Duas mulheres negras, mãe e filha, afirmam terem sido vítimas de racismo em um shopping de Teresina. Abordadas pelos seguranças do local, elas dizem que foram obrigadas a mostrar a identidade e depois informadas que não era permitida a entrada de adolescentes desacompanhados. A exigência do shopping é por conta dos constantes roubos, badernas e até vandalismo causados pelas famosas turmas dos "rolezinhos".
"Fomos barradas porque somos negras e usamos cabelo black power", disse a estudante universitária Ruana Cayre, que tem 19 anos.
A estudante registrou a ocorrência na Delegacia de Repressão às Condutas Discriminatórias e proteção dos Direitos Humanos nessa segunda-feira (26).
O crime aconteceu na entrada do shopping, na Zona Leste da capital. Por meio de nota, a empresa afirmou que não compactua com qualquer tipo de preconceito e busca sempre promover ações e campanhas voltadas para a igualdade e o respeito. O shopping ressaltou que a iniciativa busca incentivar denúncias e conscientizar as pessoas sobre os variados tipos de violência contra as mulheres.
"Ele pediu meus documentos e eu disse que era maior de idade. Minha mãe veio logo atrás e ele também pediu os documentos dela. Até aí tudo bem, mas comecei notar que muitas pessoas passavam e ele não pedia documento de ninguém. Eu estava sem a identidade e a gente poderia simplesmente entrar por outra entrada. Juliana, minha amiga, que é branca, não foi barrada. Meu amigo também não. Eles passaram e nós não", relatou.
"Meu amigo, que já tinha entrado, voltou e começou filmar. Mas chegou outro funcionário. Ele disse que fomos barradas porque éramos menores de idade, mas minha mãe já tinha mostrado o documento dela. Eu disse que iria chamar a polícia. Eu estava nervosa e muito constrangida. Por coincidência, todos que entravam eram brancos. Se passaram uns 10 minutos e eu questionando tudo aquilo", lembrou.
A estudante relata que um terceiro funcionário entrou na história, chamou os dois que já estavam envolvidos e falou para que eles parassem de bater boca.
Ruana diz que chorou bastante com a situação e conta que mesmo já tendo sofrido atos de discriminação, considera aquele como o pior de todos, pois foi um constrangimento público.
A estudante disse que irá acionar a Justiça e que não vai se calar diante do ocorrido. Ela relata que sua mãe já passou por algo parecido há 23 anos e que agora está revivendo o passado, mais um fato que a motiva a levar o caso para a via judicial.
"Estou decidida com relação a isso, porque quanto mais naturalizamos situações assim, pior fica. Vão dizer que é vitimismo. As pessoas têm que saber que é crime. Eu luto porque não quero mais passar por isso. Me dizem para deixar para lá, mas sou eu que vou dormir com meu constrangimento, com minha revolta”, finalizou.