Com atividades voltadas à promoção dos valores humanos, a Escola Espírita Professora Anália Franco transforma a vida de crianças em situação de vulnerabilidade social da comunidade Estaca Zero/Lagoinha, situada na zona rural de Teresina. Ao longo de 24 anos de existência, a instituição atua cuidando da educação de alunos de 3 a 5 anos de idade.
Para amenizar a pobreza dos moradores, o empresário Raimundo Nonato da Silva decidiu investir esforços no apoio à educação de crianças. Com recursos próprios, ele criou no dia 8 de fevereiro de 1998 uma instituição para servir como ferramenta de transformação social em uma área esquecida da capital piauiense.
“Aqui, as crianças só tinham acesso à educação com seis anos de idade, algo difícil porque de três a seis anos, elas estão em um importante marco de desenvolvimento. Eu quis investir no desenvolvimento moral, ético, ou seja, na cidadania. Hoje, 24 anos depois, vejo o resultado desse apoio na baixa taxa de violência na comunidade”, falou.
Todos os dias, as portas da escola são abertas para aproximadamente 30 crianças no turno da manhã. No espaço, que conta com duas salas de aula, banheiro, refeitório e área de lazer, meninos e meninas recebem, a partir de ações socioeducativas, a formação de valores éticos, morais e espirituais.
Atualmente, a escola é vinculada à Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), uma instituição filantrópica e beneficente que divulga os princípios do Espiritismo e proporciona assistência social às famílias carentes. Cinco voluntários se desdobram para garantir segurança, alimentação e educação das crianças da comunidade.
Em sala de aula, o currículo é organizado de forma interdisciplinar e atualizado conforme a Base Nacional Comum Curricular para a Educação Infantil (BNCCEI). Castigos, recompensas e modos autoritários de conduzir a educação de crianças são substituídos por afeto, disciplina e desenvolvimento da espiritualidade.
Todos os anos, a professora Mariza do Nascimento viaja a Goiânia para participar de uma capacitação sobre Educação Espírita. Seu salário e os custos da viagem anual são mantidos através de uma parceria dos que fazem o bem.
“É uma satisfação muito grande a gente conseguir colocar em prática nossos conhecimentos. Nós conseguimos formar cidadãos e ensinar o legado de Jesus para crianças e pais dos alunos”, falou.
Formando adultos justos e fraternos
Mariza do Nascimento explicou que a chave para ensinar os valores do espiritismo para crianças menores de cinco anos está nas aulas participativas, brincadeiras e ensinamentos do dia a dia. Nesse processo, toda a comunidade local se envolve, promovendo uma rede de relações pedagógicas e culturais.
Alcineide Rodrigues também é docente na Escola Espírita Professora Anália Franco. Com vinte anos de experiência em sala de aula, ela avalia que a prática pedagógica emoldurada na Filosofia Espírita ajuda na formação de adultos justos e fraternos.
“Eu tenho 20 anos de carreira e é a primeira vez que eu trabalho em uma instituição de caridade. É uma pedagogia diferente, com rotina de meditação, escuta, fala e conhecimento da doutrina espírita. Acho muito importante o ensinamento que ajuda a formar pessoas mais justas, boas e com valores”, falou.
Para além da sala de aula
A empresária Maria Alencar é uma das voluntárias que contribuem na manutenção dos serviços oferecidos pela Escola Espírita. Ela conta que a escola também vai além do seu serviço educacional.
“Além das ações de uma escola regular, montamos outros benefícios. O senhor Raimundo já trabalha há muito tempo e conhece várias pessoas que acabam fazendo a doação de cesta básica, por exemplo, que imediatamente distribuímos para as famílias das crianças”, contou.
Além disso, todos os domingos os voluntários da Escola Espírita cozinham e distribuem sopa na comunidade. A ação alivia a carência e conforta famílias que se sentem desamparadas. “A sopa é produzida na cozinha da escola. Eu criei uma receita de sopa e a gente vai organizando os ingredientes no final de semana”, explicou.
O objetivo do empresário Raimundo Nonato é ampliar o espaço da escola e também proporcionar mais acolhimento à comunidade. Recentemente, a instituição mudou de sede para ficar perto do aglomerado de casas da comunidade Estaca Zero.
Ao lado da escola, Raimundo José comprou um terreno com o intuito de construir o Centro Social de Desenvolvimento, um projeto que vai ofertar cursos profissionalizantes a adolescentes e adultos.
“Está acontecendo uma mudança positiva porque agora nós estamos dentro da comunidade. A gente observa uma carência muito grande das famílias, a falta de emprego, o alcoolismo que está atravessando gerações e vamos fazer algo para mudar”, falou.
Maria Alencar acredita que expandir um espaço de aprendizagem vai propiciar desenvolvimento social da comunidade estaca zero.
“Nós queremos profissionalizar os jovens que hoje não trabalham, promovendo cursos profissionalizantes para eles e para os pais deles. O objetivo é inserir as pessoas dessa comunidade em um emprego formal”, explicou.
Inspiração no legado de Anália Franco
A escola carrega o nome de uma pedagoga, escritora, musicista, feminista, republicana e abolicionista com uma trajetória marcada pela luta em defesa dos excluídos.
Anália Franco quebrou paradigmas do século dezenove ao defender direitos das mulheres e abrigar crianças negras órfãs. Foi ainda a primeira mulher influente a se declarar publicamente kardecista, religião que seguiu até a morte, em janeiro de 1919, vítima da gripe espanhola.
Mais de um século depois, o legado permanece vivo em centenas de estabelecimentos educacionais criados por ela, ou por pessoas que se inspiraram no exemplo dela, como Raimundo Nonato da Silva.