que “encenou o sacrifício de Jesus Cristo”, em alusão ao sofrimento e preconceito que a população enfrenta diariamente. O assunto tomou o noticiário nacional e provocou um turbilhão de comentários nas redes sociais com opiniões diversas.
As entidades ligadas a defesa do segmento lamentam que a representação tenha sido má interpretada e associam a grande repercussão por conta de grupos religiosos contrários ao público. Para a militante da Secretaria Geral do Grupo Piauiense de Transexuais e travestis - GPTRANS, Maria Laura, a intenção da parada é manifestar e protestar por direitos.
“Ali estão pessoas que sofreram algum tipo de preconceito e nós encaramos o ato como um protesto e reivindicação de direitos, um manifesto, já que pouca de nós consegue se inserir no convívio social. Nós somos crucificadas sim por todos os lados. Mas algumas pessoas entenderam como forma de deboche, nós lamentamos que elas não tenham entendido o real sentido da representação dela”, declarou Maria Laura.
A fundadora e coordenadora de ações institucionais do grupo Matizes, Marinalva Santana, acredita que a ação foi uma tentativa de grupos contrários ao movimento LGBT como forma de chocar a população. “Essa é uma exposição feita de má fé por parte de grupos fundamentalistas, conservadores e religiosas que tentam colocar a sociedade contra a população LGBT por que tem obsessão em barrar nossos direitos, mas como não estão conseguindo, eles usam de todas as maneiras para nos atingir, usando, inclusive, de manipulação para nos atacar, pois eles compartilharem imagens que não eram da Parada Gay de São Paulo para chocar a população”, afirmou.
Após a intervenção, a atriz vem recebendo constante ameaças de morte e afirmou que uma “mensagem de amor, virou ódio” e quis apenas representar a dor e humilhação que o publico LGBT passa diariamente. O caso vai se tornar objeto de pesquisa acadêmica do Grupo de Pesquisa em Sexualidades, Corpo e Gênero (Sexgen) da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que estuda a compreensão da sexualidade de gêneros e desmitifica o preconceito e intolerância ainda existentes.
Piauí tem grande índice de intolerância e homofobia
O Piauí registrou 13 assassinatos de homossexuais no ano de 2014 e ficou como o segundo Estado do Brasil com maior número de mortes de gays (Confira Tabela). O Estado só perdeu para a Paraíba, como aponta o relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB), responsável por realizar esse censo há cerca de uma década. De acordo com Marinalva Santana, os dados do Disque 100 também revelam a intolerância e homofobia que o Estado vivencia com a grande quantidade de denúncias referentes a violação de direitos que recebe diariamente. No Brasil, foram registradas 326 mortes de gays no ano passado. Isso significa um assassinato a cada 27 horas, segundo o relatório do GGB.
Ainda segundo o estudo, nada menos que 28% dessas pessoas tinham menos de 18 anos quando foram assassinadas. Os dados ainda mostram que 163 das vítimas eram gays, 134 travestis, 14 lésbicas, 3 bissexuais e 7 amantes de travestis. Para Marinalva Santana é preciso investir em políticas públicas de proteção ao segmento, mas acredita que o mais importante ainda é a informação para combater o preconceito. “Com aumento da violência, nos não precisamos de políticas publicas para combater a desinformação. Se elas não existem a violência vai continuar e mais pessoas vão morrer”, afirmou.
Já Maria Laura, afirma que, os casos de violência contra o público são recorrentes por conta da violação de direito que sofrem. “Nós somos inferiorizados, somos tratados de forma debochada, não temos uma garantia de direito. Não podemos assumir uma postura de igualdade e temos sempre que nos manter em uma posição inferior, mas isso tem que acabar”, pontuou.
Estado lidera casamentos gays proporcionalmente
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) revelou que Brasil registrou 3.701 casamentos entre pessoas do mesmo sexo em 2013. O Estado de São Paulo foi o que mais realizou uniões – foram 1.945. O Acre foi o que teve menos registros, com apenas um casamento. O Piauí registrou 24 casamentos o que e considerado um número que coloca o Estado como líder em casamentos proporcionalmente em relação aos habitantes.
A união civil homoafetiva foi liberada pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em 2011, mas inicialmente houve resistência por parte dos cartórios em realizar o casamento ou converter uniões civis em casamento. Contudo, a situação mudou com a decisão do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), em maio de 2013.
Maria Laura conta que antes o órgão fazia todo o trâmite entre assistência social e Defensoria Pública para realizar os contratos de convivência e depois da decisão do STF os casais tomaram maior autonomia. Ela revela que as uniões entre pessoas do mesmo sexo são em sua maioria entre casais de mulheres. Em nível nacional a situação se repete com 52% dos casamentos entre lésbicas com idade media de 35 e 37 anos. Os homens casaram mais entre os 37 e 39 anos, aponta IBGE.
Dados de assassinatos do público LGBT no ano de 2014 no Piauí:
Data Cidade Gênero
04/01/2014 - Teresina - Transsexual
16/03/2014 - Teresina – Transsexual
16/04/2014 - Teresina – Bissexual
14/05/2014 – Bocaina - Gay
17/05/2014 – José de Freitas – Gay
09/06/2014 – São Raimundo Nonato – Gay
29/06/2014 – Teresina – Gay
18/07/2014 – Teresina – Transexual
17/08/2014 – Teresina – Gay
27/09/2014 – Teresina – Lésbica
17/10/2014 – São João da Barra – Gay
07/11/2014 – Teresina – Gay
07/11/14 – Teresina – Gay
Número de assassinatos no Piauí nos últimos 06 anos:
2009 – 02
2010 – 08
2011 – 06
2012 – 15
2013 – 10
2014 – 13
Fonte: Grupo Matizes