Especial 160 anos: Teresina por uma visão interior

Nas comemorações de aniversário de 160 anos da capital piauiense, moradores antigos de Teresina relembram como era a vida simples.

SEU JOÃO | “A cabeça da gente é como um livro, mas só quem lê esse livro é a gente mesmo” | Reprodução Jornal MN
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A melhor maneira de entender o passado e a história de um lugar é procurando resgatar da memória de quem viveu ali uma ou várias experiências.

Com um olhar singular, cada lembrança se torna fundamental para construir a história, que no final das contas, se torna a maior riqueza de uma cidade, que nem mesmo os livros ou aulas de história podem contar.

?Naquele tempo, praticamente todas as casas em Teresina - até mesmo as de alguns ricos - eram de palha e cerca de buriti. Não era nem arame; buriti que vinha do Maranhão.

Praticamente tinha dez casas de telha e três grandes vacarias na Avenida Frei Serafim. O Colégio das Irmãs era igual ao que é hoje, só que de dois andares. O Hospital Getúlio Vargas não existia.

O rio Parnaíba não tinha as coroas. Era cheio de ponta a ponta. Na Rua Paissandu era um riacho que no inverno era tanta água que precisava pagar para passar com água que batia na cintura.

Aqui só tinha um passeio a se fazer quando éramos rapazes: era ir até o Poti Velho, pois lá tinha uns engenhos e a diversão daqui era ir pra lá dia de domingo para beber garapa?, conta Aluísio Sampaio, que tem lembranças de Teresina desde 1918, quando chegou de Campo Maior à cidade, aos nove anos.

?A cabeça da gente é um livro, mas só que esse livro não é todo mundo que lê, só o dono?. João Assis de Sousa, 82 anos, é natural de Umirim, no Ceará, e veio a Teresina ainda jovem. No seu livro de memórias ele guarda importantes recordações da cidade que adotou como sua e diz jamais abandonar.

Mas é da região que ele diz ter ajudado a construir, que se lembra com mais detalhes: ?O primeiro conjunto que teve aqui na zona Sul foi na Tabuleta, onde antigamente tinha a antena da Rádio Pioneira. Eu morei na Macaúba em 1958 quando me casei. Depois me empreguei no Estado, vim trabalhar na Tabuleta e mudei para o Lourival Parente.

Nesse tempo não tinha Redenção, não tinha Albertão, era só favela que o povo invadia?, conta ele que entre 1962 e 1964 carregava água do rio Parnaíba até a sua casa e diz ter participado também da fundação do Conjunto Parque Piauí, inaugurado em 1967.

Com a expansão de Teresina pelas regiões Sul e Norte, outros meios de transporte se tornaram necessários, além do bonde, que tinha locomoção bastante limitada, circulando apenas pela região central da cidade.

Daquele tempo, a lembrança das fazendas de gado e dos engenhos de cana não são maiores que as pontuais recordações da modernização que aos poucos chegava.

?Quando eu cheguei aqui, me lembro que tinha um posto de aluguel de bicicleta lá na Piçarra e na Vermelha, em frente à capela de Nossa Senhora de Lourdes. Eu ainda aluguei. E as bicicletas eram importadas, vinham da Alemanha?, conta João Assis.

A zona Leste por sua vez, última zona a ser explorada, do outro lado do rio Poti, começou a fazer parte de Teresina através do acesso da região Norte do estado para a capital. É o que reforça Aluísio Sampaio.

?Quem vinha de Fortaleza, vinha por Pedro II e entrava em Teresina na passagem que hoje tem a Ponte da Primavera. Ali era a entrada da cidade. Depois passou a se entrar pela Piçarra, que foi o tempo em que a estrada chegou a Teresina.

Muitos anos depois foi que passou a se entrar pela Avenida Frei Serafim. Entrava pela Fazenda Noivos, que hoje tem o nome de Jockey Club. Não tinha nenhuma casa lá, só uma casa de fazenda que se transformou num bairro?, recorda.

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