O mundo compartilha um pesadelo: uma doença altamente transmissível começou a se alastrar e em pouco tempo infectou pessoas em todos os continentes. Para evitá-la, a principal maneira é o isolamento ou evitar aglomerações. Até então, em meio a tantas notícias ruins da Covid-19, problemas de saúde e tantas outras tragédias, que implicações práticas e psicológicas isso representa para a saúde?
"Estudos mostram que o impacto de como a notícia foi dada é pior do que a própria notícia. Os pacientes ficam com um sofrimento muito maior pela maneira como a notícia é dada", explica a Dra. Laís Záu Serpa de Araújo, professora de bioética da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (UNCISAL), que debruçou sobre o tema nesta quinta (6) no programa Notícias da Boa, na Rádio Jornal Meio Norte, apresentado pela jornalista Cinthia Lages.
Para a especialista, não é qualquer notícia que vai impactar negativamente a vida daquela pessoa. Mas este tipo de cena potencializa estímulos de estresse. "Diante da situação pandêmica, alguns pacientes têm recebido a perda de parentes e amigos para a doença - novo Coronavírus. Mais existem vários fatores que se configuram numa má notícia, uma amputação de um membro, perda de um ente querido, para as mulheres um aborto um espontâneo", esclarece.
Segundo explica a docente, existem profissionais, principalmente da área de saúde, que não estão preparados para dar más notícias. "A situação fica muito mais difícil e complicada", disse. Na visão dela, o mundo vive uma situação de tragédia social e é evidente a preocupação geral. "Estudos mostram que cerca de 86% da classe médica não foi treinada para dar más notícias. Existem protocolos de como dar essas más notícias e essa habilidade pode ser desenvolvida nos nossos estudantes de medicina. O que falta é um treinamento", explica.
Pessoas podem desenvolver estresse só por receber uma má notícia. Nos consultórios a dúvida dos pacientes devem ser sanadas da melhor maneira possível. "A qualidade da informação é fundamental, ela é a base da decisão e não podemos omiti-la com mentiras. A utilização de termos técnicos pelos profissionais é inadequada, ele deve usar termos que o paciente possa compreender e que ele tome uma decisão sobre ela", observa.
Segundo a pesquisadora, é preciso que as pessoas encontrem o equilíbrio necessário para enfrentar este cenário desesperador em que vivemos. Por outro lado, por mais que seja desconfortante e difícil “tapar o sol com a peneira”, receber uma notícia ruim como tempo de vida de um familiar requer empatia dos profissionais. Eles têm que criar estratégias para minimizar as notícias ruins.
"Imagina receber por telefone uma notícia do hospital que seu ente querido morreu? É preciso ter cautela. Uma delas é o desenvolvimento de uma virtude que é a empatia, se colocar no lugar do outro. A outra virtude é a simpatia, sentir junto do outro. É importante fazer com que o profissional se preocupe com com isso, é o correto e vai fazer de fato, bem ao paciente. Os pacientes quando recebem a notícia adequadamente conseguem absorver e superar aquela situação, eles aderem melhor ao tratamento", acredita.