'Estou exposto e sei que corro risco de ser contaminado', diz coveiro

Ele trabalha há sete anos no Serviço Funerário de São Paulo.

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James Alan, de 34 anos, encarregado de quadra no Cemitério da Vila Formosa. Morador de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. Casado, dois filhos. 

(Por: Estadão)

Trabalho há sete anos no Serviço Funerário de São Paulo. Comecei como sepultador e hoje sou encarregado de quadra, uma espécie de líder dos sepultadores. Não tenho problema em ser chamado de coveiro. 

A verdade é que existe muita discriminação. Algumas pessoas pensam que é uma profissão suja. Ninguém quer ser coveiro. Mas somos pessoas higienizadas, a gente se cuida. Eu faço por que gosto e faço com carinho. Minha vida tem um propósito. Aqui é o lugar onde a gente mais valoriza a vida.

Este é o momento mais tenso desses sete anos. Nós fazíamos 40, 45 sepultamentos por dia. Hoje, fazemos 10, 15 a mais. O cuidado é redobrado por causa da pandemia. Redobrado e ao quadrado. Estou exposto e sei que corro risco de ser contaminado. Na maior parte do tempo, eu estou de luva e máscara, que são trocadas a cada duas horas. Quando tiro os EPIs, uso álcool em gel, que sempre está no meu bolso. Depois dos sepultamentos, eu evito contato com os objetos e não coloco a mão no rosto. Nossa rotina inclui bota, luva, máscara, uniforme e boné. O macacão é para o sepultamento.

Não levo minha roupa para casa. Eu guardo numa sacola, lavo e estendo para secar aqui mesmo. Temos um tanque. Antes da pandemia, eu juntava os uniformes e levava para minha mulher lavar em casa, separada das outras. A gente fica com receio de contaminação.

Não tem velório nos casos de covid. Os sepultamentos são rápidos, com poucos familiares. Um caso me chamou a atenção. Um rapaz veio para enterrar o pai. Três dias depois, ele voltou para enterrar outro parente. E ainda tinha outro internado. Todos com covid-19. Fiquei impressionado. Cada família reage de uma forma na hora do enterro. Tem gente que chora, grita ou canta. Se a gente se envolver emocionalmente com cada um, nosso lado psicológico não vai aguentar.

Hoje, estou identificado e não largo mais. Gisele, minha mulher há 18 anos, sempre me apoiou. Tenho dois filhos: o Gabriel, de 15 anos, e a Beatriz, de 8. Eu amo minha profissão, mas quero algo a mais para eles. Meu nome? Foi minha mãe, dona Maria, que escolheu. Ela era fã do James Bond. Eu sempre brinco: meu nome é James, não o Bond, mas o Alan. James Alan. 

Werther Santana/ Estadão 

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