A Escola Municipal Professora Alcina Dantas Feijão, em São Caetano do Sul, no ABC, foi reaberta na manhã desta quarta-feira (28). O colégio ficou fechado por sete dias após um aluno de 10 anos atirar numa professora dentro da sala de aula e se matar em seguida. Os portões da unidade de ensino, que aparece bem colocada nas avaliações federais, foram abertos às 7h. Vestidos com camisetas brancas e segurando rosas e balões da mesma cor, os estudantes do 1º ao 3º ano do ensino médio, entraram no melhor colégio público do estado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
As cores claras foram uma maneira de homenagear Davi Mota Nogueira, o aluno morto, e a professora Rosileide Queiroz de Oliveira, que foi baleada. Os estudantes combinaram um ato silencioso e simbólico pela internet, por meio das redes sociais como o Facebook. Eles querem pedir paz e estão programando uma passeata após as aulas.
Poucos alunos foram à escola acompanhados dos pais. Sob os olhares dos jornalistas, que não puderam entrar na escola, os estudantes diziam estar abalados emocionalmente em retornar ao local da tragédia. Outros falaram ter medo de passar pela sala, corredor e escada onde ocorreu o crime.
?Minha filha está com medo de vir. Terei de convencê-la. Ela tem 12 anos e conhecia o Davi. Ela estuda à tarde e me contou que viu o garoto morto na escada. Está um pouco traumatizada, mas é preciso vir e enfrentar isso. Até procurei um psicólogo particular?, disse a operadora de telemarketing Josy Figueiredo, 40 anos, após ter acompanhado a entrada da filha mais velha, de 16 anos, na mesma escola nesta manhã.
?Nem sei como vou olhar para aquele corredor, aquela escada. Eu estudo pela manhã, o crime foi á tarde, mas o local onde a tragédia ocorreu é emblemático. Minha mãe ficou em pânico ao saber que o aluno atirou na professora e se matou?, disse a estudante Giovanna de Souza Carrara, de 15 anos, que segurava uma rosa branca. ?Atendi ao pedido pela internet. Acho que vou depositá-la ai dentro mesmo?.
?A rotina está diferente, mas estamos nos preparando para entrar na rotina escolar. Sei que tem psicólogos aí dentro para nos ajudar nisso?, disse Victoria Teodora, 15 anos. ?Não tem jeito, temos de enfrentar?, completou Vinicius Souza, 17 anos. Os dois seguravam balões brancos.
Segurança
Em entrevista coletiva durante a semana, a diretora da escola, Márcia Gallo, afirmou que nada mudaria no esquema de segurança da escola. Apesar disso, guardas-civis municipais estiveram presentes na frente do colégio durante a entrada dos alunos.
?Eu acho que não dá para revistar quase mil alunos pela manhã. Acho que em nenhum lugar a gente está totalmente seguro, mas foi uma coisa isolada. Não veio ninguém de fora e atirou na professora. Foi um aluno daqui que fez isso e se matou. É preciso de paz entre nós alunos para que isso não ocorra?, disse Thainá Prado, 15 anos, que levou um arranjo de rosas brancas. ?Eu estou abalada emocionalmente, mas não posso desistir e não entrar. O duro será ver aquela escada?.
?Se for preciso abraçar os alunos, vamos abraçá-los. Se eles chorarem estaremos ao lado deles?, disse o psicólogo Sérgio Mayer, que coordena o grupo de apoio psicológico que a Prefeitura de São Caetano do Sul disponibilizou para dar amparo aos professores e alunos da escola.
Crime
Davi era estudante do 4º ano do ensino fundamental. Na tarde de quinta-feira (22), o aluno pegou a arma particular que o pai guardava em casa. Davi a escondeu dentro da mochila e entrou com ela na escola. O guarda-civil Milton Nogueira, de 42 anos, sentiu falta do revólver calibre 38 usado para fazer bicos como segurança. Foi até o colégio e perguntou aos dois filhos, o menor e o mais velho, de 14 anos. Na negativa deles, decidiu ir à delegacia dar queixa do sumiço, quando foi avisado por colegas de profissão que Davi havia atirado na pedagoga.
A versão oficial para a tragédia é que Davi pediu para ir ao banheiro e a professora deixou. Por volta das 15h, ao retornar à sala, o menino apontou a arma para ela, que estava de costas, e atirou no seu quadril. Mais de 20 alunos que estavam na classe viram a cena e se desesperaram. A mulher caiu sem saber o que a atingiu. Na queda, ainda fraturou o joelho esquerdo e ficou pedindo ajuda. O garoto saiu correndo, foi até a escada e disparou contra a própria cabeça. Os barulhos dos disparos chegaram a ser confundidos por outros estudantes com os sons de rojões explodindo.
A sala de aula onde ocorreu a tragédia será fechada. A ideia é transformá-la futuramente num espaço para leitura, reflexão sobre a paz, uma espécie de bliblioteca, com livros que tratem de temas amenos.
Investigações
Em busca de repostas, a delegada Lucy quer ouvir por volta das 10h desta quarta-feira, no 3º DP, os pais de Davi - Milton e Elenice Mota - e o irmão de 14 anos. Milton é dono do revólver calibre 38 usado pelo filho. Ele disse que guardava a arma num armário. O pai disse que havia sido a primeira vez que guardou a arma carregada com balas.
Milton poderá ser responsabilizado criminalmente por negligência por não ter conseguido impedir o filho de pegar o revólver que guardava em casa. Para o pai de Davi, o que ocorreu com a professora e seu filho foi uma fatalidade. Em entrevista ao G1, o pai de Davi afirmou no domingo (25) que não tinha explicação para aquilo. "A gente nunca vai ter resposta", havia dito.
Rosileide deve passar por uma nova cirurgia nesta quarta-feira, segundo informou a assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas de São Paulo Quando foi atingida no quadril pelo disparo, ela caiu e fraturou a patela do joelho, que foi imobilizada no dia e agora terá de ser fixada. Atualmente, Rosileide está internada em observação num quarto do hospital. Ela se recupera da cirurgia que retirou a bala que a feriu. Seu estado de saúde é estável. Ela não corre risco de morrer. Não há previsão de alta de quando será o dia que ela deixará o hospital.