Esperança e tragédia se misturam em resgate no morro do Bumba

Segundo os bombeiros, somente 10% da parte do morro do Bumba, em Niterói, atingida por deslizamento foi vasculhado

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Segundo os bombeiros, somente 10% da parte do morro do Bumba, em Niterói, atingida por deslizamento foi vasculhado

Pouco depois do deslizamento no morro do Bumba, no bairro Cubango, em Niterói (RJ), na noite de quarta-feira, a reportagem do Terra chegou ao local, para se deparar com um cenário de caos e desespero. Passava das 23h quando uma multidão aterrorizada encarava a montanha de lama, lixo e escombros em frente ao morro. Três horas antes, havia casas ali. Uma pizzaria, duas igrejas, uma creche, um campo de futebol, além de muitas residências. De 40 a 60, estimavam. Não havia informação. Reinava o desespero.

"A casa dos meus tios ficava ali. A das minhas primas logo ao lado", disse Gisele Pimenta apontando para um amontado de entulho. De repente, um sobrevivente foi resgatado. Era Sailor, o cão da família dos tios de Gisele. Pelos dourados cobertos de pó e barro, olhos catatônicos, rabo entre as pernas. Sailor estava em estado de choque, mas trazia algo precioso: esperança. "Se ele escapou, a minha família também está viva", afirmou Gisele.

O contingente de 80 bombeiros removido às pressas para o local trabalhava rápido. Conseguiram resgatar 23 sobreviventes. Antes de os bombeiros chegarem, diversas pessoas já haviam sido resgatadas pelos próprios moradores do local. No entanto, quanto mais o tempo passava, menor era a chance de que alguém fosse encontrado com vida.

Por volta das 2h, próximo à área onde Sailor foi encontrado, os bombeiros retiraram o corpo de uma mulher. Era uma das primas de Gisele. Abraçada em sua mãe, Gisele deixou o local. A esperança sucumbia.

Acompanhando as buscas durante toda a madrugada, o comandante geral dos Bombeiros, Pedro Machado, o subcomandante, José Paulo Miranda, e o secretário de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, Sérgio Cortes, concordavam em uma previsão dura, mas realista. Os indícios eram de não haveria mais sobreviventes.

"Diferentemente do Haiti, onde os escombros proporcionavam bolsões de ar onde as pessoas conseguiam sobreviver até 15 dias, a lama dos deslizamentos cobre tudo. Estamos trabalhando para isso, mas dificilmente encontraremos vítimas com vida", afirmou o coronel Pedro Machado.

A madrugada de quinta-feira seguiu em agonia. Bombeiros vasculhavam a área de terreno ainda perigoso, em meio a pancadas fortes de chuva que se repetiam. Quando chovia, as pessoas se recolhiam embaixo de uma pequena marquise. Olhos vidrados no trabalho dos bombeiros. O ronco das escavadeiras, o cheiro do lixo revirado, a água que não parava de escorrer pelas ruas, a lama. No horizonte, a escuridão absoluta, onde antes havia casas.

229 mortes

A chuva que castiga o Rio de Janeiro desde segunda-feira deixou 229 mortes - 39 no Morro do Bumba - e 161 feridos, de acordo com balanço do Corpo de Bombeiros atualizado neste domingo. A enchente alagou ruas, causou deslizamentos e destruição no Estado. Segundo o Instituto de Geotécnica do Município do Rio (Geo-Rio), desde o início do mês foi registrado índice pluviométrico entre 200 mm e 400 mm (dependendo da localidade). É o maior índice de chuvas na cidade desde que começou a medição, há mais de 40 anos. A média prevista pro mês de abril é de 91mm.

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