Há pelo menos quatro anos, a população que depende do transporte público de Teresina enfrenta dificuldades para seguir suas rotinas de trabalho e estudo. A crise no sistema se arrasta com greves, inúmeras paralisações por parte de motoristas e cobradores e com um número insuficiente de 270 veículos para atender os usuários.
Com a implantação do Inthegra, no ano de 2018, a extinção de linhas importantes para mobilidade de passageiros residentes em zonas afastadas da cidade agravou a situação que já era precária.
Na terça-feira (24), durante uma reunião com vereadores no plenarinho da Câmara Municipal de Teresina, o vice-presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), Pedro Victor da Silva, disse que os universitários são obrigados a sair antes do término das aulas para não perder o ônibus. Esse problema se estende desde 2020.
"Na Universidade Federal do Piauí (UFPI), os ônibus passam lotados. No campus, temos uma linha de 8h às 18h e que não atende o aluno que tem aula 20h ou até 22h.
A realidade da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) é ainda pior, os terminais estão desativados e deixaram de existir as linhas de ônibus que passavam na rua da instituição. Em quase toda a cidade, os últimos ônibus passam por volta das 22h e quase não há transporte no final de semana. Como fica esse público que precisa estudar?”, pergunta Pedro Victor.
A fala do vice-presidente da Ubes corresponde ao dia a dia de inúmeros estudantes que sofrem as consequências da má administração de um direito social garantido pela Constituição Federal, o transporte público. Aluno do curso de geografia da UFPI, Marcos Victor Nunes mora no município de Timon, cidade maranhense localizada no entorno de Teresina. Ele estuda no período noturno e disse que todos os dias volta para casa de moto por aplicativo.
“O último ônibus pra Timon é às 18h. Então, pela noite, eu volto de Uber Moto para casa”, falou. Para evitar altos preços por viagem, Marcos precisa solicitar uma corrida antes do final da aula. “Ficou acordado para o professor liberar os alunos mais cedo, tipo tipo umas 20:30, porque fica muito tarde para voltar para casa e o Uber fica caro”, relatou.
Em média, Marcos desembolsa R$ 113,50 com transporte, um valor que seria mais baixo se o sistema de ônibus funcionasse.
A estudante Andressa Sousa fez o mesmo acordo. Ela paga duas disciplinas no período noturno, que vai até 22h. "Eu preciso estar na parada para pegar uma carona às 21h. Eu não posso pedir para à pessoa que faz esse favor para esperar, e nem tenho como pagar um valor de um carro por aplicativo para voltar para casa. O jeito foi conversar com meu professor e também repassar isso para os meus colegas. Não posso trancar a disciplina, é péssimo, mas está dando certo assim", conta.
Assim como os estudantes, os trabalhadores estão insatisfeitos com a falta de transporte público. A nutricionista Rafaela Lira mora na zona Norte e trabalha no bairro Jóquei, zona Leste da capital. Diariamente, ela enfrenta uma batalha para voltar para casa.
“Na praça do Fripisa [Centro] não tem ônibus depois das 21h. Nas paradas do Shopping Riverside, tem o Assembleia [linha de ônibus] às 20:30 e 22:20, antigamente tínhamos ônibus antes das 22h, mas agora não tem mais”, falou.